Não conheço pessoalmente o «Penedo» - que se apresenta como «leigo» e como «eterno estudante»! Mas achei intrigante que, não conseguindo perceber o que era a questão, na minha troca de impressões com o Vinoth Ramachandra, tivesse a curiosidade para me perguntar.
Queria, então, tentar colocar a questão de uma maneira mais simples.
Os evangélicos, durante muitas décadas, tiveram o hábito de apresentar a sua mensagem como sendo «individualista» e «espiritual». Isto é, através de um encontro pessoal com Cristo, encontramos a salvação da nossa alma, um lugar seguro no céu, etc. A igreja é um conjunto de pessoas salvas por Cristo e que tem como tarefa evangelizar os outros, para que mais almas se salvem, mais pessoas tenham um lugar seguro no céu, etc.
Para pessoas que focam a mensagem cristã assim, o trabalho social feito por cristãos, por exemplo, parece um desvio, dando atenção a uma dimensão material da vida que só tem interesse temporal.
Vinoth Ramachandra faz parte de uma longa tradição de cristãos evangélicos que têm feito notar que a própria Bíblia não divide o homem desta maneira – numa parte espiritual (a que temos a responsabilidade de nos dirigir) e uma parte material (que é melhor deixar para os outros). Apelam, correctamente na minha opinião, a textos como Jeremias 22:13-17, Miquéas 6:8, Mateus 5:13-16, Mateus 25:31-46 .... entre muitos mais. A «Missão Integral» é uma forma de trabalhar com as pessoas que tenta englobar tudo o que são , «alma» e «corpo», e considera tão válido o envolvimento do cristão na política para tentar que a sociedade seja mais justa, como a pregação do Evangelho, do púlpito e pessoalmente, que foca as questões «espirituais» ou «eternas».
Considero-me também defensor da «Missão Integral», mas, obviamente, com muito menos conhecimento e capacidade de diálogo com a sociedade actual do que o Vinoth. Em 1983, por exemplo, publiquei um livro com o título «O Sabor do Sal», editado pelo Núcleo, em que tentei defender alguns dos mesmos princípios.
Em relação com o Vinoth, a minha única razão de entrar em diálogo foi porque, no seu artigo “O que é a Missão Integral?”, me parecia que estava não só a expressar a sua discordância com a abordagem individualista dos evangélicos tradicionais, mas estava também a usar termos um tanto irónicos em relação com pessoas que sinceramente têm esta ênfase. Ao comparar este tipo de evangelização com a venda de «apólices de seguros», por exemplo, achei que podia ofender irmãos que, tendo uma visão um tanto tradicional ou individualista, agem com muita sinceridade e dedicação. Ainda por cima estes irmãos muitas vezes estão abertas para aprender de nós em outros aspectos: não seguem a sua linha, necessariamente, por teimosia ou por terem uma mente fechada.
Enviei um E-mail ao Vinoth, em Sri Lanka, e recebi uma resposta quase imediatamente. Através da resposta, percebi que ele compreendia a minha preocupação por estes irmãos mais tradicionais mas que, muitos deles, são extremamente dedicados e que trabalham com sinceridade. Senti-me de imediato mais perto dele. Mesmo achando que podia ter dito algumas das coisas de uma forma mais cuidadosa.
No corpo de Cristo cabem muitas abordagens, sensibilidades e filosofias de trabalho diferentes. Só temos vantagem em tentar valorizar positivamente aqueles irmãos que, sendo diferentes de nós, podem ser para nós exemplos de coerência e coragem.
O irmão Vinoth vem de um contexto asiático em que há muita pobreza. Precisamos também de dar atenção ao que tem a dizer aos ocidentais - acerca de uma vida coerente de compromisso com Cristo que abrange todos os níveis da nossa existência.
30 setembro 2008
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2 comentários:
Tenho apreciado esta conversa no blog. Estou no inicio do ensino de um curso sobre 'Theology of Christian Mission' ca na universidade de Aberdeen, e tenho a preocupacao de nao perder o compromisso da fala na proclamacao do evangelho nessa perpectiva importante de missao integral. Creio que o irmao e o Vinoth Ramachandra tem elaborado um dialogo de clarificacao importante. Um abraco,
Andy
"Ainda por cima estes irmãos muitas vezes estão abertos para aprender de nós em outros aspectos: não seguem a sua linha, necessariamente, por teimosia ou por terem uma mente fechada."
A minha experiência também é esta. Provavelmente porque estes irmãos que levam tão a sério as palavras de Jesus Cristo sobre a salvação da alma também levarão a sério as palavras do Mestre sobre outros assuntos.
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