«Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem....» (Mateus 5:44).
«Ai de vós ricos! Porque já tendes a vossa consolação» (Lucas 6: 24).
Trata-se de um dos tópicos de Brian McLaren, pensador e teólogo associado à já muito falada «Igreja Emergente» (ver «A Mensagem Secreta de Jesus», ed. Thomas Nelson, Brasil, 2006). É uma abordagem que, em geral, aprecio. Deixem-me citar um parágrafo, para dar uma ideia:
«Em minha educação religiosa não me ensinaram acerca das dimensões pública e política da mensagem de Jesus – somente a respeito do aspecto pessoal e das demais dimensões privadas. Sim, Jesus me ama e queria que eu fosse bom com meu irmãozinho e obediente a meus pais. Porém a ideia de Jesus de que Deus ama os inimigos do meu país, e de que, consequentemente, nossa política exterior deveria reflectir este amor – esta ideia jamais passou pela minha cabeça. Em algum momento, no entanto, comecei a perceber que estava perdendo alguma coisa. Naquele exacto instante, acredito que tenha começado a ter uma ténue e ainda turva percepção acerca da mensagem secreta de Jesus» (op. cit., p. 28).
A leitura do livro é fresca e incómoda: posso recomendá-lo. Depois, a questão de como ser (ou, para alguns, como rejeitar!) a «igreja emergente» no século XXI, deixo para outra altura.
Para mim um princípio importante, quando alguém diz ensinar coisas «novas» ou «secretas» acerca de Jesus, é tentar saber quem é que já as disse antes. Para dizer a verdade li uma boa parte do livro com uma sensação de já ter ouvido muito daquilo que McLaren estava a dizer. Não me enganei: perto do fim do livro McLaren cita John Howard Yoder (1927-1997), famoso autor menonita do livro «The Politics of Jesus», livro este que marcou a minha juventude e a da minha esposa! Sem dúvida, então, que Yoder no seu tempo já foi «emergente»!
Mas, se Yoder era «emergente» na década dos 1970, também o eram os primeiros anabaptistas como Menno Simons, que ensinavam a não-violência como postura política, já no século XVI! E também era «emergente» Calvino, que tanto profetizou contra a egoísmo e as injustiças sociais na mesma época.
Depois, e parece ter sido coincidência, veio à minha atenção os sermões do jovem Frederick William Robertson, pregador em Brighton, Inglaterra nos anos ’40 e ’50 do século XIX! Digo jovem, porque morreu de uma doença cerebral degenerativa, com apenas 37 anos. Em plena época imperialista denunciou, desde um ponto de vista teológico conservador e calvinista, a opressão e as riquezas mal ganhas da sua época. Embora advogasse métodos pacíficos, levantou muitas suspeitas na sua época por causa da sua conhecida simpatia com as ideias políticas de Europa continental, que deram ocasião às revoluções de 1848. O «emergente», F.W. Robertson retrata de uma forma brilhante Jesus a profetizar num contexto semelhante, na sua época. Em alguns sermões Robertson não é menos incisivo e mordaz na denúncia que faz do que o próprio McLaren!
Mas, curiosamente, McLaren, na última parte do seu livro, argumenta que a «mensagem secreta de Jesus» (que passa pela política e outros assuntos semelhantes) foi descoberto só na nossa geração. Inclui Yoder na nossa geração e reconhece que a conhecia – mas não parece conhecer aqueles que a conheciam em outras gerações anteriores!
Aqui não posso concordar. Embore confesse que também por vezes cometi o erro de dizer que alguma coisa não existiu numa determinada época, só porque eu não a conhecia!
É mesmo importante terminar com uma citação extensa de F.W. Robertson! Isto é só para apanharem o «sabor»: os argumentos são cuidadosos e têm que ser lidos de princípio a fim. (Para encontrares muitos dos seus sermões em inglês, basta procurares «Frederick William Robertson», nas paginas da Internet). Quem sabe se Robertson não terá que ser redescoberto, e proclamado nos «blogues» do nosso tempo, como «emergente» da época vitoriana?
«Andou na Galileia e na Judeia a proclamar a queda de toda a injustiça, a revelação e o desmentido de toda a falsidade. Denunciou os homens da lei que recusavam a educação ao povo, para que pudessem reter a chave do conhecimento nas suas próprias mãos. Reiterou Ai! Ai! Ai! aos escribas e fariseus, que reverenciavam o passado, enquanto perseguiam cada novo profeta e cada homem de coragem que se levantava para defender o espírito do passado contra as instituições do passado. Contou parábolas que atacavam com dureza os homens da riqueza......»
«E agora considerem honestamente: - suponhamos que tudo isto tivesse tido lugar neste país; que um estrangeiro desconhecido, não ordenado, sem nenhuma autoridade visível, baseando a sua autoridade na sua verdade, e a sua concordância com a mente de Deus Pai, tivesse aparecido nesta Inglaterra, falando a metade das coisas severas que Jesus falou, contra o egoísmo da riqueza, contra as autoridades eclesiásticas, contra o clero, contra o partido religioso popular – suponhamos que um assim dissesse que toda a nossa vida social está corrupta e falsa. Suponhamos que, em vez de dizer “tu, fariseu cego”, a palavra tivesse sido “tu, homem de igreja cego!....”.
Sermão com o título: «O Julgamento de Cristo a Respeito das Heranças», pregado em 22 de Junho de 1851.
14 outubro 2008
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2 comentários:
Muito bom... Concordo contigo em descordar com Mclaren por não conhecer os "eregentes" do passado, dizer que este é um movimento novo. De facto ao longo da história Deus tem levantado muitos "emergentes" para focar e tentar redirecionar o alvo das diferentes comunidades. Porém muitos criticam os emergentes sem conhecer o significado ou mesmo pesquisar e até mesmo sem ler nada sobre os ditos teólogos emergentes. Mas este post serve para reafirmar minha ideia de que de facto Deus tem levantado centenas de emergentes ao logo os séculos, não é algo novo, porém uma proposta que mexe no íntimo do meu comodismo crónico, que injustamente, ou não, tenho deixado me contaminar ao logo dos anos como servo de Deus.
Muito fixe...
Só para perguntar para qd a tradução portuguesa de " Frederick William Robertson "
Quem sabe uma boa iniciativa editorial para o Canto da Rola...
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