19 janeiro 2010

Instalações - ou um obreiro?

Parece que as novas instalações tinham mesmo que ser feitas! E parece que o pastor tinha que ficar mais um tempo em Caldas da Rainha!

Mas, para poder servir o Senhor, que nos dirigia neste sentido, o pastor chegou a emprestar, sem juros e sem data prevista para a amortização, todo o restante valor do que tinha recebido da herança dos pais, sendo este dinheiro administrado, temporariamente, por pessoas que o acusavam de estar a desviar fundos da mesma igreja! Note-se bem: emprestei à igreja, sendo Jesus o Senhor dessa igreja – não emprestei a indivíduos que, temporariamente, estavam na liderança.
Também foi possível a igreja receber um empréstimo da Convenção Baptista Portuguesa, este com juros e prazos estabelecidos para a amortização, e depois um reforço do mesmo empréstimo.

Igrejas e indivíduos a quem dirigíamos cartas apelando por ajuda surpreenderam-nos com a sua generosidade. Poucos deles eram do estrangeiro: o valor que entrou de dentro do país deve ter sido bem mais do que 90% do valor total. Num ano só (1996, se não me engano) entraram ofertas de mais de 3.000.000 escudos (o equivalente de 15.000 euros) para o nosso fundo de obras.

Mesmo assim, as entradas mensais não estavam a cobrir bem as despesas – facto este que o tesoureiro queria usar para que a igreja decidisse despedir o pastor. Cheguei a prescindir do salário de um mês inteiro, confiando na provisão do Senhor de outras maneiras, para que a situação não desequilibrasse. O tesoureiro naturalmente não agradeceu – a vontade dele era que a situação desequilibrasse mesmo!

A igreja agora decidiu que a residência pastoral seria prioritária. Mantivemos esta posição, uma vez que se tratava de uma decisão tomada em assembleia de igreja. Mas aqueles «líderes» que tinham vindo a desejar a nossa saída tentaram, particularmente com o empreiteiro, trocar novamente a ordem de prioridades para que o salão de cultos fosse terminado primeiro. Quando chegou a altura em 1998 de mudarmos para a residência, livrando-nos finalmente da renda pesada que tínhamos estado a pagar, a mudança estava a ser boicotada activamente e estava a ser realizada uma «campanha» de difamação, cujo ponto principal era que o pastor tinha desviado algum dinheiro que entrara para a igreja da Convenção Baptista. Em visitas aos crentes que se iam desencorajando com todo este ambiente, íamos tendo conhecimento de um activo duo de visitadoras que ia «adiante» de nós. Curiosamente uma delas era a mulher do tesoureiro e a outra a sua inseparável amiga «sem papas na língua»!

Como quem acusava o pastor de desvio de fundos era tesoureiro, era natural alguns membros da igreja acreditarem! Mas devo afirmar aqui que a acusação era totalmente falsa, não tendo eu feito nada que pudesse nem sequer remotamente ser considerado desvio.

Aproveitando uma altura de férias organizaram um «abaixo assinado», a ser votado em reunião extraordinária da igreja, exigindo a exoneração do pastor.

Tentativas feitas pelo Presidente da Direcção da Convenção Baptista de acalmar os ânimos não conseguiram nada. A assembleia realizou-se, moderada pelo mesmo Presidente da Convenção, e com um consultor jurídico (evangélico) presente para ajudar a resolver qualquer caso de dúvida. Perguntados quais eram os motivos do desejo de despedir o pastor, o cabeça do « movimento» respondeu que eram questões de dinheiro – o pastor tinha chegado a prescindir de um salário! Suponho que, implicitamente, estava a dizer que tinha agido assim para ocultar alguma outra anomalia, mas não foi capaz de apontar nada concreto. Aliás, confrontado com a campanha difamatória que ele e a mulher estavam a orquestrar contra o pastor, «virou o bico ao prego», dizendo que isso era invenção do pastor para os difamar!

Votos postais não foram admitidos – apesar de terem chegado alguns a favor da permanência do pastor. Colocou-se a questão se os votos da família do pastor que eram membros da igreja podiam ser contados – o consultor jurídico aconselhou que sim.

O voto, com maioria de um, foi a favor da permanência do pastor. Mesmo assim os derrotados elaboraram depois um processo judicial para impugnar os votos dos membros da família do pastor – processo este que, após muitas diligências, um outro Presidente da Direcção da Convenção Baptista, os convenceu a abandonar, a favor do testemunho da igreja.

Parece que as novas instalações tinham que ser feitas. E parece que o pastor tinha que ficar mais um tempo em Caldas da Rainha – muito embora, humanamente, pudesse ter desejado ir para qualquer outro lado!

12 janeiro 2010

Dava-nos jeito era um missionário...

O meu antecessor no ministério pastoral em Caldas da Rainha esteve aqui cinco anos. Além de ser um evangelista e doutrinador de reconhecido valor, tinha duas vantagens óbvias. Uma era que, sendo brasileiro, o português era a sua primeira língua. A outra era que, sendo missionário de uma Junta do seu país, tinha o seu sustento garantido, sem a igreja local ter que arcar com essa despesa. Só que, ao aceitar o trabalho de pastorear uma igreja local, deixara de se concentrar no ministério para o qual tinha sido enviado pela sua Junta – que era o trabalho pioneiro de implantação de igrejas.
Quando chegámos aqui, com os nossos quatro filhos, os responsáveis admitiram que o salário oferecido era insuficiente - mas disseram-nos que, logo que a residência pastoral se construísse (e essa era a primeira parte do projecto de construção do novo templo), estaríamos livres de ter que pagar renda de casa, o que iria tornar a situação mais sustentável.
Sendo eu estrangeiro, poder-se-ia pensar que tínhamos alguma garantia de sustento de fora – o que no caso não era verdade.
Não foi preciso estar aqui muito tempo para verificar que o plano ambicioso de construção do novo templo tinha mais a ver com cálculos baseados no crescimento numérico aparente - concretizado e previsto - do que com uma avaliação séria da condição espiritual da igreja. A igreja estava dividida por conflitos, e, salvas honrosas excepções, os seus membros tinham uma fraca noção de compromisso com o Senhor da igreja. Tinha quase cem «membros». Mas só foi preciso um trabalho de visitação pastoral de algumas semanas para percebermos que cerca da metade desses membros tinham pouca compreensão do significado de um compromisso com Cristo. Muitos de facto pareciam mais adeptos da pessoa do meu antecessor do que propriamente discípulos de Cristo.

Uma das primeiras situações que teve que ser revista foi o plano de se construir primeiro uma residência pastoral e, só depois, iniciar a construção do local de culto. Decidiu-se optar pela construção de tudo «no tosco» - o que significava que o terminar a residência pastoral iria demorar muitos anos! Mesmo assim as pessoas começaram a afastar-se pouco a pouco do projecto em si – compreendendo que ultrapassava de longe as possibilidades da igreja.
Tivemos que nos contentar com o pequeno salário inicialmente oferecido, sem perspectivas a curto ou a médio prazo de ficarmos livres do pagamento de uma renda (uns 40% desse valor)!
Como já referi, houve uma saída substancial de membros da igreja, incluindo a maior parte dos jovens, em 1993. Depois a igreja que permaneceu optou por adquirir uma outra propriedade mais pequena e fazer um plano mais realista. Mas, com pouco mais de cinquenta membros, a maioria deles com rendimentos baixos, mesmo esse plano, ao ser bem apreciado, tornou-se um desafio manifestamente ambicioso demais para as nossas possibilidades.
Ainda por cima, o pastor tinha duas desvantagens, que foram sendo cada vez mais sentidas por alguns: uma era que, sendo estrangeiro, não se conseguia livrar totalmente do seu sotaque. A outra, curioso paradoxo, é que não era missionário!
De facto eu pensava que era! Tinha vindo de outro país com um sentido de chamada para fazer o trabalho do Senhor: sentia-me «enviado» por Deus. Mas tornou-se óbvio que ser «missionário», na definição aceite aqui, significava «receber o sustento de fora». Ora, o que dizer de um estrangeiro sustentado pela igreja local – cujo salário, embora insuficiente, não permitia que a igreja acumulasse valores para o seu projecto de construção?

Não era de admirar que, no último domingo do mês, quando o tesoureiro da igreja me entregava o cheque para pagamento do salário, dissesse com frequência, primeiro com alguma candura, mas depois com vontade manifesta de me incomodar:

«Dava-nos jeito era um missionário!».

05 janeiro 2010

Estamos em 2010!

Este ano para a Igreja Evangélica Baptista de Caldas da Rainha é bastante especial. É o ano em que, segundo os planos estudados e concretizados ao longo dos últimos anos, as últimas amortizações dos empréstimos devem ser entregues para pagamento total das nossas novas instalações!
Ao mesmo tempo, quem participa num culto ou actividade social da igreja fica, creio eu, com a sensação de novidade. Famílias novas envolvidas – um trabalho interessante com crianças e adolescentes – novas iniciativas de diferentes tipos. Com 44 membros, a igreja não parece ter crescido muito – em espírito de serviço e testemunho credível perante o mundo à volta tudo mudou! A grande maioria das pessoas que agora estão connosco não conhecem as histórias que vou contar – ou conhecem-na só de ouvido – porque chegaram depois de 1998.
Vou começar em breve uma série de relatos que parecem pesados e tristes. Relatos que revelam por um lado a seriedade – não há dúvida de que as pessoas tinham o objectivo de que a igreja crescesse numericamente e lutaram por ele. Mas, por outro lado revelam mesquinhez, que conduz facilmente à maldade. Quando elas viram alguém que, julgando que tinha um ministério de parte de Deus, incomodava e não pactuava com erros instalados, julgaram esse alguém como sendo um elemento a mais, que devia ser removido para a «paz» e «conforto» de todos.
Mas tenho o prazer de vos contar a maneira bem alegre como a história terminou – antes de a acompanharem no pormenor! E de referir que nunca mais foi preciso o pastor prescindir do salário de um mês, depois dessa altura mais crítica em 1998!
Se o mérito aqui é de alguém, naturalmente é de Jesus, Salvador e Senhor da Sua igreja – que inclui a nossa e todas as que o invocam de coração sincero!