O nosso amigo David Cameira pergunta quando é que o «Canto da Rola» vai pensar numa edição dos sermões de F.W.Robertson. Fico muito satisfeito com o interesse despertado neste irmão que chamo «emergente» do século XIX.
Devo explicar que, depois de «Ética Cristã Hoje» (que leva na capa o nome da Associação Evangélica Cascatas, e que foi financiado por um amigo português que quis manter-se anônimo), a Direcção do Centro decidiu que não ia envolver-se directamente em publicações: as nossa opções vocacionais, o nosso tempo e outros factores obrigaram-nos a definir outras prioridades. Se, entre os nossos leitores surgir algum tradutor, e se surgir algum financiador, (dois «ses» bastante grandes!) não teria problemas em propor ao Núcleo, por exemplo, uma edição de sermões de Robertson. Entretanto, quem souber inglês, aproveite já na Internet para ler os sermões!
E, entretanto, uma forte recomendação para que adquiram um livro magistral com o título «Subverting Global Myths» de (imaginem quem!) Vinoth Ramachandra. Foi publicado pelo SPCK, Inglaterra, no verão de 2008. Ao ler o livro tive uma sensação parecida à que teria se tivesse sido criado perto de algumas vivendas, observando sempre as pessoas que entravam e a saiam, e só décadas depois tivesse tido a oportunidade de ver as mesmas casas de outro ângulo. De repente passei a ver muito mais movimento. Percebi mais claramente a quê é que se dedicavam as pessoas que habitavam as vivendas. Tive que rever muitas suposições que tinha formado, com base em pouca evidência factual, sobre a vida dos habitantes.
Os mitos que Vinoth revê são os mais pertinentes possível: o do «terrorismo», o da violência religiosa, o dos direitos humanos, o do multiculturalismo, o da ciência e o do pós-colonialismo. Critica e cita abundantes evidências factuais contra a visão ocidental desses fenómenos, tingido pelo iluminismo, o racionalismo e diversos imperialismos que nos ensinaram o que é a «realidade», antes de nós a vermos com os nosso próprios olhos.
O que é que aprendeste na escola sobre a Revolução Industrial, por exemplo? Agora, considera o seguinte parágrafo (tradução minha) de «Subverting Global Myths»:
«As duas indústrias principais da Revolução Industrial Britânica foram o ferro/aço e o algodão. Em 1788, no entretanto, a produção de ferro ainda era mais baixa do que a que a China tinha atingido em 1078! O que é especialmente notável aqui é que nestas duas indústrias a Índia esteve em primeiro lugar até cerca de 1800. O aço Wootz da Índia exportava-se à Pérsia, onde providenciou a base para o famoso aço Damask. Além disso, o aço da Índia era ao mesmo tempo superior e mais barato que o aço produzido em Sheffield. Em 1842 o número de altos fornos («blast furnaces») na Índia era cinquenta vezes maior do que o número que existia em Inglaterra e ainda em 1873, ano de máxima produção na Inglaterra, havia dez vezes mais na Índia. Quando os britânicos finalmente se interessaram na produção de aço, foi naturalmente para a Índia e a China que olharam».
Vinoth cita algumas vezes Michel Foucault, que mostra como mesmo os «factos históricos» são escritos desde o ponto de vista do poder.
É muito refrescante e animador também, para quem acredita em missões, ver o Vinoth a denunciar o mito das missões serem sempre o instrumento do imperialismo. Mostra como missionários na Índia, como C.F. Andrews, íntimo colaborador de Gandhi, se tornaram os opositores mais plausíveis do racismo e imperialismo britânicos. Mostra como muitos discípulos de Jesus, que foram trabalhar na Ásia e em África, conseguiram despir-se dos seus mitos e deixar um legado, genuíno e convincente, de um Servo sofredor que ultrapassa todo o tipo de barreira e preconceito cultural.
Uma palavra final..... Se amares os teus «mitos» e não quiseres que sejam postos em causa, não leias o livro!
04 novembro 2008
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