Obrigado pela atenção que deste ao meu diálogo com Vinoth Ramachandra!
Não tenho muita experiência de «blogues» e está a ser uma experiência interessante perceber o que é que as pessoas conseguem captar e o que não conseguem captar através deles. Mas, como a tua reacção tem alguma coisa em comum com a do próprio Vinoth, admito a hipótese de que eu não tenha dito o suficiente para situar os meus potenciais leitores em relação com as minhas convicções ou com as minhas motivações ao entrar no debate.
Tu – e o Vinoth – captaram, do que parece, uma certa «inocência» nas minhas reacções. Mas nenhum dos dois conseguiu perceber de onde é que vinha essa aparente «inocência». Claro que o meu blogue não entrou em considerações históricas. Lembro-me, por exemplo, (só uma pequeníssima parte da história que presenciei e vivi!) de ter ido debater posições semelhantes às de Vinoth num encontro no Centro Ecumênico de Figueira da Foz, nos anos ’80 (o Pt. Abel Pego também foi), perfilhadas na altura por José Miguez Bonino, um «teólogo da libertação» evangélico da América Latina.
Miguez Bonino conseguia articular as suas preocupações socio-políticas e a sua teologia de uma forma convincente (não pecava, como Gustavo Gutiérrez e outros pecavam, da fraca exegese bíblica habitual entre os católicos da Teologia da Libertação). Vinoth também consegue articular preocupações semelhantes e fala com frescura para uma geração nova. Mas, como deves perceber, não há muito de realmente novo naquilo que Vinoth diz – nem poderia haver: ele está apenas a reafirmar certas posições acerca da necessidade da «integralidade» que precisam de ser afirmadas em cada geração.
O comentário do GBU no teu blog («Pedro said») é um modelo de síntese e identifica correctamente as preocupações principais de Vinoth. Curiosamente, e isto parece que nem tu nem Vinoth conseguiu captar (por isso admito que não o tenha dito com a clareza suficiente), estou com ele e as minhas posições são bastante semelhantes às dele (embora as exponha com menos profundidade e com uma linguagem menos cativante para a geração nova).
O Vinoth parece ter lido nas minhas palavras uma reacção «inocente» que tem como pano de fundo o individualismo e espiritualismo ocidentais. Às vezes afirma que esta mentalidade é inconscientemente herética (docetista, marcionista, etc.). Na minha óptica a ênfase na salvação individual é um componente incontornável que existe na Bíblia («Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma?» - substituir a palavra «alma» pela palavra «vida» não retira nada da força desta preocupação), e se alguns dos meus irmãos na igreja gastam as suas lágrimas em oração e as suas vidas em esforços para tentar levar os seus amigos a conhecer o Salvador (individualmente!), não devo dizer nada para os desmotivar, nem sequer implicitamente. Só devo complementar a sua ênfase, com exortações para eles, e os que levam a conhecer Cristo, «guardarem todas as coisas» que Ele tem mandado.
A resposta que Vinoth me mandou ajudou-me a compreender que ele também tem este sentido do «corpo de Cristo». Para ele também estas abordagens se completam e não devem ser contrapostas uma à outra. No seu artigo há momentos (como quando fala na «justificação pela fé», por exemplo), em que parece que não é assim – parece estar a entrar num reducionismo liberal (quando os meus professores em Cambridge não conseguiam encaixar uma doutrina que o NT ensinava, diziam que fazia parte de uma «tradição» menos importante dentro do «material» do NT!). Através do diálogo, consegui perceber melhor que Vinoth não pertence de maneira nenhuma a esta tradição liberal, já antiga. Espero que ele também tenha compreendido que não sou tão «inocente» como possa ter parecido!
Também, no que diz respeito à tua reacção, perdoa-me, mas creio que me estavas a citar como se fizesse parte de algum tipo de «hierarquia baptista» que tem por hábito alhear-se destas questões. Nem fui criado no meio baptista nem estudei numa faculdade doutrinariamente conservadora (mais liberal do que a Faculdade de Teologia em Cambridge, seria quase impossível achar – até hoje!). Identificaste mal as razões da «inocência» com que me situo perante Vinoth. Esta transparece no artigo por causa de, na minha posição pastoral, me identificar com muitos crentes que não lêem blogues, nem conseguem entender estes debates mas que, em alguns aspectos, agem com mais coerência e mais coragem do que eu.
Queria defender e ajudar estes – como, segundo o que já percebi em outras publicações no teu blogue, também os queres defender e ajudar.
Na tua reacção senti-me mal compreendido! (E senti, como é óbvio, que estavas a atacar muito mais o Seminário do que a mim! Talvez precises de conhecer melhor a nossa escola!) Mas a parte que me diz respeito não é muito importante se o resultado do nosso diálogo for alguns dos nossos leitores esforçarem-se, e nós também nos esforçarmos, para sermos cristãos mais «integrais» na sociedade em que vivemos.
1 comentário:
Caro pastor Palister,
Sou um leigo e talvez consequência disso não entendo o conteúdo dessa discussão que se tem gerado. Será que me poderia explicar o que se trata todo esse diálogo sobre a sua opinião e a do senhor Ramachandra?
Um abraço
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