Foi um lema que me saiu, sem aviso prévio (!), na conclusão de um sermão que preguei recentemente (no aniversário de uma igreja em que tanto o pastor como muitos membros da congregação eram amigos). Tinha preparado todo o sermão, baseado em Daniel 1 – mas este lema não estava previsto. Logo que o disse achei que devia dar uma certa ênfase à frase.
Mas por quê? Numa igreja urbana – em plena época de crise, financeira e moral, interroguei-me se em alguns ouvintes não encontraria mais eco o aviso de Apocalipse 18:4: «Sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos seus pecados, e para que não incorras nas suas pragas». Frase esta que foi escrita por causa da grande «Babilónia» - Roma e os diversos impérios que amam o sexo, o dinheiro e o poder – cuja queda João profetizou. Quantas vezes os cristãos ao longo dos tempos justificaram a sua inércia e passividade perante os problemas sociais – uma tentativa de se refugiarem num gueto religioso - firmes nas «promessas» de Deus que, para eles, têm mais a ver com o céu do que com a terra – com base neste tipo de leitura da passagem de Apocalipse?
Só que, no contexto, a frase é enunciada depois de a voz do céu anunciar também a queda definitiva da Babilónia (cf. v. 2). É no contexto imediato da destruição. Por muito «babilônicos» que sejam os nossos tempos, não podemos falar como se esse julgamento definitivo já tivesse chegado. E provamos isto pelo nosso empenho em ainda lutarmos para tirar cursos nas universidades e para termos os nossos empregos. A linguagem da fuga aplicamos para justificar a passividade dos evangélicos em questões da luta pela justiça social. Aí dizemos com toda a ênfase que este mundo não vai melhorar! Mas, quando se trata daquilo que podemos ainda receber deste mundo, em termos de sustento pessoal e familiar, estamos, regra geral, muito longe de sermos tão passivos!
Curioso – porque Jesus, o nosso Mestre e Senhor, disse que não tinha vindo para ser servido mas para servir......
Acredito que o grupinho de jovens judeus, Daniel, os seus três amigos e mais alguns, que se deixaram «rebaptizar» com nomes babilônicos e aceitaram tirar um curso de cultura babilônica, apesar de estarem nessa cidade pagã e imoral contra a sua vontade, devem ter sido tocados pela carta eloquente do profeta Jeremias, registada em Jer. 29:4-7. Esta carta aconselhou uma integração positiva no meio hóstil – construindo casas, plantando jardins e começando famílias:
«E procurai a paz (= bem-estar social) da cidade, para onde vos fiz transportar, e orar por ela ao Senhor; porque na sua paz vós tereis a paz» (v. 7).
Sobre este grupinho de jovens comprometidos que marcaram todo um império com o seu testemunho ao Deus vivo, gostava de partilhar mais numas próximas postagens deste blog.
Entretanto queria partilhar a minha convicção de que, quando for o tempo para todos nós fugirmos da nossa «Babilónia», será bastante óbvio para todos nós. Entretanto a Sua chamada aos cristãos, mesmo quando estes são poucos e parecem ter pouca influência, é que lutem para transmitir à cidade secular os valores do nosso Deus. É desta maneira que lutamos para uma Babilónia melhor!
30 novembro 2010
19 outubro 2010
«Pai...... como são os assassinos?»
A pergunta é da excelente obra policia de Agatha Christie, «A Última Razão do Crime» (ed. Livros do Brasil). O pai experiente é Superintendente da Polícia, a investigar um assassínio do avô de uma menina com a qual o seu filho acaba de começar um namoro.
Algumas das respostas chamaram-me bastante a atenção.
A primeira: «Alguns deles, foram toda a vida tipos encantadores».
A seguir: «Tipos comuns, simpáticos, como tu e eu....»
Mas, depois, o pai toca na área da motivação:....«Chegaram a um ponto em que desejam ardentemente, doentiamente, uma coisa, dinheiro, uma mulher....., e matam para obtê-la».
Uma criança pode cometer um crime destes:
«Se está zangada com um gato, diz "Vou matar-te" e bate-lhe na cabeça com um atiçador; depois chora sofredoramente, porque o gato não regressa à vida».
Até um irmão-bebé pode atirar para o chão «porque lhes usurpa as atenções paternas, ou interfere nos seus prazeres».
Aqui vi a nossa proximidade - a minha proximidade - daqueles que cometem crimes. Vi, também, os «desejos» que bons cristãos têm, de protagonismo, de um «ministério» (!), de cargos na igreja, de elogios. Como é que tratamos «irmãos» que são concorrentes ou que, julgamos, podemos impedir que nos tenhamos algum do prestígio que achamos que merecemos. Como é que Diótrefes tratou o apóstolo João?
O pai-polícia depois debruça-se sobre a falta de remorsos que o criminoso demonstra:
«Os assassinos são realmente diferentes, visto que para eles o crime, embora errado, é uma necessidade: a vítima estava a "pedir que a matassem": era a "única solução"». Diz que nunca encontrou um assassino que não fosse vaidoso:
«Podem estar aterrorizados receando ser apanhados, mas não podem resistir, na maioria dos casos, à necessidade de demonstrarem como foram espertos, como tiveram coragem para matar».
Uma vez conversei na prisão com um jovem inteligente, de aspecto inofensivo e meigo, que tinha morto duas pessoas a tiro em estabelecimentos comerciais de Caldas da Rainha. Pareceu-me numa certa altura que estávamos a começar a comunicar bem: ele quase não conseguia falar sobre outra coisa sem ser a Bíblia! Só que cheguei à questão do arrependimento. Disse-me assim, assumindo de repente um ar convicto:
«Eu não estou arrependido daquilo que fiz porque foi Deus que me disse para os matar!» (ver postagens anteriores sobre a «voz de Deus»).
Passo a perceber o que é que há dentro do coração humano que torna os conflitos tão duros e incontornáveis. Passo a perceber porque aqueles que afirmam estar a agir em nome de Deus às vezes agem um pouco pior do que os outros!
Algumas das respostas chamaram-me bastante a atenção.
A primeira: «Alguns deles, foram toda a vida tipos encantadores».
A seguir: «Tipos comuns, simpáticos, como tu e eu....»
Mas, depois, o pai toca na área da motivação:....«Chegaram a um ponto em que desejam ardentemente, doentiamente, uma coisa, dinheiro, uma mulher....., e matam para obtê-la».
Uma criança pode cometer um crime destes:
«Se está zangada com um gato, diz "Vou matar-te" e bate-lhe na cabeça com um atiçador; depois chora sofredoramente, porque o gato não regressa à vida».
Até um irmão-bebé pode atirar para o chão «porque lhes usurpa as atenções paternas, ou interfere nos seus prazeres».
Aqui vi a nossa proximidade - a minha proximidade - daqueles que cometem crimes. Vi, também, os «desejos» que bons cristãos têm, de protagonismo, de um «ministério» (!), de cargos na igreja, de elogios. Como é que tratamos «irmãos» que são concorrentes ou que, julgamos, podemos impedir que nos tenhamos algum do prestígio que achamos que merecemos. Como é que Diótrefes tratou o apóstolo João?
O pai-polícia depois debruça-se sobre a falta de remorsos que o criminoso demonstra:
«Os assassinos são realmente diferentes, visto que para eles o crime, embora errado, é uma necessidade: a vítima estava a "pedir que a matassem": era a "única solução"». Diz que nunca encontrou um assassino que não fosse vaidoso:
«Podem estar aterrorizados receando ser apanhados, mas não podem resistir, na maioria dos casos, à necessidade de demonstrarem como foram espertos, como tiveram coragem para matar».
Uma vez conversei na prisão com um jovem inteligente, de aspecto inofensivo e meigo, que tinha morto duas pessoas a tiro em estabelecimentos comerciais de Caldas da Rainha. Pareceu-me numa certa altura que estávamos a começar a comunicar bem: ele quase não conseguia falar sobre outra coisa sem ser a Bíblia! Só que cheguei à questão do arrependimento. Disse-me assim, assumindo de repente um ar convicto:
«Eu não estou arrependido daquilo que fiz porque foi Deus que me disse para os matar!» (ver postagens anteriores sobre a «voz de Deus»).
Passo a perceber o que é que há dentro do coração humano que torna os conflitos tão duros e incontornáveis. Passo a perceber porque aqueles que afirmam estar a agir em nome de Deus às vezes agem um pouco pior do que os outros!
28 setembro 2010
Boca..... olhos....... e pés
Agora, terminando as minhas reflexões sobre o coração e Provérbios 4:23.....
Acho que guardar o coração tem muito a ver com gratidão. Quando estou a nortear as minhas acções por causa da opinião dos outros, há sempre algo de errado no que faço. Quando o que me move é gratidão, por aquilo que Deus fez por mim, é difícil não agir bem, acertando o Seu caminho.
Quem goste da comunicação e das ideias, e quer impressionar, quem goste de cultivar muito a sua imagem, dificilmente evita piadas pouco úteis ou ironias: Provérbios 4:24 chama isto a «tortuosidade da boca». Acho assustadoras as palavras de Jesus em Mateus 12:36: «de toda a palavra ociosa que os homens disserem, hão-de dar conta no dia do juízo». Quantas vezes não digo palavras destas?
Mas, quando estou agradecido de coração ao Senhor, não digo palavras ociosas. Nem consigo.
E os olhos (v. 25)? Como pastor, tanto me podem chamar a atenção as distracções da internet (quando estou à procura de comentários bíblicos - as cartas tarot, os sinais do zodíaco, imagens pornográficas, por exemplo) - como posso ser movido à inveja por notícias de uma igreja evangélica vizinha, de outra denominação, que está a celebrar mais baptismos mais do que a minha! Mas, quando «contemplo a rude cruz, em que por mim morreu Jesus», os meus olhos me irão induzir a cometer este pecados?
E os pés (v. 26)? Aqui diz «ponderar» .... não ouvir o «GPS» interno! Afinal ser guiado pelo Espírito de Deus pode ser uma atitude bem racional, e não só intuitiva.
E não se trata de uma voz do céu só individual: cabe perfeitamente o ouvir conselhos e reflectir de uma forma madura sobre a Palavra....
Estes serão alguns dos resultados de guardar bem o meu «coração».
Acho que guardar o coração tem muito a ver com gratidão. Quando estou a nortear as minhas acções por causa da opinião dos outros, há sempre algo de errado no que faço. Quando o que me move é gratidão, por aquilo que Deus fez por mim, é difícil não agir bem, acertando o Seu caminho.
Quem goste da comunicação e das ideias, e quer impressionar, quem goste de cultivar muito a sua imagem, dificilmente evita piadas pouco úteis ou ironias: Provérbios 4:24 chama isto a «tortuosidade da boca». Acho assustadoras as palavras de Jesus em Mateus 12:36: «de toda a palavra ociosa que os homens disserem, hão-de dar conta no dia do juízo». Quantas vezes não digo palavras destas?
Mas, quando estou agradecido de coração ao Senhor, não digo palavras ociosas. Nem consigo.
E os olhos (v. 25)? Como pastor, tanto me podem chamar a atenção as distracções da internet (quando estou à procura de comentários bíblicos - as cartas tarot, os sinais do zodíaco, imagens pornográficas, por exemplo) - como posso ser movido à inveja por notícias de uma igreja evangélica vizinha, de outra denominação, que está a celebrar mais baptismos mais do que a minha! Mas, quando «contemplo a rude cruz, em que por mim morreu Jesus», os meus olhos me irão induzir a cometer este pecados?
E os pés (v. 26)? Aqui diz «ponderar» .... não ouvir o «GPS» interno! Afinal ser guiado pelo Espírito de Deus pode ser uma atitude bem racional, e não só intuitiva.
E não se trata de uma voz do céu só individual: cabe perfeitamente o ouvir conselhos e reflectir de uma forma madura sobre a Palavra....
Estes serão alguns dos resultados de guardar bem o meu «coração».
08 setembro 2010
Vozes no coração e a voz de Deus
Já é a terceira vez que escrevo sobre temas relacionados com Provérbios 4:23 - sobre o guardar o coração.
Queria contestar a ideia habitual entre evangélicos de que este conselho tem a ver com uma noção apenas individualista da relação com Deus. Na nossa linguagem habitual dizemos que cada um de nós recebe Jesus «no seu coração»: a expressão não é bíblica - embora possamos argumentar, talvez, que a ideia o seja. Mas a ênfase da Bíblia é mais em Deus nos dar um «coração novo» (cf. Ezequiel 11:19-20), e isto tem mais a ver com a maneira de estar em comunhão com os outros, todos em obediência a Deus, do que com uma experiência apenas individual.
As «vozes» que se ouvem no nosso coração individual são muitas e variadas. Mas é o conselho dos outros que nos ajuda a situar-nos (Provérbios 15:22 diz «Onde não há conselho, os projectos sãem vãos, mas com a multidão de conselheiros, se confirmarão»)e o que é, realmente, o conselho do Senhor permanece (19:20-21).
Uma «voz» que muitas vezes fala alto é a voz da ambição pessoal. Pode prometer um futuro brilhante a um crente jovem, por exemplo. E ele toma essa voz como a voz de Deus - e a voz dos que aconselham um atitude de humildade e abertura aos conselhos dos outros como a voz de Satanás. Entendo que esta é uma das maiores armadilhas que a nossa geração está a enfrentar.
Em relação com os dons espirituais, que em alguns casos podem aparentemente confirmar estas «vozes» de ambição pessoal, queria terminar, por hoje, citando um distinto teólogo pentecostal, citado por Wayne Grudem na sua «Teologia Sistemática»:
«Muitos de nossos erros no que diz respeito aos dons espirituais surgem quando queremos que o extraordinário e excepcional se torne frequente e habitual. Que todos os que desenvolvam um anseio excessivo por «mensagens» mediante dons sejam alertados pelo naufrágio de gerações passadas, bem como contemporâneas... As Escrituras Sagradas são lâmpada para nossos pés e luz para nossos caminhos» (Donald Gee).
Queria contestar a ideia habitual entre evangélicos de que este conselho tem a ver com uma noção apenas individualista da relação com Deus. Na nossa linguagem habitual dizemos que cada um de nós recebe Jesus «no seu coração»: a expressão não é bíblica - embora possamos argumentar, talvez, que a ideia o seja. Mas a ênfase da Bíblia é mais em Deus nos dar um «coração novo» (cf. Ezequiel 11:19-20), e isto tem mais a ver com a maneira de estar em comunhão com os outros, todos em obediência a Deus, do que com uma experiência apenas individual.
As «vozes» que se ouvem no nosso coração individual são muitas e variadas. Mas é o conselho dos outros que nos ajuda a situar-nos (Provérbios 15:22 diz «Onde não há conselho, os projectos sãem vãos, mas com a multidão de conselheiros, se confirmarão»)e o que é, realmente, o conselho do Senhor permanece (19:20-21).
Uma «voz» que muitas vezes fala alto é a voz da ambição pessoal. Pode prometer um futuro brilhante a um crente jovem, por exemplo. E ele toma essa voz como a voz de Deus - e a voz dos que aconselham um atitude de humildade e abertura aos conselhos dos outros como a voz de Satanás. Entendo que esta é uma das maiores armadilhas que a nossa geração está a enfrentar.
Em relação com os dons espirituais, que em alguns casos podem aparentemente confirmar estas «vozes» de ambição pessoal, queria terminar, por hoje, citando um distinto teólogo pentecostal, citado por Wayne Grudem na sua «Teologia Sistemática»:
«Muitos de nossos erros no que diz respeito aos dons espirituais surgem quando queremos que o extraordinário e excepcional se torne frequente e habitual. Que todos os que desenvolvam um anseio excessivo por «mensagens» mediante dons sejam alertados pelo naufrágio de gerações passadas, bem como contemporâneas... As Escrituras Sagradas são lâmpada para nossos pés e luz para nossos caminhos» (Donald Gee).
24 agosto 2010
A orientação do Espírito: um tipo de GPS interno?
Cada vez mais ouve-se dizer aos cristãos: «Deus falou-me». Parece que isto até confere o carácter de infalibilidade àquilo que a pessoa vai dizer a seguir. Muitas vezes eu próprio quis ter a segurança de que Deus me estava a orientar, usando frases deste tipo. Uma vez, muito novo, comecei um namoro, dizendo que «Deus» me tinha dito que era pessoa certa para mim. Depois, quando o namoro terminou, tive que dizer que «Deus» me tinha mostrado o contrário!
Depois, em anos recentes, veio a existir o GPS – instrumento que serve para substituir o trabalho mais árduo de estudar mapas. Parece-me uma ilustração perfeita para este meu antigo conceito de orientação divina! Não tenho que pensar: o GPS dita cada passo. Ele não pondera hipóteses comigo. Simplesmente fala. Não posso discutir com ele. Se me diz para seguir um caminho que é manifestamente impossível, a hipótese é desligá-lo!
Costumava entender que Romanos 8:14 (“Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus”) falava numa «voz» subjectiva desse tipo. Mas, através de alguns erros – o já citado e mais alguns – tive que aprender que, na Bíblia o Espírito a falar não se opõe ao nosso raciocínio. Não sou incentivado a deixar de raciocinar, para ouvir «a Sua voz», mas a deixar que Ele transforme o meu raciocínio (Romanos 12:1-2).
Afinal o Espírito deu-nos um mapa (a Bíblia) e dá-nos a luz para a compreender – e para descobrir a maneira como nos orienta para tomar as nossas decisões específicas. Nada tão imediato como um GPS. Mas é muito mais interessante. E não nos dá a ilusão da infalibilidade. Nem aquelas falhas embaraçosas!
Depois, em anos recentes, veio a existir o GPS – instrumento que serve para substituir o trabalho mais árduo de estudar mapas. Parece-me uma ilustração perfeita para este meu antigo conceito de orientação divina! Não tenho que pensar: o GPS dita cada passo. Ele não pondera hipóteses comigo. Simplesmente fala. Não posso discutir com ele. Se me diz para seguir um caminho que é manifestamente impossível, a hipótese é desligá-lo!
Costumava entender que Romanos 8:14 (“Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus”) falava numa «voz» subjectiva desse tipo. Mas, através de alguns erros – o já citado e mais alguns – tive que aprender que, na Bíblia o Espírito a falar não se opõe ao nosso raciocínio. Não sou incentivado a deixar de raciocinar, para ouvir «a Sua voz», mas a deixar que Ele transforme o meu raciocínio (Romanos 12:1-2).
Afinal o Espírito deu-nos um mapa (a Bíblia) e dá-nos a luz para a compreender – e para descobrir a maneira como nos orienta para tomar as nossas decisões específicas. Nada tão imediato como um GPS. Mas é muito mais interessante. E não nos dá a ilusão da infalibilidade. Nem aquelas falhas embaraçosas!
25 julho 2010
Mais sobre o coração.
O que é que a Bíblia, e nomeadamente Provérbios, entende por «coração»? Aqui pode haver alguns possíveis mal-entendidos. Por exemplo, costumamos citar Pascal («o coração tem as suas razões que a mente desconhece»), como se o «coração» se opusesse à «razão». Ou dizemos: «aquela pessoa tem ideias bastante confusas, mas tem bom coração». Partimos da base de que o coração é a sede das emoções.
Na língua hebraica (não é a minha área - mas costumo estudar quem a estuda!) o «coração» é o centro da personalidade humana.... e tem a ver mais com aquilo que a pessoa «pensa» do que com aquilo que a pessoa «sente». A tradução «A Bíblia para Todos» traduz «coração» em Provérbios 4:23 por «pensamento».
O contraste entre estas duas maneiras de encarar a pessoa pode ser visto em outro exemplo. Vamos supor que um homem casado tem pena de uma mulher sozinha - divorciada, solteira ou viúva - e envolve-se emocionalmente com ela. Depois de algum tempo adultera. Uma avaliação típica da nossa mentalidade poderá muito bem ser: «deixou-se levar pelo seu coração». Entendemos por isso «compaixão» ou «sentimentos».
Mas, no hebraico de Provérbios 6:32 aparece a palavra «leb» («coração»). E diz «o que adultera com uma mulher é falto de coração»! Significa que não tem o pensamento certo.
Este é o coração que Provérbios 4:23 nos manda guardar. Só o podemos fazer orando, meditando e estudando a Bíblia.
Como é que está a cuidar do seu «coração»?
Na língua hebraica (não é a minha área - mas costumo estudar quem a estuda!) o «coração» é o centro da personalidade humana.... e tem a ver mais com aquilo que a pessoa «pensa» do que com aquilo que a pessoa «sente». A tradução «A Bíblia para Todos» traduz «coração» em Provérbios 4:23 por «pensamento».
O contraste entre estas duas maneiras de encarar a pessoa pode ser visto em outro exemplo. Vamos supor que um homem casado tem pena de uma mulher sozinha - divorciada, solteira ou viúva - e envolve-se emocionalmente com ela. Depois de algum tempo adultera. Uma avaliação típica da nossa mentalidade poderá muito bem ser: «deixou-se levar pelo seu coração». Entendemos por isso «compaixão» ou «sentimentos».
Mas, no hebraico de Provérbios 6:32 aparece a palavra «leb» («coração»). E diz «o que adultera com uma mulher é falto de coração»! Significa que não tem o pensamento certo.
Este é o coração que Provérbios 4:23 nos manda guardar. Só o podemos fazer orando, meditando e estudando a Bíblia.
Como é que está a cuidar do seu «coração»?
19 julho 2010
O cristianismo e as artes
retiro no Canto da Rola

13 a 15 de Agosto
Porque "a arte não precisa de justificação".
(Um título de Hans Rookmaaker, escritor e colaborador dos centros L'Abri).
Vai ser um fim de semana para reflectir e aprender sobre a arte, procurando uma perspectiva verdadeiramente cristã e integral. Haverá palestras, troca de ideias e tempo para expressares a tua criatividade!
(Traz o teu instrumento ou as tuas telas, etc.)
Para estudantes, este retiro fica em €25.
Para profissionais, €30.
Se tiveres dificuldade em pagar, pf contacta-nos, para tentarmos providenciar uma bolsa.
Contactos:
O Canto da Rola
Rua Central, n.º 35, Mouraria
Tornada, 2500-304 Caldas da Rainha
262-844049 ou 93-431-8515
Contactos:
O Canto da Rola
Rua Central, n.º 35, Mouraria
Tornada, 2500-304 Caldas da Rainha
262-844049 ou 93-431-8515
longobedience@gmail.com
17 julho 2010
Guardar o coração
O «coração» que devemos guardar será isto?
Ou será isto?
Há dias, no culto de encerramento do ano lectivo do Seminário Baptista (3 de Julho), preguei sobre Provérbios 4:23. O André Fonseca estava a dar testemunho da sua experiência como estudante e a agradecer os apoios recebidos. Recebeu o diploma de bacharelato e tem o plano de ir agora assumir a liderança de uma igreja baptista brasileira em Oxford.
Tenho muita amizade e muito respeito pelo André. Mas conheço o seu «coração»? Ele conhece o meu? Sou tentado a dizer que sim. Curiosamente o André cortou o meu cabelo por duas vezes, mesmo nas instalações do Seminário (não conheço nenhuma outra situação em que as instalações do Seminário tenham sido usadas assim!). Estava a tirar um curso de cabeleireiro e queria praticar. E era, também, a sua maneira de expressar a sua gratidão pelo apoio que lhe estava a dar – algum, inclusive, na língua inglesa. Que vai precisar...
Não, não é uma fotografia do André!Nem sou eu!
Mas, o que me chamou a atenção é que ele, como cabeleireiro, melhorou bastante da primeira vez para a segunda. Bom sinal. Mostrou-se bastante perfeccionista. Não era só uma ocupação para ganhar dinheiro. Bom, também. Inclusive disse-me que às vezes fala da sua fé com os clientes. Acho que é bom sinal também.
Mas conheço o «coração» do André? Segundo Jeremias 17:9-10, não é mesmo possível alguém, sem ser Deus, conhecer o coração humano. Isso significa que posso nem sequer conhecer o meu.
Espero poder desenvolver este tema em várias postagens – o resumo, com alguns acrescentos, daquilo que apresentei em Tires naquele sábado à tarde. Tive algumas surpresas enquanto preparei a mensagem.
E o vosso «coração»? Como vai?
24 junho 2010
Que tal umas férias diferentes em família?
Queremos convidá-lo a disfrutar do Canto da Rola, um centro cristão de estudo e retiro perto de Caldas da Rainha.
Horas seguidas na praia são o encanto de alguns, mas saturam outros...

Há quem goste de subir montanhas - conhece as serras de Candeeiros e de Montejunto?
E há quem prefira o mar - vai um pulinho à Berlenga?
Uns gostam imenso de ler,
mas alguns já não se separam do seu portátil.
Provavelmente, nenhum de vocês pensou em dedicar algumas horas das férias a trabalho voluntário...


Como, de resto, os monumentos históricos.
("Quero lá saber de que seculo é, ou se o D. Pedro e a Inês estão lá sepultados!")



Provavelmente, nenhum de vocês pensou em dedicar algumas horas das férias a trabalho voluntário...
Mas pode haver alguém na tua família que prefira fazer algo de que tu não gostas.
Por isso, o ideal é tentarem conciliar tudo.
E que sítio melhor para isso do que o Canto da Rola?
É uma vivenda com um segundo andar com acesso independente, ideal para uma família passar uma semana.
No primeiro andar o casal Alan e Celeste Pallister, vivem e têm muito gosto em combinar tempos para vos conhecerem, ou para «pormos a conversa em dia»...
A biblioteca do Centro está à vossa disposição.
E podemos dar-vos tarefas manuais - se quiserem, claro!
As praias ficam entre 5 e 15 kms.
Os monumentos históricos entre 12 e 40 kms.
As serras (dos Candeeiros e Montejunto!) a cerca de 30kms.
E o Bairro Alto de Lisboa (se tiverem saudades!) a uns meros 100kms.
Isso para não esquecer a Berlenga. Peniche fica a uns 40 kms. Os barquinhos são muito bons e as gaivotas na ilha são abundantes.
Não cobramos a estadia no Centro como se fosse pensão, mas sugerimos que uma família possa dar um donativo de €7,50 por pessoa por noite, para ajuda das despesas do Centro. Este valor não inclui refeições, mas o 2º andar tem uma cozinha à disposição das visitas.
E o tal equilíbrio que procuraram sempre para os diversos interesses na família... quem sabe se não o vão encontrar aqui?
E quem sabe se Deus não vos vai dar uma experiência nova, através do num Centro que outros se esforçaram para pôr à disposição para vos servir?
Ainda temos semanas disponíveis este verão!
Contactem-nos:
O Canto da Rola
Rua Central, n.º 35, Mouraria
Tornada, 2500-304 Caldas da Rainha
262-844049 ou 93-431-8515.
alanpallister@clix.pt
E que sítio melhor para isso do que o Canto da Rola?
É uma vivenda com um segundo andar com acesso independente, ideal para uma família passar uma semana.
No primeiro andar o casal Alan e Celeste Pallister, vivem e têm muito gosto em combinar tempos para vos conhecerem, ou para «pormos a conversa em dia»...
A biblioteca do Centro está à vossa disposição.
E podemos dar-vos tarefas manuais - se quiserem, claro!
As praias ficam entre 5 e 15 kms.
Os monumentos históricos entre 12 e 40 kms.
As serras (dos Candeeiros e Montejunto!) a cerca de 30kms.
E o Bairro Alto de Lisboa (se tiverem saudades!) a uns meros 100kms.
Isso para não esquecer a Berlenga. Peniche fica a uns 40 kms. Os barquinhos são muito bons e as gaivotas na ilha são abundantes.
Não cobramos a estadia no Centro como se fosse pensão, mas sugerimos que uma família possa dar um donativo de €7,50 por pessoa por noite, para ajuda das despesas do Centro. Este valor não inclui refeições, mas o 2º andar tem uma cozinha à disposição das visitas.
E o tal equilíbrio que procuraram sempre para os diversos interesses na família... quem sabe se não o vão encontrar aqui?
E quem sabe se Deus não vos vai dar uma experiência nova, através do num Centro que outros se esforçaram para pôr à disposição para vos servir?
Ainda temos semanas disponíveis este verão!
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14 junho 2010
Andas à procura de férias LOW-COST em Agosto?
Esquece, já não vais a tempo...
A menos que escolhas um destino diferente...
Viagens LOW-COST todo o ano
Alojamento LOW-COST - só em Agosto!
de aproveitar o
de lavar a loiça
ou limpar o chão,
podes ficar no Canto da Rola de 9 a 13 de Agosto por apenas €48*.
*Este valor inclui alojamento, pequeno-almoço, almoço e jantar.
*Este valor inclui alojamento, pequeno-almoço, almoço e jantar.
Além disso, é uma oportunidade de enriqueceres os teus conhecimentos através de uma tecnologia inovadora (vê o vídeo!)
Se calhar muitas coisas são parecidas com as que tens que fazer em casa... mas numas férias low-cost, num lugar diferente e bonito e com um grupo de amigos, tem outro sabor!
Contactos:
John Pallister: 933617265 / 911039717 - longobedience@gmail.com
Alan Pallister: 262844049 / 934318515 - alanpallister@clix.pt
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25 maio 2010
Voar mais alto?
Voar mais alto?
Quando tinha 19 anos (lá em 1970), queria voar mais alto. Era recém convertido a Cristo, mas achava que o meu feitio introvertido não servia para falar com os outros acerca da minha fé.
Estava num pequeno núcleo de estudantes (o «GBU») de Cambridge. E o meu «college» tinha uma alta percentagem de filhos da classe alta... cujos pais em tempos tinham estudado no mesmo «college». Vindo de uma família modesta de agricultores, sentia-me deslocado.
Dentro de pouco tempo, percebi que havia dois tipos de crentes no grupinho. Os crentes «normais», evangélicos conservadores (anglicanos, baptistas, Irmãos, etc.) e os crentes «baptizados pelo Espírito». Estes normalmente não eram das denominações pentecostais mas sim dos movimentos «carismáticos, que surgiam nas mais diversas denominações – e mesmo na Igreja Católica. Como alguns juntavam à sua experiência de baptismo no Espírito e línguas o serem extrovertidos, e estarem à vontade nos mais diversos meios sociais, eu julgava que estes espiritualmente voavam mais alto. Fiquei com uma vontade enorme de «voar» com eles, especialmente como um que estava na mesma Faculdade que eu e com quem, durante um tempo, tive bastante amizade.
A ideia era mais ou menos assim: alguns crentes têm apenas Cristo, e o Espírito Santo a morar neles, mas falta-lhes poder. Precisam de uma libertação – de um «baptismo» que os faça rebentar as correntes da sua personalidade – e comunicar com todos com brio e vivacidade. Outros têm Cristo e «mais qualquer coisa».
Depois de apreciar com o meu colega as passagens bíblicas de Actos dos Apóstolos que mostram o poder com que os apóstolos testemunhavam de Cristo, pedi para ser baptizado assim. E senti alívio e alguma exuberância. Falei línguas, mas apenas para mim – não me atrevia mesmo assim a fazer isso em público.
Foi bom ou não foi, ter passado por essa experiência? Julgo que o esforço determinado de procurar mais de parte do Senhor, de procurar de coração ser cheio do Espírito, é bom.
Por outro lado, a sensação de ter subido para um patamar superior de espiritualidade, fazia com que me sentisse superior a outros crentes ao meu lado. Superior àlguns que de facto eram aqueles que mais me ajudavam. Superior, inclusive, aos conhecidos pregadores que vinham dar a exposição semanal. Durante um tempo cheguei ao ponto de achar que tinha pouco a aprender dos Drs. John Stott e Jim Packer. Que vergonha! Queria era ouvir alguém «cheio do Espírito» (e esse não eram): um Oral Roberts, se tivesse vindo, talvez me servisse!
Percebi afinal que estava a cultivar uma ilusão. Estava a querer mudar a minha personalidade. Estava a partir da base de que a minha maneira de ser introvertida era inferior ao temperamento extrovertido do meu colega. Como serás evidente, não mudei de personalidade e, depois de algum tempo, tive que constatar que era eu, tal como era, com quem Deus desejava fazer a Sua obra: não um «eu» modificado, modelado com base numa personalidade diferente. E, da forma que a minha personalidade permitia, pude testemunhar de Cristo entre os meus colegas.
Tive que constatar que, para tudo o que Deus quisesse fazer na minha vida, Cristo era suficiente. E procurar dEle, diariamente, a plenitude do Espírito, não imaginando que pudesse de repente ser catapultado para outro nível em tivesse «Cristo mais alguma coisa», não imaginando que precisasse de ficar livre do meu temperamento que, afinal, era um dom precioso de Deus.
Quando tinha 19 anos (lá em 1970), queria voar mais alto. Era recém convertido a Cristo, mas achava que o meu feitio introvertido não servia para falar com os outros acerca da minha fé.
Estava num pequeno núcleo de estudantes (o «GBU») de Cambridge. E o meu «college» tinha uma alta percentagem de filhos da classe alta... cujos pais em tempos tinham estudado no mesmo «college». Vindo de uma família modesta de agricultores, sentia-me deslocado.
Dentro de pouco tempo, percebi que havia dois tipos de crentes no grupinho. Os crentes «normais», evangélicos conservadores (anglicanos, baptistas, Irmãos, etc.) e os crentes «baptizados pelo Espírito». Estes normalmente não eram das denominações pentecostais mas sim dos movimentos «carismáticos, que surgiam nas mais diversas denominações – e mesmo na Igreja Católica. Como alguns juntavam à sua experiência de baptismo no Espírito e línguas o serem extrovertidos, e estarem à vontade nos mais diversos meios sociais, eu julgava que estes espiritualmente voavam mais alto. Fiquei com uma vontade enorme de «voar» com eles, especialmente como um que estava na mesma Faculdade que eu e com quem, durante um tempo, tive bastante amizade.
A ideia era mais ou menos assim: alguns crentes têm apenas Cristo, e o Espírito Santo a morar neles, mas falta-lhes poder. Precisam de uma libertação – de um «baptismo» que os faça rebentar as correntes da sua personalidade – e comunicar com todos com brio e vivacidade. Outros têm Cristo e «mais qualquer coisa».
Depois de apreciar com o meu colega as passagens bíblicas de Actos dos Apóstolos que mostram o poder com que os apóstolos testemunhavam de Cristo, pedi para ser baptizado assim. E senti alívio e alguma exuberância. Falei línguas, mas apenas para mim – não me atrevia mesmo assim a fazer isso em público.
Foi bom ou não foi, ter passado por essa experiência? Julgo que o esforço determinado de procurar mais de parte do Senhor, de procurar de coração ser cheio do Espírito, é bom.
Por outro lado, a sensação de ter subido para um patamar superior de espiritualidade, fazia com que me sentisse superior a outros crentes ao meu lado. Superior àlguns que de facto eram aqueles que mais me ajudavam. Superior, inclusive, aos conhecidos pregadores que vinham dar a exposição semanal. Durante um tempo cheguei ao ponto de achar que tinha pouco a aprender dos Drs. John Stott e Jim Packer. Que vergonha! Queria era ouvir alguém «cheio do Espírito» (e esse não eram): um Oral Roberts, se tivesse vindo, talvez me servisse!
Percebi afinal que estava a cultivar uma ilusão. Estava a querer mudar a minha personalidade. Estava a partir da base de que a minha maneira de ser introvertida era inferior ao temperamento extrovertido do meu colega. Como serás evidente, não mudei de personalidade e, depois de algum tempo, tive que constatar que era eu, tal como era, com quem Deus desejava fazer a Sua obra: não um «eu» modificado, modelado com base numa personalidade diferente. E, da forma que a minha personalidade permitia, pude testemunhar de Cristo entre os meus colegas.
Tive que constatar que, para tudo o que Deus quisesse fazer na minha vida, Cristo era suficiente. E procurar dEle, diariamente, a plenitude do Espírito, não imaginando que pudesse de repente ser catapultado para outro nível em tivesse «Cristo mais alguma coisa», não imaginando que precisasse de ficar livre do meu temperamento que, afinal, era um dom precioso de Deus.
04 maio 2010
Miopia evangélica....
A nossa equipe de pregadores na igreja acaba de terminar uma série de mensagens expositivas sobre Apocalipse. A parte do trabalho que me competiu foi expor, entre outros capítulos, o 17 (prostituta de Babilónia - ver última postagem) e 21 (nova Jerusalém).
Desta vez, tendo entregue Apoc. 20 a um membro da equipe, fiquei livre de me pronunciar sobre o velho problema do milénio! Alguns anos atrás mudei de «a-mil...» para «pré-mil...» - mas, sinceramente, o debate já não me parece tão importante - facto este que a minha última turma no Seminário a tratar da escatologia deve ter percebido!
Mas, agora, Apocalipse 21! Fala sobre uma cidade que de Deus desce para a terra (v.2). Fala sobre a transformação de todas as coisas - «novos céus e nova terra em que mora a justiça». É o último e supremo cumprimento do propósito de Deus para o universo que criou: nenhum «a-m...», «pré-m...» (histórico ou dispensacionalista) ou «pós-m...» pode negar este facto central da esperança do cristão para o futuro. É tão central para a Bíblia como o é a doutrina da ressurreição do corpo, ensinada em João e nas epístolas de Paulo, em cumprimento das promessas do V.T.
As implicações ecológicas desta promessa são espantosas. Só se consegue explicar a indiferença histórica dos cristãos a problemas ambientais por uma miopia grave generalizada relativamente a esta doutrina bíblica.
Quando vamos ver hinos e cânticos nas nossas colectâneas, vemos os sinais mais flagrantes desta miopia secular, resultado naturalmente da infiltração de ideias gregas na doutrina cristã. Praticamente todos os hinos do Cantor Cristão e o Hinário para o Culto Cristão, por exemplo, falam como se a suprema esperança do cristão fosse a ida da sua alma para morar eternamente no céu (a fase que a teologia chama apenas a intermediária). Chegam ao ponto de lamentar o nosso apego às coisas belas da criação de Deus!
E nesta área os coros mais novos pouco ajudam. Inovadores na sua melodia e ritmos, muitas vezes são tradicionalistas e limitados no seu conteúdo.
Onde se encontram ecos, no suspiro do cristão para o cumprimento de todas as coisas, das palavras de Paulo... que diz que não desejava ser despido mas revestido (2 Cor. 5:4) para que o mortal fosse absorvido pela vida?
17 abril 2010
ACERCA DA PROSTITUTA DA BABILÓNIA...
Não era exactamente o texto que teria escolhido para um culto em que uma bebé ia ser apresentada ao Senhor!
Mas, seguindo a prática na nossa igreja de pregação expositiva, capítulo por capítulo, chegámos no dia 11 deste mês ao capítulo 17 de Apocalipse!
Veio-me a ideia de relacionar os temas de dinheiro, sexo e poder (cf. livro de Richard Foster, com esse mesmo título) – tão graficamente apresentados aqui na figura da prostituta – com o tema do «idiota», principal personagem do famoso romance de Dostoievski. Numa certa altura o autor faz a seguinte avaliação do Príncipe Miushkin:
«Ele não se importava com pompa ou riqueza, nem mesmo com estima pública, mas importava-se apenas com a verdade».
Quem questiona marginaliza-se. A alta sociedade russa do século XIX sentia-se na necessidade de classificar como “idiota” uma pessoa ingénua e generosa, mas que se preocupava sobretudo com a verdade...
O cerne da minha mensagem no culto do dia 11 foi muito simples. O problema real de Miushkin era a sua perspicácia: era o facto de ele ver a realidade à sua volta e analizá-la com inteligência. Não se deixava ludibriar pela «prostituta». Quem segue a prostituta, prostituindo-se com os valores do dinheiro, do sexo e do poder, fá-lo só porque não analisa correctamente a realidade, nem o verdadeiro resultado das coisas. Quer acreditar que o dinheiro e o prazer sexual extra-conjugal trazem felicidade: mas não se detém na análise de vidas vividas com estes objectivos que terminam na frustração e na tragédia. Por norma não consegue encontrar nem sequer um exemplo de uma pessoa a quem a «prostituta de Babilónia» tenha trazido algum prazer ou benefício reais. Mas abraça-a mesmo assim, fechando os olhos para a realidade e, como quem se embriague, quer convencer-se que é assim que uma pessoa se torna feliz.
Fechar os olhos – e agir com base numa ilusão – é o que o transforma num verdadeiro «idiota».
Também focámos o facto de os dez reis, a quem a mulher dá temporariamente algum poder, se terem virado contra ela (v.16). Os valores da Babilónia destruem-se a si próprios. E é o Deus soberano que usa estes reis para cumprir os Seus propósitos de julgamento.
Apocalipse 17 é bastante drástico! Divide o mundo entre dois tipos de pessoa: aquela que questiona ou rejeita os valores da Babilónia e é chamada «idiota» e aquela que os abraça e realmente é «idiota».
A palavra «idiota» não é bíblica, é verdade! Mas, no fim do sermão, lembrei as pessoas que Deus, nas palavras de Paulo, escolheu «as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias» (1 Cor. 1:27). Afinal a ideia de João e a de Paulo são iguais. Se nos preocuparmos sobretudo com a verdade seremos chamados «idiotas» por causa disso. Mas não valerá a pena?
Mas, seguindo a prática na nossa igreja de pregação expositiva, capítulo por capítulo, chegámos no dia 11 deste mês ao capítulo 17 de Apocalipse!
Veio-me a ideia de relacionar os temas de dinheiro, sexo e poder (cf. livro de Richard Foster, com esse mesmo título) – tão graficamente apresentados aqui na figura da prostituta – com o tema do «idiota», principal personagem do famoso romance de Dostoievski. Numa certa altura o autor faz a seguinte avaliação do Príncipe Miushkin:
«Ele não se importava com pompa ou riqueza, nem mesmo com estima pública, mas importava-se apenas com a verdade».
Quem questiona marginaliza-se. A alta sociedade russa do século XIX sentia-se na necessidade de classificar como “idiota” uma pessoa ingénua e generosa, mas que se preocupava sobretudo com a verdade...
O cerne da minha mensagem no culto do dia 11 foi muito simples. O problema real de Miushkin era a sua perspicácia: era o facto de ele ver a realidade à sua volta e analizá-la com inteligência. Não se deixava ludibriar pela «prostituta». Quem segue a prostituta, prostituindo-se com os valores do dinheiro, do sexo e do poder, fá-lo só porque não analisa correctamente a realidade, nem o verdadeiro resultado das coisas. Quer acreditar que o dinheiro e o prazer sexual extra-conjugal trazem felicidade: mas não se detém na análise de vidas vividas com estes objectivos que terminam na frustração e na tragédia. Por norma não consegue encontrar nem sequer um exemplo de uma pessoa a quem a «prostituta de Babilónia» tenha trazido algum prazer ou benefício reais. Mas abraça-a mesmo assim, fechando os olhos para a realidade e, como quem se embriague, quer convencer-se que é assim que uma pessoa se torna feliz.
Fechar os olhos – e agir com base numa ilusão – é o que o transforma num verdadeiro «idiota».
Também focámos o facto de os dez reis, a quem a mulher dá temporariamente algum poder, se terem virado contra ela (v.16). Os valores da Babilónia destruem-se a si próprios. E é o Deus soberano que usa estes reis para cumprir os Seus propósitos de julgamento.
Apocalipse 17 é bastante drástico! Divide o mundo entre dois tipos de pessoa: aquela que questiona ou rejeita os valores da Babilónia e é chamada «idiota» e aquela que os abraça e realmente é «idiota».
A palavra «idiota» não é bíblica, é verdade! Mas, no fim do sermão, lembrei as pessoas que Deus, nas palavras de Paulo, escolheu «as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias» (1 Cor. 1:27). Afinal a ideia de João e a de Paulo são iguais. Se nos preocuparmos sobretudo com a verdade seremos chamados «idiotas» por causa disso. Mas não valerá a pena?
03 abril 2010
Um outro Calvino, «bullying», outros «infernos» e como fugir deles......
Hoje, na véspera do domingo da Páscoa, mando uma cópia de um artigo publicado no boletim da nossa igreja e na «Gazeta das Caldas». A série de «retalhos da vida de um pastor» provavelmente vai parar por enquanto: mas a história não está completa - e podemos sentir-nos motivados a continuar de aqui algum tempo. Feliz Páscoa a todos de
Alan Pallister.
Encontrei este pensamento no último parágrafo de um intrigante e estranho romance italiano: «As Cidades Invisíveis» de Italo Calvino (1972).
Depois de o explorador Marco Polo descrever cidades imaginárias para o Grande Imperador Kublai Kan, afirma que «o inferno dos vivos não é uma coisa que virá a existir; se houver um, é o que já está aqui, o inferno que habitamos todos os dias, que nós formamos ao estarmos juntos». À parte todos os problemas que afligem a humanidade, tais como terramotos, tsunamis e doenças, há também aqueles que o ser humano inflige ao seu próximo, pensando que aquilo que faz é bastante normal e facilmente perdoável: a fraude, a mentira, o adultério, a intriga..... Quem não sabe que podemos passar dias que são um “inferno” por causa de alguma deslealdade de um amigo ou familiar? Um episódio de «bullying» numa escola, por exemplo, é suficiente para mergulhar um adolescente na mais profunda angústia e, como sabemos de notícias recentes, levá-lo ao suicídio.
O livro «As Cidades Invisíveis» não faz qualquer referência à perspectiva cristã. Mas, diz Polo, «Há dois modos para não o sofrermos....» (isto é, o inferno que as pessoas vivem aqui). «O primeiro torna-se fácil para muita gente: aceitar o inferno e fazer parte dele a ponto de já não o vermos».
Considerando como cristão esta afirmação que faz, tenho que confessar que concordo bastante. A experiência da vida traz desgostos – alguns causados pelos outros e alguns (muitos até) por nós próprios. Chegamos à conclusão de que não há nada a fazer. Se alguém me engana, tenho que sobreviver – então irei enganar outros. Quantos cônjuges, para se vingarem das infidelidades dos seus parceiros, não se envolveram também no adultério? Sofrem duplamente – e sofrem aqueles que não têm culpa, nomeadamente os filhos. O “inferno” vai-se ampliando à volta da pessoa e de todas as suas relações familiares. E, até no inferno, imagino que muitas das conversas das pessoas serão para se justificarem a si próprios: «O que os outros fazem, eu também tenho direito de fazer.....».
Se formos perguntar a esta pessoa, ainda viva, se está no “inferno”, provavelmente irá dizer que não. Quer convencer-se de que a vida ainda é um lugar melhor do que isso.... mas, até para si própria, as palavras soam ocas!
O segundo modo que Marco Polo propõe – embora dizendo que «é arriscado e exige uma atenção e uma aprendizagem contínuas», é «tentar e saber reconhecer, no meio do inferno, quem e o que não é inferno, e fazê-lo viver, e dar-lhe lugar».
Nunca imaginei que um livro que não faz referência ao cristianismo terminasse com frases tão interessantes!
Cada Páscoa as igrejas cristãs convidam-nos a reflectir sobre aquilo na vida que “não é inferno”. Uma leitura dos Evangelho leva-nos à reflexão sobre uma pessoa que não só ensinava a amar o próximo, independentemente de classe ou raça, mas que também praticava esse ensino – até ao ponto de incluir, ao lavar os pés dos discípulos, o traidor Judas. Onde uma pessoa age assim, creio que posso afirmar categoricamente, que não é “inferno”.
Quando posteriormente os seguidores de Jesus, como os Actos dos Apóstolos relatam, procederam da mesma forma – o mártir Estêvão, por exemplo, pedindo perdão para aqueles que o apedrejavam, creio que posso igualmente afirmar também que não é “inferno”.
Não valerá a pena tentar saber quem é que pode fazer viver esta atitude? Não valerá a pena investigar se, no meio das muitas igrejas que hoje se chamam cristãs, não há algumas que, sendo fiéis aos ensinos e exemplo do Seu fundador, procuram de todo o coração viver aqui de acordo com eles? Não iremos encontrar alguns espaços no mundo pós-moderno e traidor em que vivemos, que «não são inferno»? Igrejas perfeitas não iremos encontrar: igrejas em que o desejo prevalecente – e que dão pelo menos algumas expressões práticas disso – acredito que iremos encontrar... e em muitos lugares!
Na minha convicção isto é porque Jesus ressuscitou a seguir à Páscoa judaica, e, tendo ressuscitado, deu vida nova a todos os que lhe «davam lugar» .... isto é que o aceitaram com confiança e com um compromisso claros.
Em vez de aceitar o “inferno” e fazer parte dele, não será melhor procurar com sinceridade algum pequeno espaço que não seja “inferno” e tentar viver nele? E não será melhor, sobretudo, procurar maneira de que seja retirado o “inferno” que está no íntimo de cada um de nós, pedindo isso Àquele que viveu sem pecar e que morreu para nos dar o perdão e oferecer a Sua salvação?
Aqui vai o meu desafio. Visitem uma igreja esta Páscoa. Sugiro que comecem com alguma daquelas que se chamam «evangélicas» - por causa do compromisso que assumem com a Bíblia.
Alan Pallister.
Encontrei este pensamento no último parágrafo de um intrigante e estranho romance italiano: «As Cidades Invisíveis» de Italo Calvino (1972).
Depois de o explorador Marco Polo descrever cidades imaginárias para o Grande Imperador Kublai Kan, afirma que «o inferno dos vivos não é uma coisa que virá a existir; se houver um, é o que já está aqui, o inferno que habitamos todos os dias, que nós formamos ao estarmos juntos». À parte todos os problemas que afligem a humanidade, tais como terramotos, tsunamis e doenças, há também aqueles que o ser humano inflige ao seu próximo, pensando que aquilo que faz é bastante normal e facilmente perdoável: a fraude, a mentira, o adultério, a intriga..... Quem não sabe que podemos passar dias que são um “inferno” por causa de alguma deslealdade de um amigo ou familiar? Um episódio de «bullying» numa escola, por exemplo, é suficiente para mergulhar um adolescente na mais profunda angústia e, como sabemos de notícias recentes, levá-lo ao suicídio.
O livro «As Cidades Invisíveis» não faz qualquer referência à perspectiva cristã. Mas, diz Polo, «Há dois modos para não o sofrermos....» (isto é, o inferno que as pessoas vivem aqui). «O primeiro torna-se fácil para muita gente: aceitar o inferno e fazer parte dele a ponto de já não o vermos».
Considerando como cristão esta afirmação que faz, tenho que confessar que concordo bastante. A experiência da vida traz desgostos – alguns causados pelos outros e alguns (muitos até) por nós próprios. Chegamos à conclusão de que não há nada a fazer. Se alguém me engana, tenho que sobreviver – então irei enganar outros. Quantos cônjuges, para se vingarem das infidelidades dos seus parceiros, não se envolveram também no adultério? Sofrem duplamente – e sofrem aqueles que não têm culpa, nomeadamente os filhos. O “inferno” vai-se ampliando à volta da pessoa e de todas as suas relações familiares. E, até no inferno, imagino que muitas das conversas das pessoas serão para se justificarem a si próprios: «O que os outros fazem, eu também tenho direito de fazer.....».
Se formos perguntar a esta pessoa, ainda viva, se está no “inferno”, provavelmente irá dizer que não. Quer convencer-se de que a vida ainda é um lugar melhor do que isso.... mas, até para si própria, as palavras soam ocas!
O segundo modo que Marco Polo propõe – embora dizendo que «é arriscado e exige uma atenção e uma aprendizagem contínuas», é «tentar e saber reconhecer, no meio do inferno, quem e o que não é inferno, e fazê-lo viver, e dar-lhe lugar».
Nunca imaginei que um livro que não faz referência ao cristianismo terminasse com frases tão interessantes!
Cada Páscoa as igrejas cristãs convidam-nos a reflectir sobre aquilo na vida que “não é inferno”. Uma leitura dos Evangelho leva-nos à reflexão sobre uma pessoa que não só ensinava a amar o próximo, independentemente de classe ou raça, mas que também praticava esse ensino – até ao ponto de incluir, ao lavar os pés dos discípulos, o traidor Judas. Onde uma pessoa age assim, creio que posso afirmar categoricamente, que não é “inferno”.
Quando posteriormente os seguidores de Jesus, como os Actos dos Apóstolos relatam, procederam da mesma forma – o mártir Estêvão, por exemplo, pedindo perdão para aqueles que o apedrejavam, creio que posso igualmente afirmar também que não é “inferno”.
Não valerá a pena tentar saber quem é que pode fazer viver esta atitude? Não valerá a pena investigar se, no meio das muitas igrejas que hoje se chamam cristãs, não há algumas que, sendo fiéis aos ensinos e exemplo do Seu fundador, procuram de todo o coração viver aqui de acordo com eles? Não iremos encontrar alguns espaços no mundo pós-moderno e traidor em que vivemos, que «não são inferno»? Igrejas perfeitas não iremos encontrar: igrejas em que o desejo prevalecente – e que dão pelo menos algumas expressões práticas disso – acredito que iremos encontrar... e em muitos lugares!
Na minha convicção isto é porque Jesus ressuscitou a seguir à Páscoa judaica, e, tendo ressuscitado, deu vida nova a todos os que lhe «davam lugar» .... isto é que o aceitaram com confiança e com um compromisso claros.
Em vez de aceitar o “inferno” e fazer parte dele, não será melhor procurar com sinceridade algum pequeno espaço que não seja “inferno” e tentar viver nele? E não será melhor, sobretudo, procurar maneira de que seja retirado o “inferno” que está no íntimo de cada um de nós, pedindo isso Àquele que viveu sem pecar e que morreu para nos dar o perdão e oferecer a Sua salvação?
Aqui vai o meu desafio. Visitem uma igreja esta Páscoa. Sugiro que comecem com alguma daquelas que se chamam «evangélicas» - por causa do compromisso que assumem com a Bíblia.
15 março 2010
Filhos (3)
As pessoas que iniciaram o primeiro processo de «libertação», já em 1993, diziam que o nosso problema era que não tínhamos jeito para o trabalho com jovens. Acredito que a saída de muitos jovens da igreja nesse ano tenha sido ainda mais por influência desses adultos do que por vontade dos próprios jovens!
Quase todos os amigos que o Ricardo tinha feito, por exemplo, saíram. Alguns terminaram por associar-se a uma igreja «carismática»; a maioria deixou de frequentar qualquer igreja.
Entretanto, poder-se-ia pensar que, tendo eu o ministério de ensinar no Seminário, e tendo nós os dois trabalhado durante anos com o Grupo Bíblico Universitário, tínhamos da parte do Senhor pelo menos alguma capacidade nessa área. Mas o problema dos nossos críticos era o facto de querermos definir limites, ensinando os jovens claramente, por exemplo, a não se envolverem em namoros com pessoas que não eram crentes. Os outros «sabiam» que era preciso, em tempos como estes, a igreja ser mais «tolerante».
Quando, em 1998, os dois grupos da oposição se uniram, para fundar uma nova missão, era em boa parte para tentar juntar os jovens de novo. Estes dois grupos nunca conseguiram relacionar-se bem um com o outro. A «missão» tem continuado a funcionar desde essa altura, agora estando reduzida a um grupo diminuto de pessoas de bastante idade. Tem tido o apoio de uma outra igreja da zona – situação com a qual manifestámos a nossa discordância desde o princípio sem, por isso, deixar de nos relacionarmos com essa igreja.
Houve situações trágicas com alguns jovens das famílias em questão – situações que não queria comentar aqui, por respeito à dor que essas famílias sofreram.
Entretanto os nossos filhos mantiveram-se na igreja, primeiro sendo «levados» pelos pais e, depois, seguindo da sua própria vontade. Encontraram muito apoio em trabalhos como o GBU. Alguns passaram fases «carismáticas», querendo outro estilo de culto. Nenhum prejuízo veio daí: o que puderam aprender de outros lados, aprenderam. Aprenderam a dar, também, valor à exposição da Palavra na nossa congregação – um tipo de ministério que se encontrava pouco, mesmo no meio baptista.
Por respeito a eles não conto aqui algumas das situações incómodas que surgiram – pela graça de Deus não me parece que tenham sido mais prejudiciais do que as que surgem na vida de quaisquer adolescentes.
Agora, como muitos leitores deste blog sabem, dois estão casados com crentes dedicados. A Laura Beswick passou a ser «Pallister» também – e o John (que costumes!) passou a ser «Beswick»! A Lilian passou a ser «Calaim» também – e o Luís (como é que isso poderia ser?) passou a ser «Pallister»! O Ricardo trabalha esforçadamente com crianças e adolescentes na igreja e o Andrew continua a estar envolvido também.
Têm vindo novas famílias à igreja, que não sofreram esses problemas e, neste momento, há um trabalho com adolescentes e crianças com muito dinamismo.
Para os leitores deste blog que conhecem a Bíblia, não será preciso dizer onde é que se encontram passagens que asseguram que, quando criamos os filhos para aceitarem e obedecerem a Palavra, Deus nos honra. Durante muito tempo na nossa casa houve a sensação de que as intrigas e os telefonemas na altura das refeições, de pessoas da igreja, envenenavam o ambiente. Mas foi Deus, muito mais ainda do que a igreja, que cuidou dos Seus filhos. Na lógica de Romanos 8:28, Ele trabalhou para o bem dos Seus, mesmo através desses telefonemas e intrigas!
Quase todos os amigos que o Ricardo tinha feito, por exemplo, saíram. Alguns terminaram por associar-se a uma igreja «carismática»; a maioria deixou de frequentar qualquer igreja.
Entretanto, poder-se-ia pensar que, tendo eu o ministério de ensinar no Seminário, e tendo nós os dois trabalhado durante anos com o Grupo Bíblico Universitário, tínhamos da parte do Senhor pelo menos alguma capacidade nessa área. Mas o problema dos nossos críticos era o facto de querermos definir limites, ensinando os jovens claramente, por exemplo, a não se envolverem em namoros com pessoas que não eram crentes. Os outros «sabiam» que era preciso, em tempos como estes, a igreja ser mais «tolerante».
Quando, em 1998, os dois grupos da oposição se uniram, para fundar uma nova missão, era em boa parte para tentar juntar os jovens de novo. Estes dois grupos nunca conseguiram relacionar-se bem um com o outro. A «missão» tem continuado a funcionar desde essa altura, agora estando reduzida a um grupo diminuto de pessoas de bastante idade. Tem tido o apoio de uma outra igreja da zona – situação com a qual manifestámos a nossa discordância desde o princípio sem, por isso, deixar de nos relacionarmos com essa igreja.
Houve situações trágicas com alguns jovens das famílias em questão – situações que não queria comentar aqui, por respeito à dor que essas famílias sofreram.
Entretanto os nossos filhos mantiveram-se na igreja, primeiro sendo «levados» pelos pais e, depois, seguindo da sua própria vontade. Encontraram muito apoio em trabalhos como o GBU. Alguns passaram fases «carismáticas», querendo outro estilo de culto. Nenhum prejuízo veio daí: o que puderam aprender de outros lados, aprenderam. Aprenderam a dar, também, valor à exposição da Palavra na nossa congregação – um tipo de ministério que se encontrava pouco, mesmo no meio baptista.
Por respeito a eles não conto aqui algumas das situações incómodas que surgiram – pela graça de Deus não me parece que tenham sido mais prejudiciais do que as que surgem na vida de quaisquer adolescentes.
Agora, como muitos leitores deste blog sabem, dois estão casados com crentes dedicados. A Laura Beswick passou a ser «Pallister» também – e o John (que costumes!) passou a ser «Beswick»! A Lilian passou a ser «Calaim» também – e o Luís (como é que isso poderia ser?) passou a ser «Pallister»! O Ricardo trabalha esforçadamente com crianças e adolescentes na igreja e o Andrew continua a estar envolvido também.
Têm vindo novas famílias à igreja, que não sofreram esses problemas e, neste momento, há um trabalho com adolescentes e crianças com muito dinamismo.
Para os leitores deste blog que conhecem a Bíblia, não será preciso dizer onde é que se encontram passagens que asseguram que, quando criamos os filhos para aceitarem e obedecerem a Palavra, Deus nos honra. Durante muito tempo na nossa casa houve a sensação de que as intrigas e os telefonemas na altura das refeições, de pessoas da igreja, envenenavam o ambiente. Mas foi Deus, muito mais ainda do que a igreja, que cuidou dos Seus filhos. Na lógica de Romanos 8:28, Ele trabalhou para o bem dos Seus, mesmo através desses telefonemas e intrigas!
24 fevereiro 2010
Filhos (2)
E, agora, a parte financeira!
Acontece que a nossa família tinha uma característica que complicava ainda mais a situação. A minha esposa, sentindo-se também vocacionada para o ministério na igreja, e tendo uma parte indispensável nele, não recebia salário. O meu salário teria sido suficiente para uma pessoa. Numa altura, perante as pressões, a Celeste aceitou uma colocação numa Escola próxima, para ajudar de maneira ao «barco» não se afundar.
O facto é que a experiência não correu bem – nem a nível da escola, nem a nível da família. Antes os filhos podem ter desejado estar só com o pai: depois perceberam que o pai, envolvido em muito trabalho e ausente uma parte do tempo no Seminário, não podia dar-lhes o apoio que precisavam.
Durante um tempo valeu-nos o produto da venda de uma propriedade, que tinha vindo da herança dos meus pais. Valeu-nos durante o tempo todo o valor que recebia pelas aulas que ministrava no Seminário Teológico Baptista. Valeu-nos também o facto de amigos que recebiam cartas circulares nossas – uma vez que éramos associados (isso é, sem sustento certo) da Missão Cristã Europeia – enviarem ofertas ocasionais. Normalmente era num momento de grande aperto que chegavam estas ofertas, e de uma forma inesperada. Valeu-nos também as pessoas na igreja (mesmo aquelas que passaram a ser «da oposição») nos oferecerem alimentos da sua lavra.
É verdade que os filhos se queixavam do facto de não terem o nível de vida que os seus colegas tinham. Na nossa família também eram feitas as habituais queixas, pela nossa roupa não ser «de marca»! Por outro lado valorizavam férias em família, no campismo, privilégio que muitos dos seus colegas não desfrutavam , mesmo em casos em que os pais ganhavam muito mais. (Uma vez as nossas férias, no parque de campismo de Góis, foram perturbadas por notícias da igreja recebidas por telefone – quando a «oposição» aproveitou a altura para preparar um abaixo assinado, preparando para a reunião que iria exonerar-me. Mesmo assim, acredito que os filhos tenham gostado dessas férias – talvez mais do que nós!).
Sofreu-se muito aperto para eles poderem seguir com os seus cursos superiores! Mas seguiram. E todos, menos o último, já acabaram! E as propinas foram pagas, graças em parte também as bolsas que receberam.
Os temperamentos são diferentes. Acredito que alguns deles tenham sentido mais a experiência de aventura envolvida numa vida assim – e que outros preferissem na altura não ter que passar por esses apertos e peripécias. Mas acredito também que, depois, souberam dar mais valor àquilo que lhes vinha – do trabalho, mesmo do serviço evangélico de tempo integral (no caso de um dos quatro) – graças a essas dificuldades. Também a sua família manteve-se unida: muitas vezes viram grande sofrimento nas famílias em que os pais, mesmo ganhando muito melhor, tinham problemas de relacionamento ou se divorciavam.
Creio contudo que, hoje, se eles citarem Romanos 8:28, não será para manifestar uma atitude de revolta ou ironia. Alguns com mais entusiasmo do que outros – mas creio que todos poderão confirmar que este texto expressa a verdade que experimentámos!
Acontece que a nossa família tinha uma característica que complicava ainda mais a situação. A minha esposa, sentindo-se também vocacionada para o ministério na igreja, e tendo uma parte indispensável nele, não recebia salário. O meu salário teria sido suficiente para uma pessoa. Numa altura, perante as pressões, a Celeste aceitou uma colocação numa Escola próxima, para ajudar de maneira ao «barco» não se afundar.
O facto é que a experiência não correu bem – nem a nível da escola, nem a nível da família. Antes os filhos podem ter desejado estar só com o pai: depois perceberam que o pai, envolvido em muito trabalho e ausente uma parte do tempo no Seminário, não podia dar-lhes o apoio que precisavam.
Durante um tempo valeu-nos o produto da venda de uma propriedade, que tinha vindo da herança dos meus pais. Valeu-nos durante o tempo todo o valor que recebia pelas aulas que ministrava no Seminário Teológico Baptista. Valeu-nos também o facto de amigos que recebiam cartas circulares nossas – uma vez que éramos associados (isso é, sem sustento certo) da Missão Cristã Europeia – enviarem ofertas ocasionais. Normalmente era num momento de grande aperto que chegavam estas ofertas, e de uma forma inesperada. Valeu-nos também as pessoas na igreja (mesmo aquelas que passaram a ser «da oposição») nos oferecerem alimentos da sua lavra.
É verdade que os filhos se queixavam do facto de não terem o nível de vida que os seus colegas tinham. Na nossa família também eram feitas as habituais queixas, pela nossa roupa não ser «de marca»! Por outro lado valorizavam férias em família, no campismo, privilégio que muitos dos seus colegas não desfrutavam , mesmo em casos em que os pais ganhavam muito mais. (Uma vez as nossas férias, no parque de campismo de Góis, foram perturbadas por notícias da igreja recebidas por telefone – quando a «oposição» aproveitou a altura para preparar um abaixo assinado, preparando para a reunião que iria exonerar-me. Mesmo assim, acredito que os filhos tenham gostado dessas férias – talvez mais do que nós!).
Sofreu-se muito aperto para eles poderem seguir com os seus cursos superiores! Mas seguiram. E todos, menos o último, já acabaram! E as propinas foram pagas, graças em parte também as bolsas que receberam.
Os temperamentos são diferentes. Acredito que alguns deles tenham sentido mais a experiência de aventura envolvida numa vida assim – e que outros preferissem na altura não ter que passar por esses apertos e peripécias. Mas acredito também que, depois, souberam dar mais valor àquilo que lhes vinha – do trabalho, mesmo do serviço evangélico de tempo integral (no caso de um dos quatro) – graças a essas dificuldades. Também a sua família manteve-se unida: muitas vezes viram grande sofrimento nas famílias em que os pais, mesmo ganhando muito melhor, tinham problemas de relacionamento ou se divorciavam.
Creio contudo que, hoje, se eles citarem Romanos 8:28, não será para manifestar uma atitude de revolta ou ironia. Alguns com mais entusiasmo do que outros – mas creio que todos poderão confirmar que este texto expressa a verdade que experimentámos!
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