Pense um momento no conhecido texto de Mateus 24:40-41 que dia que, estando dois no campo, um será levado e o outro deixado. E, estando duas moendo no moinho, será levada uma e deixada outra.
E, agora, responda a uma pergunta simples: o que é levado (v.40) e a que é levada (v.41) são os crentes ou os descrentes? Obviamente, vai dizer, que são os crentes. Se eu sugerir o contrário vai acusar-me de ser liberal, herege ou ainda pior..... Então Deus iria levar descrentes e deixar ficar crentes aqui na terra?!
Agora é altura de ler o texto novamente, no contexto. Com quê é que Jesus está a comparar esta situação de mudança repentina? É com os dias de Noé. E, de facto nesse relato, o mundo descrente que comia, bebia, casava e dava em casamento, foi todo levado pelas águas do dilúvio. Ficaram os crentes – a família de Noé na arca. Foram eles que povoaram a terra depois! Agora pense novamente na sua interpretação das palavras de Jesus!
A verdade é que o ensino de 1 Tessalonicenses 4:13 -18 sobre o arrebatamento dos crentes talvez não tenha muito a ver directamente com o ensino de Mateus 24:40-41. O célebre exegeta e pregador, John MacArthur (conservador e mesmo dispensacionalista!), diz que este texto de Mateus não é de arrebatamento mas sim de julgamento.
Vamos supor que somos dispensacionalistas. Neste caso acreditamos que o Senhor virá nos ares para arrebatar a sua igreja, haverá sete anos de tribulação. Depois Jesus virá com os crentes para instaurar o reino milenar na terra. No fim do milénio haverá o julgamento final. E o estado final seguirá – novos céus e nova terra em que moram a justiça. Assim muito resumidamente! Se somos pre-milenistas mas não dispensacionalistas, acreditamos que o arrabatamento será como se fosse uma breve saída dos súbditos para encontrar o rei e voltar com Ele, para o reino milenar que Ele estabelecerá na terra. Depois no fim haverá o julgamento final e novos céus e nova terra. Se somos amilenistas ou pós-milenistas, achamos que os novos céus e nova terra se seguirão imediatamente ao julgamento final.
Em todos estes casos, o ensino bíblico frisa a importância desta terra nos propósitos finais de Deus! De onde é que vem então a estranha ideia de que o destino final do crente é só o «céu»? A ideia de que o Seu propósito é retirar-nos de um mundo condenado para um tipo de paraíso aéreo que não tem nada a ver com a criação que Ele fez aqui? De onde vem a estranha preponderância, nas expressões de esperança de evangélicos, de referências à imortalidade da alma, com aparente desinteresse na doutrina que é preponderante na Bíblia – a doutrina da ressurreição do corpo?
Não será que a tradição cristã há séculos está presa a um platonismo subjacente de que não se consegue libertar?
Este platonismo pode levar-nos até ao ponto de ler nos textos o contrário daquilo que estão realmente a dizer – como é o caso no texto de Mateus aqui a ser considerado! A exegese aqui não foi «descoberta» por mim mas sim encontrada num livro publicado em 1984 (“The Transforming Image” de Walsh e Middleton, publicado IVP). Outros comentários consultados tendem a confirmar – ou pelo menos a não desmentir - a ideia.
Leia o texto mais uma vez, se precisar. E reflicta na afirmação da Bíblia de que Deus, após o julgamento final, desenvolverá um plano para o futuro, com um universo material purificado e transformado. Com os crentes de todos os tempos para o cuidar e cultivar, sob a Sua orientação! Talvez isto o ajude a tratar a terra e os seus recursos com mais respeito .... mesmo agora.
Digam o que acham...!
1 comentário:
Obrigado, grande reflexão!
oiço muitas vezes empregar-se a palavra "destruição" da terra, apontando para novos céus e nova terra, sem se averiguar que a palavra que traduzimos por destruição, no original é a mesma usada na ocasião do diluvio, nos tempos de Noé.. ou seja, RENOVAÇÂO!!
beijinhos para todos aí!
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