E, agora, a parte financeira!
Acontece que a nossa família tinha uma característica que complicava ainda mais a situação. A minha esposa, sentindo-se também vocacionada para o ministério na igreja, e tendo uma parte indispensável nele, não recebia salário. O meu salário teria sido suficiente para uma pessoa. Numa altura, perante as pressões, a Celeste aceitou uma colocação numa Escola próxima, para ajudar de maneira ao «barco» não se afundar.
O facto é que a experiência não correu bem – nem a nível da escola, nem a nível da família. Antes os filhos podem ter desejado estar só com o pai: depois perceberam que o pai, envolvido em muito trabalho e ausente uma parte do tempo no Seminário, não podia dar-lhes o apoio que precisavam.
Durante um tempo valeu-nos o produto da venda de uma propriedade, que tinha vindo da herança dos meus pais. Valeu-nos durante o tempo todo o valor que recebia pelas aulas que ministrava no Seminário Teológico Baptista. Valeu-nos também o facto de amigos que recebiam cartas circulares nossas – uma vez que éramos associados (isso é, sem sustento certo) da Missão Cristã Europeia – enviarem ofertas ocasionais. Normalmente era num momento de grande aperto que chegavam estas ofertas, e de uma forma inesperada. Valeu-nos também as pessoas na igreja (mesmo aquelas que passaram a ser «da oposição») nos oferecerem alimentos da sua lavra.
É verdade que os filhos se queixavam do facto de não terem o nível de vida que os seus colegas tinham. Na nossa família também eram feitas as habituais queixas, pela nossa roupa não ser «de marca»! Por outro lado valorizavam férias em família, no campismo, privilégio que muitos dos seus colegas não desfrutavam , mesmo em casos em que os pais ganhavam muito mais. (Uma vez as nossas férias, no parque de campismo de Góis, foram perturbadas por notícias da igreja recebidas por telefone – quando a «oposição» aproveitou a altura para preparar um abaixo assinado, preparando para a reunião que iria exonerar-me. Mesmo assim, acredito que os filhos tenham gostado dessas férias – talvez mais do que nós!).
Sofreu-se muito aperto para eles poderem seguir com os seus cursos superiores! Mas seguiram. E todos, menos o último, já acabaram! E as propinas foram pagas, graças em parte também as bolsas que receberam.
Os temperamentos são diferentes. Acredito que alguns deles tenham sentido mais a experiência de aventura envolvida numa vida assim – e que outros preferissem na altura não ter que passar por esses apertos e peripécias. Mas acredito também que, depois, souberam dar mais valor àquilo que lhes vinha – do trabalho, mesmo do serviço evangélico de tempo integral (no caso de um dos quatro) – graças a essas dificuldades. Também a sua família manteve-se unida: muitas vezes viram grande sofrimento nas famílias em que os pais, mesmo ganhando muito melhor, tinham problemas de relacionamento ou se divorciavam.
Creio contudo que, hoje, se eles citarem Romanos 8:28, não será para manifestar uma atitude de revolta ou ironia. Alguns com mais entusiasmo do que outros – mas creio que todos poderão confirmar que este texto expressa a verdade que experimentámos!
24 fevereiro 2010
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