08 setembro 2010

Vozes no coração e a voz de Deus

Já é a terceira vez que escrevo sobre temas relacionados com Provérbios 4:23 - sobre o guardar o coração.
Queria contestar a ideia habitual entre evangélicos de que este conselho tem a ver com uma noção apenas individualista da relação com Deus. Na nossa linguagem habitual dizemos que cada um de nós recebe Jesus «no seu coração»: a expressão não é bíblica - embora possamos argumentar, talvez, que a ideia o seja. Mas a ênfase da Bíblia é mais em Deus nos dar um «coração novo» (cf. Ezequiel 11:19-20), e isto tem mais a ver com a maneira de estar em comunhão com os outros, todos em obediência a Deus, do que com uma experiência apenas individual.
As «vozes» que se ouvem no nosso coração individual são muitas e variadas. Mas é o conselho dos outros que nos ajuda a situar-nos (Provérbios 15:22 diz «Onde não há conselho, os projectos sãem vãos, mas com a multidão de conselheiros, se confirmarão»)e o que é, realmente, o conselho do Senhor permanece (19:20-21).
Uma «voz» que muitas vezes fala alto é a voz da ambição pessoal. Pode prometer um futuro brilhante a um crente jovem, por exemplo. E ele toma essa voz como a voz de Deus - e a voz dos que aconselham um atitude de humildade e abertura aos conselhos dos outros como a voz de Satanás. Entendo que esta é uma das maiores armadilhas que a nossa geração está a enfrentar.
Em relação com os dons espirituais, que em alguns casos podem aparentemente confirmar estas «vozes» de ambição pessoal, queria terminar, por hoje, citando um distinto teólogo pentecostal, citado por Wayne Grudem na sua «Teologia Sistemática»:
«Muitos de nossos erros no que diz respeito aos dons espirituais surgem quando queremos que o extraordinário e excepcional se torne frequente e habitual. Que todos os que desenvolvam um anseio excessivo por «mensagens» mediante dons sejam alertados pelo naufrágio de gerações passadas, bem como contemporâneas... As Escrituras Sagradas são lâmpada para nossos pés e luz para nossos caminhos» (Donald Gee).

1 comentário:

Pedro Leal disse...

Pastor, é realmente pertinente o "descentrar" da nossa relação com Deus. Deixar de ser o crente individual a "medida de todas as coisas", para usar uma frase renanscentista, e passarmos a ter como "medida" as Escrituras, muitas vezes trazidas a nós pelos nossos irmãos: seja numa pregação, seja num testemunho, seja até numa simples conversa.