Depois do «presente envenenado», David apanha pedras (ver 2 Samuel 16:5-14). Poder-se-ia considerar a questão de qual destas duas «ofertas» é pior.
O atirador das pedras, Simei, afirma que Deus está a dar a David a paga do sangue da casa de Saúl que derramou. Com alguma justiça Abisai, amigo do rei, diz que é um «cão morto» e que a melhor solução será tirar-lhe a cabeça. Ao lermos isto tendemos a concordar com Abisai.
Uma coisa está certa: não é verdade que Deus esteja a usar Absalão para que o sangue da casa de Saúl seja vingado. Foi Deus que outrora dirigiu David, por diversos métodos, alguns deles muito pacíficos, a atingir essa vitória. Então, será que David agora está a ser vítima de um falso sentimento de culpa? Qualquer «conselheiro espiritual» bem-intencionado nos nossos dias tentaria livrar David desta ideia de que é Deus que está a falar por meio de Simei. Tentaria que ele ganhasse um sentido de proporção e auto-estima e que se livrasse da doutrina de que pode ser Deus que manda e usa as pessoas que são cruéis e injustas.
Mas aqui convém voltar-mos ao conceito bíblico da soberania de Deus. José, por exemplo, disse aos seus irmãos que não foram eles que o mandaram para o Egipto senão Deus (Gén. 45:8). Quando David depois peca, fazendo um censo do povo, um dos textos diz que foi Deus que lhe pôs a ideia na cabeça (2 Samuel 24:1), aparentemente contradizendo a versão de 1 Crónicas 21:1 que diz que foi Satanás. Amós depois diz: «Sucederá qualquer mal à cidade, e o Senhor não o terá feito?» (Amós 3:6). Satanás age para confundir e destruir. Deus, operando nos mesmos actos, age para testar, castigar ou purificar: as Suas intenções estando sempre de acordo com o Seu carácter justo e bom. Vejamos novamente Romanos 8:28!
Mesmo quando as pedras e os insultos de algum «Simei» blasfemo estão a cair sobre nós!
E o mesmo Deus que soberanamente dirige estas circunstâncias é Quem, pela Sua graça, pode olhar para a nossa miséria e pagar com bem a maldição que, em alguns momentos, deixa cair sobre nós.
28 fevereiro 2009
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