Foi um lema que me saiu, sem aviso prévio (!), na conclusão de um sermão que preguei recentemente (no aniversário de uma igreja em que tanto o pastor como muitos membros da congregação eram amigos). Tinha preparado todo o sermão, baseado em Daniel 1 – mas este lema não estava previsto. Logo que o disse achei que devia dar uma certa ênfase à frase.
Mas por quê? Numa igreja urbana – em plena época de crise, financeira e moral, interroguei-me se em alguns ouvintes não encontraria mais eco o aviso de Apocalipse 18:4: «Sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos seus pecados, e para que não incorras nas suas pragas». Frase esta que foi escrita por causa da grande «Babilónia» - Roma e os diversos impérios que amam o sexo, o dinheiro e o poder – cuja queda João profetizou. Quantas vezes os cristãos ao longo dos tempos justificaram a sua inércia e passividade perante os problemas sociais – uma tentativa de se refugiarem num gueto religioso - firmes nas «promessas» de Deus que, para eles, têm mais a ver com o céu do que com a terra – com base neste tipo de leitura da passagem de Apocalipse?
Só que, no contexto, a frase é enunciada depois de a voz do céu anunciar também a queda definitiva da Babilónia (cf. v. 2). É no contexto imediato da destruição. Por muito «babilônicos» que sejam os nossos tempos, não podemos falar como se esse julgamento definitivo já tivesse chegado. E provamos isto pelo nosso empenho em ainda lutarmos para tirar cursos nas universidades e para termos os nossos empregos. A linguagem da fuga aplicamos para justificar a passividade dos evangélicos em questões da luta pela justiça social. Aí dizemos com toda a ênfase que este mundo não vai melhorar! Mas, quando se trata daquilo que podemos ainda receber deste mundo, em termos de sustento pessoal e familiar, estamos, regra geral, muito longe de sermos tão passivos!
Curioso – porque Jesus, o nosso Mestre e Senhor, disse que não tinha vindo para ser servido mas para servir......
Acredito que o grupinho de jovens judeus, Daniel, os seus três amigos e mais alguns, que se deixaram «rebaptizar» com nomes babilônicos e aceitaram tirar um curso de cultura babilônica, apesar de estarem nessa cidade pagã e imoral contra a sua vontade, devem ter sido tocados pela carta eloquente do profeta Jeremias, registada em Jer. 29:4-7. Esta carta aconselhou uma integração positiva no meio hóstil – construindo casas, plantando jardins e começando famílias:
«E procurai a paz (= bem-estar social) da cidade, para onde vos fiz transportar, e orar por ela ao Senhor; porque na sua paz vós tereis a paz» (v. 7).
Sobre este grupinho de jovens comprometidos que marcaram todo um império com o seu testemunho ao Deus vivo, gostava de partilhar mais numas próximas postagens deste blog.
Entretanto queria partilhar a minha convicção de que, quando for o tempo para todos nós fugirmos da nossa «Babilónia», será bastante óbvio para todos nós. Entretanto a Sua chamada aos cristãos, mesmo quando estes são poucos e parecem ter pouca influência, é que lutem para transmitir à cidade secular os valores do nosso Deus. É desta maneira que lutamos para uma Babilónia melhor!
30 novembro 2010
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1 comentário:
É engraçado como pequenas ajudas em certos pormenores podem ajudar muito. Por exemplo, longe de mim pensar, numa leitura de Daniel, que Daniel e os amigos recebessem cartas de Jeremias ou interagissem com intervenientes da Bíblia narrados noutros livros. Por mais que saiba e acredite que o relato bíblico é histórico, não estou nada treinado no exercício de cruzar assim os conteúdos.
E de repente, tudo faz ainda mais sentido .)
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