28 setembro 2010

Boca..... olhos....... e pés

Agora, terminando as minhas reflexões sobre o coração e Provérbios 4:23.....
Acho que guardar o coração tem muito a ver com gratidão. Quando estou a nortear as minhas acções por causa da opinião dos outros, há sempre algo de errado no que faço. Quando o que me move é gratidão, por aquilo que Deus fez por mim, é difícil não agir bem, acertando o Seu caminho.
Quem goste da comunicação e das ideias, e quer impressionar, quem goste de cultivar muito a sua imagem, dificilmente evita piadas pouco úteis ou ironias: Provérbios 4:24 chama isto a «tortuosidade da boca». Acho assustadoras as palavras de Jesus em Mateus 12:36: «de toda a palavra ociosa que os homens disserem, hão-de dar conta no dia do juízo». Quantas vezes não digo palavras destas?
Mas, quando estou agradecido de coração ao Senhor, não digo palavras ociosas. Nem consigo.
E os olhos (v. 25)? Como pastor, tanto me podem chamar a atenção as distracções da internet (quando estou à procura de comentários bíblicos - as cartas tarot, os sinais do zodíaco, imagens pornográficas, por exemplo) - como posso ser movido à inveja por notícias de uma igreja evangélica vizinha, de outra denominação, que está a celebrar mais baptismos mais do que a minha! Mas, quando «contemplo a rude cruz, em que por mim morreu Jesus», os meus olhos me irão induzir a cometer este pecados?
E os pés (v. 26)? Aqui diz «ponderar» .... não ouvir o «GPS» interno! Afinal ser guiado pelo Espírito de Deus pode ser uma atitude bem racional, e não só intuitiva.
E não se trata de uma voz do céu só individual: cabe perfeitamente o ouvir conselhos e reflectir de uma forma madura sobre a Palavra....
Estes serão alguns dos resultados de guardar bem o meu «coração».

08 setembro 2010

Vozes no coração e a voz de Deus

Já é a terceira vez que escrevo sobre temas relacionados com Provérbios 4:23 - sobre o guardar o coração.
Queria contestar a ideia habitual entre evangélicos de que este conselho tem a ver com uma noção apenas individualista da relação com Deus. Na nossa linguagem habitual dizemos que cada um de nós recebe Jesus «no seu coração»: a expressão não é bíblica - embora possamos argumentar, talvez, que a ideia o seja. Mas a ênfase da Bíblia é mais em Deus nos dar um «coração novo» (cf. Ezequiel 11:19-20), e isto tem mais a ver com a maneira de estar em comunhão com os outros, todos em obediência a Deus, do que com uma experiência apenas individual.
As «vozes» que se ouvem no nosso coração individual são muitas e variadas. Mas é o conselho dos outros que nos ajuda a situar-nos (Provérbios 15:22 diz «Onde não há conselho, os projectos sãem vãos, mas com a multidão de conselheiros, se confirmarão»)e o que é, realmente, o conselho do Senhor permanece (19:20-21).
Uma «voz» que muitas vezes fala alto é a voz da ambição pessoal. Pode prometer um futuro brilhante a um crente jovem, por exemplo. E ele toma essa voz como a voz de Deus - e a voz dos que aconselham um atitude de humildade e abertura aos conselhos dos outros como a voz de Satanás. Entendo que esta é uma das maiores armadilhas que a nossa geração está a enfrentar.
Em relação com os dons espirituais, que em alguns casos podem aparentemente confirmar estas «vozes» de ambição pessoal, queria terminar, por hoje, citando um distinto teólogo pentecostal, citado por Wayne Grudem na sua «Teologia Sistemática»:
«Muitos de nossos erros no que diz respeito aos dons espirituais surgem quando queremos que o extraordinário e excepcional se torne frequente e habitual. Que todos os que desenvolvam um anseio excessivo por «mensagens» mediante dons sejam alertados pelo naufrágio de gerações passadas, bem como contemporâneas... As Escrituras Sagradas são lâmpada para nossos pés e luz para nossos caminhos» (Donald Gee).