Todos temos visto «super-dotados» a surgirem entre nós. Em alguma área percebem mais do que os outros. Pode ser na matemática ou nas línguas; na filosofia ou na música; podem ter alguns retalhos de «cultura geral». Podem até ser estrategas militares, como Joab - mas hoje já há menos tendência para isso!
Estes «super-dotados» costumam ser uma presença crítica em todos os momentos. Temo-los visto nas classes da Escola Dominical, por exemplo. Quando se está a falar nos assuntos básicos da fé, ficam «enjoados»: mas, quando se fala sobre temas da actualidade, acham que a conversa é pouco actual ou científica. Interiormente ressentem furiosamente qualquer tentativa de um professor ou pastor querer saber como é que vai a sua relação com Deus – mas têm bastante jeito para usar ironias que permitem fugirem ao incómodo do desafio.
Muitas igrejas evangélicas não conseguem lidar com o embaraço da presença de elementos que se consideram, ou são considerados «super-dotados».Provavelmente a melhor lição que alguém poderia dar a estes seria mostrar com argumentos sólidos que são bastante «infra-dotados» em alguma outra área, sem ser naquela da sua especialidade! Mas normalmente ninguém tem coragem para lhes dar uma lição destas...
Joab é uma pessoa desse tipo. Como chefe do exército, tem um currículo impressionante de sucessos brilhantes. Às vezes tem também a lucidez e a coragem para repreender, e com razão, o próprio rei David: considera 2 Sam. 19:5-7, por exemplo. É ele que consegue o que parece impossível – a reconciliação do rei com o seu filho, Absalão.
Mas reconcilia o filho com o pai - e depois termina por matar o filho! Quando David manda a todos terem misericórdia de Absalão mas este fica pendurado pelo seu cabelo num carvalho, Joab é quem o mata a traição. E, como em última análise gosta mais de si próprio do que do rei, ou mesmo de Deus, ocupa os seus últimos dias num complot, ao lado de Adonias, contra David e Salomão (cf. 1 Reis 2).
Termino com uma observação traduzida da «Life Application Bible», que me parece dizer quase tudo:
«A vida de Joab ilustra os resultados desastrosos de não termos nenhuma fonte de direcção fora de nós próprios. O génio e o poder são auto-destrutivos sem a orientação de Deus. Só Deus nos pode dar a direcção que precisamos. Por essa razão, Ele tornou disponível a Sua Palavra, a Bíblia, e está disposto a estar presente pessoalmente na vida daqueles que admitem a sua necessidade dEle».
Aqui, na minha opinião, foi dito quase tudo. Diria que o crente, e de maneira especial aquele que tem dons excepcionais em alguma área, precisa de ter um mentor espiritual também. Uma pessoa que tenha a paciência para o ouvir quando está a falar acerca do que percebe e que tenha a frontalidade para o repreender muito directamente quando está a tentar ser a sua própria «fonte de direcção». Sobretudo quando ele quer falar acerca de coisas que percebe pouco – mas que podem ser na realidade as mais importantes da vida.
Para os «super-dotados» que têm um mentor assim, torno-me mais optimista!
16 março 2009
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1 comentário:
Uau... Realmente, uma análise muito interessante de Joab, mas sobretudo dessa situação nas igrejas.
Achei particularmente interessante a enfâse na necessidade de mentores.
A igreja católica tem uma tradição longa de direcção espiritual. Penso que, enquanto evangélicos, temos reconhecido apenas o lado negativo disto, na submissão cega à autoridade; mas há um aspecto pastoral muito interessante e profundo nos clássicos sobre a vida religiosa que, julgo eu, poderá ser resgatado com proveito.
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