30 novembro 2010

TRABALHAR PARA UMA BABILÓNIA MELHOR

Foi um lema que me saiu, sem aviso prévio (!), na conclusão de um sermão que preguei recentemente (no aniversário de uma igreja em que tanto o pastor como muitos membros da congregação eram amigos). Tinha preparado todo o sermão, baseado em Daniel 1 – mas este lema não estava previsto. Logo que o disse achei que devia dar uma certa ênfase à frase.
Mas por quê? Numa igreja urbana – em plena época de crise, financeira e moral, interroguei-me se em alguns ouvintes não encontraria mais eco o aviso de Apocalipse 18:4: «Sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos seus pecados, e para que não incorras nas suas pragas». Frase esta que foi escrita por causa da grande «Babilónia» - Roma e os diversos impérios que amam o sexo, o dinheiro e o poder – cuja queda João profetizou. Quantas vezes os cristãos ao longo dos tempos justificaram a sua inércia e passividade perante os problemas sociais – uma tentativa de se refugiarem num gueto religioso - firmes nas «promessas» de Deus que, para eles, têm mais a ver com o céu do que com a terra – com base neste tipo de leitura da passagem de Apocalipse?
Só que, no contexto, a frase é enunciada depois de a voz do céu anunciar também a queda definitiva da Babilónia (cf. v. 2). É no contexto imediato da destruição. Por muito «babilônicos» que sejam os nossos tempos, não podemos falar como se esse julgamento definitivo já tivesse chegado. E provamos isto pelo nosso empenho em ainda lutarmos para tirar cursos nas universidades e para termos os nossos empregos. A linguagem da fuga aplicamos para justificar a passividade dos evangélicos em questões da luta pela justiça social. Aí dizemos com toda a ênfase que este mundo não vai melhorar! Mas, quando se trata daquilo que podemos ainda receber deste mundo, em termos de sustento pessoal e familiar, estamos, regra geral, muito longe de sermos tão passivos!
Curioso – porque Jesus, o nosso Mestre e Senhor, disse que não tinha vindo para ser servido mas para servir......
Acredito que o grupinho de jovens judeus, Daniel, os seus três amigos e mais alguns, que se deixaram «rebaptizar» com nomes babilônicos e aceitaram tirar um curso de cultura babilônica, apesar de estarem nessa cidade pagã e imoral contra a sua vontade, devem ter sido tocados pela carta eloquente do profeta Jeremias, registada em Jer. 29:4-7. Esta carta aconselhou uma integração positiva no meio hóstil – construindo casas, plantando jardins e começando famílias:
«E procurai a paz (= bem-estar social) da cidade, para onde vos fiz transportar, e orar por ela ao Senhor; porque na sua paz vós tereis a paz» (v. 7).
Sobre este grupinho de jovens comprometidos que marcaram todo um império com o seu testemunho ao Deus vivo, gostava de partilhar mais numas próximas postagens deste blog.
Entretanto queria partilhar a minha convicção de que, quando for o tempo para todos nós fugirmos da nossa «Babilónia», será bastante óbvio para todos nós. Entretanto a Sua chamada aos cristãos, mesmo quando estes são poucos e parecem ter pouca influência, é que lutem para transmitir à cidade secular os valores do nosso Deus. É desta maneira que lutamos para uma Babilónia melhor!