24 maio 2008

Charles Finney: Mordomia. O Poder de um Preconceito - e um Grande Sermão.

De um sermão de Charles Grandison Finney não esperava muito!


Finney, o evangelista americano, além de ser bastante antigo (do século XIX), não era conhecido como sendo extremamente arminano? A «Integrative Theology» de Lewis e Demarest, para mim uma obra de referência incontornável, chega ao ponto de dizer que Finney era quase pelagiano, negando a possibilidade de um homem herdar uma natureza pecaminosa dos seus ancestrais. Todo o que há de «calvinista» em mim reagia, dizendo que uma pessoa assim não me iria ensinar muito!


Então, quando vi que um sermão de Finney sobre a mordomia estava incluído numa colectânea chamada «Grandes Sermões do Mundo» (ed. Clarence E. McCartney, CPAD, 2003), pensei que os editores talvez não tivessem feito uma boa escolha. Pensei que talvez fosse encontrar mais uma exortação aos crentes para darem o dízimo – para subsidiarem as campanhas de evangelização da época, por exemplo. E pouco mais.....


Diz a introdução ao sermão que, numa altura, um pastor que tinha convidado Finney para pregar foi criticado porque tinha introduzido no púlpito «o notório Charles G. Finney, cujas blasfémias chocantes, sentimentos inusitados e repulsivos, e gesticulações teatrais e frenéticas, causavam horror nos que nutriam reverência pela religião ou pela decência». Mesmo na altura, então, havia muita boa gente que considerava Finney bastante fanâtico!


Não foi preciso ler muito para que todos os meus preconceitos caissem de um momento para outro. O sermão nem sequer menciona o dízimo – mas sim trata da mordomia na perspectiva de tudo o que Deus nos confiou:


«Que os homens são mordomos de Deus, é evidente pelo facto de Deus os tratar como tais, despedi-los a seu gosto e dispor as propriedades nas mãos deles, o que Ele não faria se não os considerasse meramente os Seus agentes e não os donos das propriedades».


Convida o ouvinte a pensar como é que encararia um empregado que não gastasse o seu tempo, os seus talentos e a influência que exerce ao seu serviço.


E a propriedade? O empregado, chamado a dar contas, pode dizer: «Eu não adquiri esta propriedade mediante a minha própria indústria?» Mas a resposta é que foi o dono, Deus, que lhe deu os seus talentos, os seus recursos e o seu sustento.


«Se o seu funcionário pega só num pouco do dinheiro que tu tens, o carácter dele acaba e ele é tachado de vilão. Mas os pecadores não pegam somente um dólar ou algo assim, mas tudo o que puderem o usam para si próprios».


O empregado terá que prestar contas da sua alma e da alma dos outros. Terá que prestar contas dos sentimentos que nutre e propaga. Terá que prestar contas das oportunidades que tem de fazer o bem.


«Percebes o erro da máxima de que os homens não podem cuidar ao mesmo tempo de negócios e de religião. Os negócios de um homem devem ser parte da sua religião... Todo aquele que advoga a máxima exposta acima é velhaco por confissão própria, pois ninguém pode acreditar que um empreendimento honesto buscado para a glória de Deus é incompatível com a religião. Em face disso, a objeção presume que tal indivíduo considera a sua actividade ou ilegal em si mesma, ou que ele a atende de maneira desonesta. Se isto é verdade, então ele não pode ser religioso enquanto atende os negócios».


Critica a noção habitual de instituições de caridade:

«Assim, as instituições para a promoção da religião são caridades de Deus, e não dos homens. O capital é de Deus, e é exigência dEle que seja gasto de acordo com as direcções dEle para aliviar a miséria ou promover a felicidade de nossos semelhantes. Deus, então, é o Doador, não os homens, e considerar a caridade como presente dos homens é defender que o capital pertence aos homens e não a Deus. Chamá-las instituições de caridade, no sentido em que são normalmente mencionadas, é dizer que os homens conferem um favor a Deus por eles lhe darem o dinheiro deles e o considerarem como objecto de caridade».


Desmascara a desculpa dos prósperos da sua época de que pretendem acumular para deixarem parte à igreja. («Que testamento! Deixar para Deus a metade da propriedade que é dEle próprio»). Desmascara a desculpa de que pretendem deixar dinheiro para os filhos («Então como é que ousas tomar o dinheiro de Deus e juntar para os teus filhos, enquanto o mundo está afundando para o inferno?»). Devemos tentar dar aos nossos filhos a melhor educação possível e suprir as suas verdadeiras necessidades. Se quisermos que, além disso, vivam no luxo ou no ócio, estamos a arruinar a nossa própria alma e a deles.


Aqui dou só um resumo e algumas citações – de um sermão que, para mim, era dos melhores que conhecia (Calvino também tem alguns muito bons sobre este tema – especialmente os sobre 2 Coríntios!). Tenho a impressão que a mesnagem de Finney deve ter sido difícil de ouvir. Não me admiro se alguns «bons cristãos» da sua época não tenham saído indignados da igreja – ao ouvir palavras proféticas que tinham tanto a ver com o seu dia a dia!


Mas creio que a pregação – se vai ser autêntica e usada por Deus – terá sempre estas características, confortando o coração de alguns e, ao mesmo tempo, suscitando muitos inimigos. Como aconteceu com os profetas e com Jesus!


E fiquei, também, com alguma vergonha de ter permitido que os meus preconceitos me fizessem pensar que, de um pregador como Charles Finney, não teria muito a aprender!

10 maio 2008

Quem é levado - e quem fica atrás?

Pense um momento no conhecido texto de Mateus 24:40-41 que dia que, estando dois no campo, um será levado e o outro deixado. E, estando duas moendo no moinho, será levada uma e deixada outra.


E, agora, responda a uma pergunta simples: o que é levado (v.40) e a que é levada (v.41) são os crentes ou os descrentes? Obviamente, vai dizer, que são os crentes. Se eu sugerir o contrário vai acusar-me de ser liberal, herege ou ainda pior..... Então Deus iria levar descrentes e deixar ficar crentes aqui na terra?!


Agora é altura de ler o texto novamente, no contexto. Com quê é que Jesus está a comparar esta situação de mudança repentina? É com os dias de Noé. E, de facto nesse relato, o mundo descrente que comia, bebia, casava e dava em casamento, foi todo levado pelas águas do dilúvio. Ficaram os crentes – a família de Noé na arca. Foram eles que povoaram a terra depois! Agora pense novamente na sua interpretação das palavras de Jesus!


A verdade é que o ensino de 1 Tessalonicenses 4:13 -18 sobre o arrebatamento dos crentes talvez não tenha muito a ver directamente com o ensino de Mateus 24:40-41. O célebre exegeta e pregador, John MacArthur (conservador e mesmo dispensacionalista!), diz que este texto de Mateus não é de arrebatamento mas sim de julgamento.


Vamos supor que somos dispensacionalistas. Neste caso acreditamos que o Senhor virá nos ares para arrebatar a sua igreja, haverá sete anos de tribulação. Depois Jesus virá com os crentes para instaurar o reino milenar na terra. No fim do milénio haverá o julgamento final. E o estado final seguirá – novos céus e nova terra em que moram a justiça. Assim muito resumidamente! Se somos pre-milenistas mas não dispensacionalistas, acreditamos que o arrabatamento será como se fosse uma breve saída dos súbditos para encontrar o rei e voltar com Ele, para o reino milenar que Ele estabelecerá na terra. Depois no fim haverá o julgamento final e novos céus e nova terra. Se somos amilenistas ou pós-milenistas, achamos que os novos céus e nova terra se seguirão imediatamente ao julgamento final.


Em todos estes casos, o ensino bíblico frisa a importância desta terra nos propósitos finais de Deus! De onde é que vem então a estranha ideia de que o destino final do crente é só o «céu»? A ideia de que o Seu propósito é retirar-nos de um mundo condenado para um tipo de paraíso aéreo que não tem nada a ver com a criação que Ele fez aqui? De onde vem a estranha preponderância, nas expressões de esperança de evangélicos, de referências à imortalidade da alma, com aparente desinteresse na doutrina que é preponderante na Bíblia – a doutrina da ressurreição do corpo?


Não será que a tradição cristã há séculos está presa a um platonismo subjacente de que não se consegue libertar?


Este platonismo pode levar-nos até ao ponto de ler nos textos o contrário daquilo que estão realmente a dizer – como é o caso no texto de Mateus aqui a ser considerado! A exegese aqui não foi «descoberta» por mim mas sim encontrada num livro publicado em 1984 (“The Transforming Image” de Walsh e Middleton, publicado IVP). Outros comentários consultados tendem a confirmar – ou pelo menos a não desmentir - a ideia.


Leia o texto mais uma vez, se precisar. E reflicta na afirmação da Bíblia de que Deus, após o julgamento final, desenvolverá um plano para o futuro, com um universo material purificado e transformado. Com os crentes de todos os tempos para o cuidar e cultivar, sob a Sua orientação! Talvez isto o ajude a tratar a terra e os seus recursos com mais respeito .... mesmo agora.


Digam o que acham...!



05 maio 2008

Material do André Campos, do mini-retiro do dia 19 de Abril

Espiritualidade a baixo preço…


  • Mar 11:15 Chegaram, pois, a Jerusalém. E entrando ele no templo, começou a expulsar os que ali vendiam e compravam; e derribou as mesas dos cambistas, e as cadeiras dos que vendiam pombas;


  • Mar 11:16 e não consentia que ninguém atravessasse o templo levando qualquer utensílio;

  • Mar 11:17 e ensinava, dizendo-lhes: Não está escrito: A minha casa será chamada casa de oração para todas as nações? Vós, porém, a tendes feito covil de salteadores.

  • Mar 11:18 Ora, os principais sacerdotes e os escribas ouviram isto, e procuravam um modo de o matar; pois o temiam, porque toda a multidão se maravilhava da sua doutrina.


  • Espiritualidade

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.


Dimensão da pessoa humana que traduz, segundo diversas religiões e confissões religiosas, o modo de viver característico de um crente que busca alcançar a plenitude da sua relação com o Transcendente. Cada uma das referidas religiões comporta uma dimensão específica a esta descrição geral, mas, em todos os casos, se pode dizer que a "espiritualidade" «traduz uma dimensão do homem, enquanto é visto como ser naturalmente religioso, que constitui, de modo temático ou implícito, a sua mais profunda essência e aspiração» (Ref. George Brown - "Spirituality: history and perspectives").


  • O leitor entende que o seu envolvimento no culto público deve ser cada vez mais facilitado, «rentabilizando» o tempo de maneira a poder cumprir cada vez mais obrigações religiosas em cada vez menos tempo?


  • Aprecia pregadores ou pastores «abertos» que não se queixam perante os seus lapsos e descuidos, a sua falta de pontualidade e a sua falta de reverência nos actos religiosos, tentando ser o mais «facilitadores» possível?


  • Prefere um ambiente religioso que o faça «sentir-se bem», e que atrai muitos visitantes, em comparação com um em que o pregador o «incomoda» com temas como o pecado e o arrependimento – temas estes que podem fazer com que não se sinta tão bem?


  • Acha que uma pessoa que agisse no espírito deste jovem rabí teria alguma razão para denunciar atitudes no movimento evangélico actual que denotam um espírito comercial?

  • Mal 1:1 A palavra do Senhor a Israel, por intermédio de Malaquias.

  • Mal 1:2 Eu vos tenho amado, diz o Senhor. Mas vós dizeis: Em que nos tens amado? Acaso não era Esaú irmão de Jacó? diz o Senhor; todavia amei a Jacó,

  • Mal 1:3 e aborreci a Esaú; e fiz dos seus montes uma desolação, e dei a sua herança aos chacais do deserto.

  • Mal 1:4 Ainda que Edom diga: Arruinados estamos, porém tornaremos e edificaremos as ruínas; assim diz o Senhor dos exércitos: Eles edificarão, eu, porém, demolirei; e lhes chamarão: Termo de impiedade, e povo contra quem o Senhor está irado para sempre.

  • Mal 1:5 E os vossos olhos o verão, e direis: Engrandecido é o Senhor ainda além dos termos de Israel.

  • Mal 1:6 O filho honra o pai, e o servo ao seu amo; se eu, pois, sou pai, onde está a minha honra? e se eu sou amo, onde está o temor de mim? diz o Senhor dos exércitos a vós, ó sacerdotes, que desprezais o meu nome. E vós dizeis: Em que temos nós desprezado o teu nome?

  • Mal 1:7 Ofereceis sobre o meu altar pão profano, e dizeis: Em que te havemos profanado? Nisto que pensais, que a mesa do Senhor é desprezível.

  • Mal 1:8 Pois quando ofereceis em sacrifício um animal cego, isso não é mau? E quando ofereceis o coxo ou o doente, isso não é mau? Ora apresenta-o ao teu governador; terá ele agrado em ti? ou aceitará ele a tua pessoa? diz o Senhor dos exércitos.

  • Mal 1:9 Agora, pois, suplicai o favor de Deus, para que se compadeça de nós. Com tal oferta da vossa mão, aceitará ele a vossa pessoa? diz o Senhor dos exércitos.



  • Em que medida aceita os argumentos usados a favor de certas práticas no meio cristão, que são essencialmente comerciais: «dá resultado ..... as pessoas gostam.... as igrejas que fazem assim têm um grande crescimento numérico»?

  • Mal 1:10 Oxalá que entre vós houvesse até um que fechasse as portas para que não acendesse debalde o fogo do meu altar. Eu não tenho prazer em vós, diz o Senhor dos exércitos, nem aceitarei oferta da vossa mão.

  • Mal 1:11 Mas desde o nascente do sol até o poente é grande entre as nações o meu nome; e em todo lugar se oferece ao meu nome incenso, e uma oblação pura; porque o meu nome é grande entre as nações, diz o Senhor dos exércitos.

  • Mal 1:12 Mas vós o profanais, quando dizeis: A mesa do Senhor é profana, e o seu produto, isto é, a sua comida, é desprezível.

  • Mal 1:13 Dizeis também: Eis aqui, que canseira! e o lançastes ao desprezo, diz o Senhor dos exércitos; e tendes trazido o que foi roubado, e o coxo e o doente; assim trazeis a oferta. Aceitaria eu isso de vossa mão? diz o Senhor.

  • Mal 1:14 Mas seja maldito o enganador que, tendo animal macho no seu rebanho, o vota, e sacrifica ao Senhor o que tem mácula; porque eu sou grande Rei, diz o Senhor dos exércitos, e o meu nome é temível entre as nações.

  • Malaquias é escrito já no pós-exílio (cerca de 100 anos após o retorno dos judeus à Palestina), estiveram cerca de 70 anos debaixo do domínio da Babilónia e após esse período houve uma mudança radical na cultura judaica que até aí eram uma comunidade agro-pastoril, pois froam expostos a uma cultura completamente diferente, aliás era essa mesmo a intenção do império Babilónico.

  • É aí que este livro de Malaquias é escrito e de certa forma isso é o que nos acontece hoje. Estamos expostos a uma cultura globalizada que nos esmaga muitas vezes e nos pressiona de uma maneira tremenda. A informação chega de qualquer lugar do mundo a qualquer lugar do mundo em instantes. Por isso nós estamos expostos a uma cultura global. Hoje temos a Internet, os telefones móveis, falamos para qualquer lugar do mundo a qualquer hora em instantes, enviamos ficheiros, fotografias, “quase” em qualquer lugar do mundo. A chamada experiência televisiva está a mudar o paradigma, dentro de algum tempo (muito pouco aliás) vamos ver televisão onde quisermos, os “nossos” programas, a televisão feita à medida de cada um, e a interactividade já chegou à televisão.

  • A igreja sofre também o impacto da cultura e das pressões e isto reflecte-se na vida espiritual e no comportamento religioso dos nossos dias. A igreja nos nossos dias tornou-se utilitarista, ou seja, funciona quando tem para nós uma utilidade, um fim a atingir.

  • O “Homem” dos nossos dias vive o desencanto, a nível humano, a nível profissional, a nível político, a nível relacional… parece que tudo falhou e aí começamos a viver mais no sentido prático, viver a vida da melhor maneira possível, deixamos de lutar, e vivemos o cristianismo (a vida cristã) da mesma forma. Queremos aquilo que nos dê satisfação imediata e a um custo o mais baixo possível, com menos problemas possível, menos dificuldades. Então tudo o que nos traga o melhor é bem-vindo.

  • Passamos a funcionar numa relação cliente-fornecedor. Deus é o fornecedor e nós os clientes, e hoje em dia vemos cada vez mais o povo de Deus a comportar-se como meros clientes. E qual é a lógica do cliente, o cliente procura o melhor serviço pelo menor preço, com melhor conforto, com melhor acessibilidade.

  • Para quê oferecer o melhor para Deus, se eu posso oferecer qualquer coisa. No V.7-8 do capítulo 1 de Malaquias temos exactamente esta ideia de que Deus como fornecedor dava o que precisavam e aí davam o mínimo para Deus. Perderam o sentido relacional de Deus como Pai, como Senhor.

  • As pessoas de hoje em dia também não conhecem mais o coração de Deus como Pai. Têm uma visão de Deus como utilitário, Ele é uma “força” que nos proporciona aquilo que necessitamos em troca de um culto meramente “religioso”.