21 fevereiro 2009

2 jumentos... 200 pães... 100 cachos de passas... 100 frutas de verão ... 1 odre de vinho.

2 Samuel 16:1-4.

Quem está a fugir, e numa viagem bem árdua que passa por cima de um monte, pode achar que um presente deste tipo vem mesmo a propósito!

Mas há presentes e presentes. Vieram-me à mente quatro tipos de presentes, no mínimo, e a mensagem que cada um pretende transmitir. Todos eles são símbolos. Em escala descendente, as suas mensagens são assim:
Presente tipo (1) diz: «Eu gosto de ti».
(2) diz: «Eu queria conhecer-te melhor».
(3) diz: «Eu quero que também me dês alguma coisa».
(4) diz: «Eu quero pôr-te do meu lado numa disputa em que estou envolvido».

Vivemos numa cultura em que é bem conhecido o fenómeno da corrupção. O presente (3) e o (4) incluem-se nesta categoria. Provérbios 17:23 diz: «O ímpio tira o presente do seio, para perverter as veredas da justiça».
Quando Ziba, o servo de Mefiboseth (filho adoptivo de David) aparece, perto do cume do Monte das Oliveiras, com essas iguarias todas para o rei e os seus acompanhantes, o momento é muitíssimo bem escolhido. Mas..... Ziba também faz queixa do seu senhor e atribui-lhe falsamente a intenção de ter ficado em Jerusalém para vir a ser rei. Estamos claramente no terreno do (3) e do (4)! Trata-se mesmo de um «presente envenenado».

E David exausto, e com o discernimento e capacidade crítica muito reduzidos, deixa-se enganar.

No ministério pastoral, já recebemos «presentes» que, pelo menos avaliados a posteriori, parecem ter tido intenções do tipo (3) e (4). Isso podemos nem sempre conseguir evitar... podemos vir a perceber a verdadeira intenção só depois. Mas, se percebemos na altura, devemos recusar-nos a aceitar.

O mais importante que temos que cuidar é a análise dos nossos motivos em dar prendas aos outros - e mantermo-nos sempre claramente dentro dos parámetros do (1) ou do (2).

17 fevereiro 2009

Ainda sobre o «se»....

Só me lembrei depois de ter escrito ontem que o «se» nesta passagem de 2 Samuel, que expressa a confiança e não a dúvida, tem um paralelo importante no Novo Testamento:
«Se Deus é por nós, quem será contra nós?» (Romanos 8:31)!

16 fevereiro 2009

Se......

Se.... (2 Samuel 15:25).

O rei e o povo estão de fugida de Jerusalém e passam o ribeiro do Cedron. A seguir, descalços e com a cabeça coberta, sobem o monte das Oliveiras a chorar amargamente. Tudo parece indicar que Absalão ganhou.
Séculos mais tarde o descendente de David, Jesus o Messias, iria parar no mesmo monte e desatar a chorar sobre esta mesma cidade que, no Seu tempo, O rejeitou (ver Lucas 3:28-29).
Abalados pelos problemas do nosso tempo – a crise financeira, a crise da incompreensão ou da rejeição – há líderes e membros experientes das comunidades da fé que estão hoje a perder tudo o que aparentemente tinham de seguro. Sentem-se, naturalmente, perto de David e Jesus, na encosta desse monte.
Mas.... há neste versículo uma partícula: «se».... Numa cultura como a portuguesa, tingida pelo fatalismo, o «se» muitas vezes tem a ver com o especulativo e altamente improvável (se a crise financeira mundial se resolver..... se uma tia rica morrer e me deixar uma boa herança.... se ganhar a lotaria....). Equivale quase ao desespero.
Mas não é assim com o «se» de David. «Se....achar graça nos olhos do Senhor». Dizer «se» pode ser apenas a indicação de que estamos a abandonar definitivamente toda a esperança que tínhamos em nós próprios e estamos, ao mesmo tempo, a afirmar a dependência real do Senhor que já no passado Se manifestou claramente nas nossas vidas. Podemos estar de facto a afirmar que estamos inseridos numa história escrita por Aquele que tem a última palavra sobre todos os acontecimentos. É Ele que dita todos os passos que necessários para lá chegarmos, passando por muitos caminhos que podem parecer ser de derrota total.
David naturalmente se sente cansado e frustrado. Sente o peso e os traumas incuráveis de erros passados .. traumas estes que subsistem apesar do facto de ter sido perdoado. Mas manda a arca a Jerusalém, porque acredita que Deus o vai fazer voltar até lá. Depois, em bastante menos tempo do que pareceria razoável ou mesmo possível, é exactamente isso que Deus faz.
Quando o «se» significa que recordamos o que Deus fez em nós e por nós pela Sua graça, e voltamos a firmar a nossa confiança de que Ele não muda, esta partícula, em vez de expressar esperanças incertas ou utópicas, pode introduzir os mais espantosos relatos de vitória!

Obrigado, Nuno Calaim, por teres escrito de Moçambique a dar um estímulo e uma palavra de ânimo. Vou tentar corresponder!

06 fevereiro 2009

Uma festa de tosquiadores..... e a teoria da «tábula rasa».

Já em 27 Janeiro falei de Absalão. E agora (4 Fev.) retomei o assunto e disse que ia seguir. Acho que interessa voltar um pouco ao princípio.. e estender isto durante algum tempo.
O conhecido conselheiro familiar, James Dobson, no seu livro «Solid Answers», ed. Tyndale, 1997, critica a ideia de que a personalidade humana é fruto do que a sociedade e o ambiente escrevem na «tábula rasa» que é cada bebé que chega ao mundo. A ideia vem de Locke e Rousseau.
Nas minhas primeiras leituras acerca de Absalão, era bastante influenciado por esta ideia. Tendia a culpar os efeitos dos erros de David, o pai por tudo aquilo que o filho revoltoso faz de errado. A revolta de Absalão não surge do facto de David não ter conseguido disciplinar Amnon, o meio-irmão que violou e depois rejeitou a sua irmã Tamar (ler 2 Samuel 13)? E, dando um passo mais para trás, Amnon não esteve apenas a copiar o modelo que David dera quando adulterara com Batseba?
Se fizermos uma leitura deste tipo, podemos chegar ao ponto de querer admirar Absalão por conseguir fazer aquilo que David não tem coragem para fazer – ter uma «mão firme», fazendo Amnon sofrer por aquilo que este fez sofrer à sua irmã. E, se acharmos que «os fins justificam os meios», podemos querer perdoar as artimanhas de Absalão (o facto de dar esta punição na altura de uma festa de tosquia, em que prepara tudo para Amnon ser morto num momento de embriaguez).
Mas, depois de chegar a este ponto, percebi que a própria Bíblia não pretende que se leia o relato de Absalão só desta maneira. É verdade que mostra, de uma forma brilhante, a relação que existe entre os pecados dos pais e os dos filhos. Mas não justifica os erros dos filhos desta forma.
Acredito firmemente que a doutrina bíblica e histórica do «pecado original» dá uma explicação mais satisfatória do comportamento humano do que a teoria da «tábula rasa».
Se creio que sou «tábula rasa», posso culpar os meus pais ou a sociedade por tudo o que faço de errado. Se creio no pecado original, sou obrigado a dizer que sou eu o culpado. David depois diz (Salmos 51:3-4) que é responsável por aquilo que fez e, sem considerar que assim entra em contradicção, que nasceu em pecado. Toda a evidência é que Absalão, por contraste com o pai, nunca chega à lucidez e ao arrependimento a que seu pai chegou.
Absalão não é só, nem principalmente, o que David ou a sociedade faz dele. É, e no último dia será, julgado pelas suas próprias atitudes e actos, que nascem dos recantos escuros do seu próprio coração.

04 fevereiro 2009

«PROVAVELMENTE...... não tens quem te ouça da parte do rei....»

Os cartazes afixados em Janeiro nos autocarros de Londres evocam as provocações de Absalão. Só que o «provavelmente» é um acrescento meu às palavras do filho-revolucionário do rei David (ver 2 Samuel 15:3).

A Associação Humanista da Grã Bretanha – com o apoio do cientista Richard Dawkins – parte da base de que Deus não existe («provavelmente!») para uma «generosa» autorização às pessoas para elas desfrutarem da vida.

Como a campanha, bem elaborada, veio a seguir ao eclodir da crise financeira mundial, «provavelmente» esta Associação devia ter acrescentado à sua autorização às pessoas uma condição: «se fizeres parte da reduzidíssima percentagem da população mundial que tem meios financeiros para o fazer». E depois teria ainda que acrescentar: «Provavelmente daqui a um ano ainda terás os meios suficientes para poderes desfrutar da vida...»! (Teremos?).

O «timing» da campanha não foi nada bom... para o que a Associação Humanista pretendia. Para o que Deus pretendia, através dessa campanha ousada e irreverente, «provavelmente» terá sido um «timing» excelente.

Dentro de dias esperamos voltar com algo mais sobre Absalão....

27 janeiro 2009

A voz que ouço, é do Senhor ou é minha?



Ao ocupar-se dos negócios do reino, em lugar de seu pai David, o jovem Absalão dá a impressão de ser extremamente habilidoso – um líder promissor com qualidades para ter um reinado mais bem sucedido do que do seu pai. O povo deixa-se convencer com facilidade. Absalão é belo e agradável e tem uma cabeleira impressionante......

Apesar de tudo, a imagem conta. E se Absalão vivesse hoje – não seria um sucesso?

Mas Absalão tem um defeito de fundo, que consegue disfarçar no princípio, mas que termina por ser a sua ruína. A voz interior que ouve (que ele talvez julgue ser a voz de Deus) é realmente a voz da sua própria ambição.

Pessoalmente, fico apreensivo com pessoas que dizem com frequência que ouvem a voz de Deus. Desconfio que o seu «Deus» possa ser nem mais nem menos do que a voz da sua própria ambição. Fico também apreensivo com pessoas que elegem outra pessoa para ser a sua «voz infalível» - o «profeta»

através de quem Deus sempre lhes fala. Normalmente, se falamos com estas pessoas com base na Bíblia, não têm muita paciência para ouvir: julgam que elas próprias, ou o seu profeta predileto, estão mais perto dEle do que nós.

O «profeta» predileto de Absalão chama-se Aquitofel. Quando Absalão o ouve falar, fica deliciado: é como se Deus lhe falasse directamente (2 Samuel 16:23). E Absalão é um homem ambicioso: Aquitofel é suficientemente astuto para saber que, para influenciar o jovem revolucionário, tem que falar de acordo com a «voz interior» da ambição dele. Mas, quando lemos o primeiro conselho que Aquitofel dá a Absalão, ficamos abismados: aconselha-o a consolidar a sua posição com os seus apoiantes, entrando a todas as concubinas do seu pai. Será mesmo Deus que lhe dá essa ideia? Mas Absalão segue o conselho porque está nos seus interesses.

Mais adiante Aquitofel dá outro conselho que, nas circunstâncias, parece bastante acertado – que Absalão o deixe ir de noite para atacar o rei de improviso, aproveitando o seu cansaço para o vencer rapidamente. Só que a seguir Aquitofel dá outro conselho, desta vez através de uma pessoa chamada Husai, que aparece pela primeira vez. Podemos perguntar-nos por que é que Absalão vai ouvir a voz de Husai, se mal o conhece e se Aquitofel é quem fala directamente com Deus?

O que acontece é que Husai sugere um plano muito mais ambicioso. Sugere que Absalão junte todo o Israel, planeando tudo com tempo e com um alto grau de organização, para derrotar David numa grande batalha que será completamente decisiva. E, neste caso, será o próprio Absalão que irá à frente das suas tropas! Poderia haver algum plano de auto-promoção melhor do que este, para Absalão seguir?


Agora - se Aquitofel costuma falar da parte de Deus, e Husai é quase um desconhecido - porque será que, de repente, Absalão gosta mais da ideia de Husai do que da do seu «profeta»? O facto é que é Husai que toca no ponto essencial, dizendo que Absalão irá à frente das tropas. Apela à ambição do jovem revolucionário. Assim, de repente, este acha que Deus deve estar a falar por meio de Husai! Afinal parece que o «Deus» de Absalão não é o Senhor soberano dos céus e da terra, mas sim a sua própria ambição. Durante um tempo pode ter parecido que usava o nome de Deus e que de facto honrava o Senhor. Agora fica claro a quem é que Absalão serve realmente.

Em breve vemos que é exactamente o conselho de Husai que traz a derrota a Absalão. O verdadeiro Senhor dos céus e da terra foi Quem determinou que Husai desse este «mau» conselho – para que Absalão fosse derrotado e julgado!

Acho que devemos pensar bem nisto. Quando nos convencemos de que Deus nos falou, de quem é que foi realmente essa voz? E se uma pessoa tão inteligente como Absalão seguiu tão maus conselhos, qual é a garantia de que nós, confiando na nossa «voz interior», não vamos enganar-nos tão redondamente como ele?

Publicado também no «Reflexo», boletim da Igreja Baptista de Caldas da Rainha.




27 dezembro 2008

Maria a guardar e a ponderar......

Durante várias semanas não escrevi nada no blogue. Este tempo frio parece ter alterado a minha tensão arterial. Graças a Deus, consegui manter a maior parte das minhas actividades obrigatórias. Mas, graças à compreensão da minha esposa e - mais perto do Natal - dos meus filhos também, consegui fazer algumas pausas. E aproveitei para ponderar.....
Quando Maria acabava de dar à luz ao menino-Rei, outros divulgaram a notícia com grande entusiasmo, mas ela ponderou (Lucas 2:17-20). Estas reacções diferentes devem-se naturalmente a factores de temperamento e a outras circunstâncias. Mas, já pensaram como Deus precisou que alguém guardasse os acontecimentos no seu coração, talvez mais do que precisou de ter quem os divulgasse de imediato?
Quem divulgue de imediato fala do que viu e sentiu... e, sem faltar à verdade, pode dar uma noção muito incompleta do significado dos acontecimentos. (Já viram, por exemplo, como testemunhos de cura divina podem ser genuínos, de coração, mas dão a impressão de que curar o nosso corpo é o melhor e o maior do que Deus tem para nós aqui.... uma distorção teológica bem-intencionada, mas grave nos seus efeitos?). Quem pondere enquadra os acontecimentos num contexto, relaciona com profecias da antiguedade, reflecte sobre os paradoxos, aponta para um significado histórico..... Se Maria não tivesse guardado os acontecimentos no seu coração, de onde é que o evangelista Lucas teria tido a sua informação para escrever os relatos? Ele que, não sendo um dos doze discípulos, fez questão de usar a narração dos factos segundo os transmitiram as testemunhas (Lucas 1:1-4) ...  quantas horas terá gasto a recolher estes dados, posteriormente à Ressurreição do Mestre, de uma Maria bem lembrada, serena e agradecida?
O trecho em Lucas que relata as promessas dadas e o nascimento de João e Jesus, e o que aconteceu logo a seguir, tem 118 versículos. Mateus cobre o mesmo período, com dados a maior parte diferentes, em 31. Estes são os únicos relatos do primeiro Natal que existem, e é quase 80% a parte que foi comunicada por Maria a Lucas. Se ela não tivesse guardado tudo no seu coração, ponderando sobre o seu significado......?
Só quem reflecte com alguma seriedade e profundidade consegue «encaixar» palavras que revelam o lado escuro das coisas. Um simples divulgador, entusiasmado por notícias e acontecimentos bons, ter-se-ia provavelmente esquecido de («bloqueado») as palavras misteriosas de Simeão (Lucas 2:34-35) que disseram que uma espada traspassaria a sua própria alma, relacionando isto com a revelação dos pensamentos de muitos corações. Mas Maria, tendo reflectido sobre estas palavras, e tendo-as visto cumpridas nas horas escuras da morte do seu Filho, assim conseguiu articular ideias e factos de uma forma que, magistralmente, articularam o grande plano de Deus para a salvação do homem.
De facto Maria, então, contou o nascimento do seu Filho e o seu significado, de uma forma que chegou a cada geração de crentes, em todo o mundo, ao longo de todas as gerações. Quem fez questão de guardar e ponderar terminou por divulgar. Os que divulgaram com grande entusiasmo, no princípio, fizeram impacto de uma forma passageira... e pouco conseguiram articular o significado do que estavam a anunciar.


05 novembro 2008

Música no Canto da Rola: Mahler



Dias 28 e 29 de Novembro vamos ter uma oportunidade de conhecer Gustav Mahler no Canto da Rola. A música erudita contemporânea às vezes é difícil, mas na minha experiência conhecer um pouco da vida do compositor e ser "iniciado" na sua música por alguém que a conhece e explica é um privilégio raro.

O César Proença é um amigo de longa data. Ele é arquitecto em Coimbra, e nas horas vagas ouve e colecciona música, sobretudo clássica e jazz. Eu lembro-me bem de uma noite em que ele introduziu um pequeno grupo de estudantes a John Coltrane e a Olivier Messiaen, e nos ajudou a compreender estes músicos geniais, embora às vezes difíceis; foi uma sensação de os meus olhos serem abertos para uma realidade maior.

Aqui fica a publicidade.

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Gustav Mahler (1860-1911):
uma Alma entre dois mundos

Sexta, 28/11 às 21h: palestra com música
Sábado, 29/11 às 10h30: mais música

Mahler, o compositor do paradoxo e do conflito.
Entre a esperança efémera e a tragédia, entre o anseio pela fé e a descrença, entre a eloquência melódica e o poema, entre a grandiosidade orquestral do mundo e a frágil atonalidade da alma.
Nenhuma música melhor traduz a estranha era em que viveu - uma era de tensão e transição, tal como a nossa.
Talvez por isso, só foi verdadeiramente apreciado meio século depois da sua morte. Reconhecimento, aliás, que antecipou profeticamente.
E mesmo quando a angústia e o desgosto de tudo o despojaram, jamais duvidou do seu legado. O meu tempo há-de chegar, dizia.
E chegou.
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Na sexta à noite, o César vai fazer uma palestra com alguma música para nos apresentar a vida fascinante deste músico.
No sábado de manhã, queremos ter mais tempo para ouvir a música de Mahler - afinal de contas, essa é a melhor forma de conhecer um músico!
Qualquer pessoa é bem vinda para 6ª ou Sábado ou para ambos.

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Dormida
Temos alguns lugares disponíveis, caso queiram passar a noite no Canto da Rola para disfrutarem das duas partes deste evento, e também de um sítio calmo e bonito. Sugerimos a contribuição de €5 por pessoa, para a manutenção da casa.
A estadia tem que ser marcada por e-mail (longobedience@gmail.com) ou telefone (933617265 / 911039717).

Como chegar ao Canto da Rola?


JBP

04 novembro 2008

SUBVERTER MITOS GLOBAIS

O nosso amigo David Cameira pergunta quando é que o «Canto da Rola» vai pensar numa edição dos sermões de F.W.Robertson. Fico muito satisfeito com o interesse despertado neste irmão que chamo «emergente» do século XIX.

Devo explicar que, depois de «Ética Cristã Hoje» (que leva na capa o nome da Associação Evangélica Cascatas, e que foi financiado por um amigo português que quis manter-se anônimo), a Direcção do Centro decidiu que não ia envolver-se directamente em publicações: as nossa opções vocacionais, o nosso tempo e outros factores obrigaram-nos a definir outras prioridades. Se, entre os nossos leitores surgir algum tradutor, e se surgir algum financiador, (dois «ses» bastante grandes!) não teria problemas em propor ao Núcleo, por exemplo, uma edição de sermões de Robertson. Entretanto, quem souber inglês, aproveite já na Internet para ler os sermões!

E, entretanto, uma forte recomendação para que adquiram um livro magistral com o título «Subverting Global Myths» de (imaginem quem!) Vinoth Ramachandra. Foi publicado pelo SPCK, Inglaterra, no verão de 2008. Ao ler o livro tive uma sensação parecida à que teria se tivesse sido criado perto de algumas vivendas, observando sempre as pessoas que entravam e a saiam, e só décadas depois tivesse tido a oportunidade de ver as mesmas casas de outro ângulo. De repente passei a ver muito mais movimento. Percebi mais claramente a quê é que se dedicavam as pessoas que habitavam as vivendas. Tive que rever muitas suposições que tinha formado, com base em pouca evidência factual, sobre a vida dos habitantes.

Os mitos que Vinoth revê são os mais pertinentes possível: o do «terrorismo», o da violência religiosa, o dos direitos humanos, o do multiculturalismo, o da ciência e o do pós-colonialismo. Critica e cita abundantes evidências factuais contra a visão ocidental desses fenómenos, tingido pelo iluminismo, o racionalismo e diversos imperialismos que nos ensinaram o que é a «realidade», antes de nós a vermos com os nosso próprios olhos.

O que é que aprendeste na escola sobre a Revolução Industrial, por exemplo? Agora, considera o seguinte parágrafo (tradução minha) de «Subverting Global Myths»:

«As duas indústrias principais da Revolução Industrial Britânica foram o ferro/aço e o algodão. Em 1788, no entretanto, a produção de ferro ainda era mais baixa do que a que a China tinha atingido em 1078! O que é especialmente notável aqui é que nestas duas indústrias a Índia esteve em primeiro lugar até cerca de 1800. O aço Wootz da Índia exportava-se à Pérsia, onde providenciou a base para o famoso aço Damask. Além disso, o aço da Índia era ao mesmo tempo superior e mais barato que o aço produzido em Sheffield. Em 1842 o número de altos fornos («blast furnaces») na Índia era cinquenta vezes maior do que o número que existia em Inglaterra e ainda em 1873, ano de máxima produção na Inglaterra, havia dez vezes mais na Índia. Quando os britânicos finalmente se interessaram na produção de aço, foi naturalmente para a Índia e a China que olharam».

Vinoth cita algumas vezes Michel Foucault, que mostra como mesmo os «factos históricos» são escritos desde o ponto de vista do poder.

É muito refrescante e animador também, para quem acredita em missões, ver o Vinoth a denunciar o mito das missões serem sempre o instrumento do imperialismo. Mostra como missionários na Índia, como C.F. Andrews, íntimo colaborador de Gandhi, se tornaram os opositores mais plausíveis do racismo e imperialismo britânicos. Mostra como muitos discípulos de Jesus, que foram trabalhar na Ásia e em África, conseguiram despir-se dos seus mitos e deixar um legado, genuíno e convincente, de um Servo sofredor que ultrapassa todo o tipo de barreira e preconceito cultural.

Uma palavra final..... Se amares os teus «mitos» e não quiseres que sejam postos em causa, não leias o livro!

14 outubro 2008

A Mensagem Política de Jesus ou «Emergentes» de Outrora.

«Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem....» (Mateus 5:44).
«Ai de vós ricos! Porque já tendes a vossa consolação» (Lucas 6: 24).

Trata-se de um dos tópicos de Brian McLaren, pensador e teólogo associado à já muito falada «Igreja Emergente» (ver «A Mensagem Secreta de Jesus», ed. Thomas Nelson, Brasil, 2006). É uma abordagem que, em geral, aprecio. Deixem-me citar um parágrafo, para dar uma ideia:
«Em minha educação religiosa não me ensinaram acerca das dimensões pública e política da mensagem de Jesus – somente a respeito do aspecto pessoal e das demais dimensões privadas. Sim, Jesus me ama e queria que eu fosse bom com meu irmãozinho e obediente a meus pais. Porém a ideia de Jesus de que Deus ama os inimigos do meu país, e de que, consequentemente, nossa política exterior deveria reflectir este amor – esta ideia jamais passou pela minha cabeça. Em algum momento, no entanto, comecei a perceber que estava perdendo alguma coisa. Naquele exacto instante, acredito que tenha começado a ter uma ténue e ainda turva percepção acerca da mensagem secreta de Jesus» (op. cit., p. 28).
A leitura do livro é fresca e incómoda: posso recomendá-lo. Depois, a questão de como ser (ou, para alguns, como rejeitar!) a «igreja emergente» no século XXI, deixo para outra altura.
Para mim um princípio importante, quando alguém diz ensinar coisas «novas» ou «secretas» acerca de Jesus, é tentar saber quem é que já as disse antes. Para dizer a verdade li uma boa parte do livro com uma sensação de já ter ouvido muito daquilo que McLaren estava a dizer. Não me enganei: perto do fim do livro McLaren cita John Howard Yoder (1927-1997), famoso autor menonita do livro «The Politics of Jesus», livro este que marcou a minha juventude e a da minha esposa! Sem dúvida, então, que Yoder no seu tempo já foi «emergente»!
Mas, se Yoder era «emergente» na década dos 1970, também o eram os primeiros anabaptistas como Menno Simons, que ensinavam a não-violência como postura política, já no século XVI! E também era «emergente» Calvino, que tanto profetizou contra a egoísmo e as injustiças sociais na mesma época.
Depois, e parece ter sido coincidência, veio à minha atenção os sermões do jovem Frederick William Robertson, pregador em Brighton, Inglaterra nos anos ’40 e ’50 do século XIX! Digo jovem, porque morreu de uma doença cerebral degenerativa, com apenas 37 anos. Em plena época imperialista denunciou, desde um ponto de vista teológico conservador e calvinista, a opressão e as riquezas mal ganhas da sua época. Embora advogasse métodos pacíficos, levantou muitas suspeitas na sua época por causa da sua conhecida simpatia com as ideias políticas de Europa continental, que deram ocasião às revoluções de 1848. O «emergente», F.W. Robertson retrata de uma forma brilhante Jesus a profetizar num contexto semelhante, na sua época. Em alguns sermões Robertson não é menos incisivo e mordaz na denúncia que faz do que o próprio McLaren!
Mas, curiosamente, McLaren, na última parte do seu livro, argumenta que a «mensagem secreta de Jesus» (que passa pela política e outros assuntos semelhantes) foi descoberto só na nossa geração. Inclui Yoder na nossa geração e reconhece que a conhecia – mas não parece conhecer aqueles que a conheciam em outras gerações anteriores!
Aqui não posso concordar. Embore confesse que também por vezes cometi o erro de dizer que alguma coisa não existiu numa determinada época, só porque eu não a conhecia!
É mesmo importante terminar com uma citação extensa de F.W. Robertson! Isto é só para apanharem o «sabor»: os argumentos são cuidadosos e têm que ser lidos de princípio a fim. (Para encontrares muitos dos seus sermões em inglês, basta procurares «Frederick William Robertson», nas paginas da Internet). Quem sabe se Robertson não terá que ser redescoberto, e proclamado nos «blogues» do nosso tempo, como «emergente» da época vitoriana?

«Andou na Galileia e na Judeia a proclamar a queda de toda a injustiça, a revelação e o desmentido de toda a falsidade. Denunciou os homens da lei que recusavam a educação ao povo, para que pudessem reter a chave do conhecimento nas suas próprias mãos. Reiterou Ai! Ai! Ai! aos escribas e fariseus, que reverenciavam o passado, enquanto perseguiam cada novo profeta e cada homem de coragem que se levantava para defender o espírito do passado contra as instituições do passado. Contou parábolas que atacavam com dureza os homens da riqueza......»

«E agora considerem honestamente: - suponhamos que tudo isto tivesse tido lugar neste país; que um estrangeiro desconhecido, não ordenado, sem nenhuma autoridade visível, baseando a sua autoridade na sua verdade, e a sua concordância com a mente de Deus Pai, tivesse aparecido nesta Inglaterra, falando a metade das coisas severas que Jesus falou, contra o egoísmo da riqueza, contra as autoridades eclesiásticas, contra o clero, contra o partido religioso popular – suponhamos que um assim dissesse que toda a nossa vida social está corrupta e falsa. Suponhamos que, em vez de dizer “tu, fariseu cego”, a palavra tivesse sido “tu, homem de igreja cego!....”.

Sermão com o título: «O Julgamento de Cristo a Respeito das Heranças», pregado em 22 de Junho de 1851.

30 setembro 2008

Ao Penedo....

Não conheço pessoalmente o «Penedo» - que se apresenta como «leigo» e como «eterno estudante»! Mas achei intrigante que, não conseguindo perceber o que era a questão, na minha troca de impressões com o Vinoth Ramachandra, tivesse a curiosidade para me perguntar.
Queria, então, tentar colocar a questão de uma maneira mais simples.
Os evangélicos, durante muitas décadas, tiveram o hábito de apresentar a sua mensagem como sendo «individualista» e «espiritual». Isto é, através de um encontro pessoal com Cristo, encontramos a salvação da nossa alma, um lugar seguro no céu, etc. A igreja é um conjunto de pessoas salvas por Cristo e que tem como tarefa evangelizar os outros, para que mais almas se salvem, mais pessoas tenham um lugar seguro no céu, etc.
Para pessoas que focam a mensagem cristã assim, o trabalho social feito por cristãos, por exemplo, parece um desvio, dando atenção a uma dimensão material da vida que só tem interesse temporal.
Vinoth Ramachandra faz parte de uma longa tradição de cristãos evangélicos que têm feito notar que a própria Bíblia não divide o homem desta maneira – numa parte espiritual (a que temos a responsabilidade de nos dirigir) e uma parte material (que é melhor deixar para os outros). Apelam, correctamente na minha opinião, a textos como Jeremias 22:13-17, Miquéas 6:8, Mateus 5:13-16, Mateus 25:31-46 .... entre muitos mais. A «Missão Integral» é uma forma de trabalhar com as pessoas que tenta englobar tudo o que são , «alma» e «corpo», e considera tão válido o envolvimento do cristão na política para tentar que a sociedade seja mais justa, como a pregação do Evangelho, do púlpito e pessoalmente, que foca as questões «espirituais» ou «eternas».
Considero-me também defensor da «Missão Integral», mas, obviamente, com muito menos conhecimento e capacidade de diálogo com a sociedade actual do que o Vinoth. Em 1983, por exemplo, publiquei um livro com o título «O Sabor do Sal», editado pelo Núcleo, em que tentei defender alguns dos mesmos princípios.
Em relação com o Vinoth, a minha única razão de entrar em diálogo foi porque, no seu artigo “O que é a Missão Integral?”, me parecia que estava não só a expressar a sua discordância com a abordagem individualista dos evangélicos tradicionais, mas estava também a usar termos um tanto irónicos em relação com pessoas que sinceramente têm esta ênfase. Ao comparar este tipo de evangelização com a venda de «apólices de seguros», por exemplo, achei que podia ofender irmãos que, tendo uma visão um tanto tradicional ou individualista, agem com muita sinceridade e dedicação. Ainda por cima estes irmãos muitas vezes estão abertas para aprender de nós em outros aspectos: não seguem a sua linha, necessariamente, por teimosia ou por terem uma mente fechada.
Enviei um E-mail ao Vinoth, em Sri Lanka, e recebi uma resposta quase imediatamente. Através da resposta, percebi que ele compreendia a minha preocupação por estes irmãos mais tradicionais mas que, muitos deles, são extremamente dedicados e que trabalham com sinceridade. Senti-me de imediato mais perto dele. Mesmo achando que podia ter dito algumas das coisas de uma forma mais cuidadosa.
No corpo de Cristo cabem muitas abordagens, sensibilidades e filosofias de trabalho diferentes. Só temos vantagem em tentar valorizar positivamente aqueles irmãos que, sendo diferentes de nós, podem ser para nós exemplos de coerência e coragem.
O irmão Vinoth vem de um contexto asiático em que há muita pobreza. Precisamos também de dar atenção ao que tem a dizer aos ocidentais - acerca de uma vida coerente de compromisso com Cristo que abrange todos os níveis da nossa existência.

09 setembro 2008

Resposta a Tiago Cavaco acerca de Vinoth

Obrigado pela atenção que deste ao meu diálogo com Vinoth Ramachandra!

Não tenho muita experiência de «blogues» e está a ser uma experiência interessante perceber o que é que as pessoas conseguem captar e o que não conseguem captar através deles. Mas, como a tua reacção tem alguma coisa em comum com a do próprio Vinoth, admito a hipótese de que eu não tenha dito o suficiente para situar os meus potenciais leitores em relação com as minhas convicções ou com as minhas motivações ao entrar no debate.

Tu – e o Vinoth – captaram, do que parece, uma certa «inocência» nas minhas reacções. Mas nenhum dos dois conseguiu perceber de onde é que vinha essa aparente «inocência». Claro que o meu blogue não entrou em considerações históricas. Lembro-me, por exemplo, (só uma pequeníssima parte da história que presenciei e vivi!) de ter ido debater posições semelhantes às de Vinoth num encontro no Centro Ecumênico de Figueira da Foz, nos anos ’80 (o Pt. Abel Pego também foi), perfilhadas na altura por José Miguez Bonino, um «teólogo da libertação» evangélico da América Latina.

Miguez Bonino conseguia articular as suas preocupações socio-políticas e a sua teologia de uma forma convincente (não pecava, como Gustavo Gutiérrez e outros pecavam, da fraca exegese bíblica habitual entre os católicos da Teologia da Libertação). Vinoth também consegue articular preocupações semelhantes e fala com frescura para uma geração nova. Mas, como deves perceber, não há muito de realmente novo naquilo que Vinoth diz – nem poderia haver: ele está apenas a reafirmar certas posições acerca da necessidade da «integralidade» que precisam de ser afirmadas em cada geração.

O comentário do GBU no teu blog («Pedro said») é um modelo de síntese e identifica correctamente as preocupações principais de Vinoth. Curiosamente, e isto parece que nem tu nem Vinoth conseguiu captar (por isso admito que não o tenha dito com a clareza suficiente), estou com ele e as minhas posições são bastante semelhantes às dele (embora as exponha com menos profundidade e com uma linguagem menos cativante para a geração nova).

O Vinoth parece ter lido nas minhas palavras uma reacção «inocente» que tem como pano de fundo o individualismo e espiritualismo ocidentais. Às vezes afirma que esta mentalidade é inconscientemente herética (docetista, marcionista, etc.). Na minha óptica a ênfase na salvação individual é um componente incontornável que existe na Bíblia («Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma?» - substituir a palavra «alma» pela palavra «vida» não retira nada da força desta preocupação), e se alguns dos meus irmãos na igreja gastam as suas lágrimas em oração e as suas vidas em esforços para tentar levar os seus amigos a conhecer o Salvador (individualmente!), não devo dizer nada para os desmotivar, nem sequer implicitamente. Só devo complementar a sua ênfase, com exortações para eles, e os que levam a conhecer Cristo, «guardarem todas as coisas» que Ele tem mandado.

A resposta que Vinoth me mandou ajudou-me a compreender que ele também tem este sentido do «corpo de Cristo». Para ele também estas abordagens se completam e não devem ser contrapostas uma à outra. No seu artigo há momentos (como quando fala na «justificação pela fé», por exemplo), em que parece que não é assim – parece estar a entrar num reducionismo liberal (quando os meus professores em Cambridge não conseguiam encaixar uma doutrina que o NT ensinava, diziam que fazia parte de uma «tradição» menos importante dentro do «material» do NT!). Através do diálogo, consegui perceber melhor que Vinoth não pertence de maneira nenhuma a esta tradição liberal, já antiga. Espero que ele também tenha compreendido que não sou tão «inocente» como possa ter parecido!

Também, no que diz respeito à tua reacção, perdoa-me, mas creio que me estavas a citar como se fizesse parte de algum tipo de «hierarquia baptista» que tem por hábito alhear-se destas questões. Nem fui criado no meio baptista nem estudei numa faculdade doutrinariamente conservadora (mais liberal do que a Faculdade de Teologia em Cambridge, seria quase impossível achar – até hoje!). Identificaste mal as razões da «inocência» com que me situo perante Vinoth. Esta transparece no artigo por causa de, na minha posição pastoral, me identificar com muitos crentes que não lêem blogues, nem conseguem entender estes debates mas que, em alguns aspectos, agem com mais coerência e mais coragem do que eu.

Queria defender e ajudar estes – como, segundo o que já percebi em outras publicações no teu blogue, também os queres defender e ajudar.

Na tua reacção senti-me mal compreendido! (E senti, como é óbvio, que estavas a atacar muito mais o Seminário do que a mim! Talvez precises de conhecer melhor a nossa escola!) Mas a parte que me diz respeito não é muito importante se o resultado do nosso diálogo for alguns dos nossos leitores esforçarem-se, e nós também nos esforçarmos, para sermos cristãos mais «integrais» na sociedade em que vivemos.

02 setembro 2008

O DEUS DE DAWKINS

«Não creio realmente ser arrogante, mas tenho pouca paciência para as pessoas que não partilham da mesma humildade que eu perante os factos».

Esta frase, do famoso cientista ateísta Richard Dawkins, é citada por Alistair McGrath, no seu livro «O Deus de Dawkins», publicado em inglês em 2005 e em português (Aletheia Editores) em Janeiro de 2008.
Encontrei o livro «por acaso», quando um dia estava a fazer as minhas compras no «Modelo». Quantas vezes acontece encontrarmos um livro de um pensador evangélico tão distinto e actual como McGrath, num formato atractivo, numa boa tradução, a um bom preço, num dos nossos hipermercados? (Ainda por cima normalmente faço as compras em outro hipermercado!).
A leitura do livro deixou-me fascinado! O autor, além de ser professor de Teologia Histórica em Oxford, tem formação superior em ciências. Quando, em 1977, leu «O Gene Egoísta» de Richard Dawkins, já foi desafiado a escrever uma resposta, desde um ponto de vista cristão. E, embora McGrath não se sentisse capaz de o fazer na altura, a ideia ficou, e publicou o livro em 2005!
O problema com Dawkins é que argumenta de uma forma muitas vezes brilhante as suas posições em questões científicas mas, quando se dirige à questão de Deus, usa argumentos bombásticos e simplistas (um pouco à maneira de «Porque não sou Cristão», de Bertrand Russell). McGrath examina e critica estes argumentos de uma forma brilhante e equilibrada - e acha-os em falta.
Um aspecto que vai surpreender o leitor atento de «O Deus de Dawkins» é o facto de McGrath mostrar que o darwinismo em si não leva necessariamente ao ateísmo. Darwin não era coerentemente ateísta: se veio a rejeitar o Deus do cristianismo, tomou esta atitude por causa de outros factores (como a morte de uma filha, por exemplo) e não por causa das suas posições sobre a evolução.
Um dos primeiros teólogos evangélicos a admitir a possibilidade de conciliar o processo evolutivo e os dados da Bíblia foi Benjamin Warfield - que dificilmente alguém argumentará não ter sido evangélico ou conservador:
«Se Darwin considerava o processo evolutivo como estando alicerçado nas variações do acaso, e que o destino subsequente era determinado por princípios gerais, Warfield argumentava que era absolutamente correcto olhar para o processo evolutivo como sendo guiado pela divina providência» («O Deus de Dawkins», p. 101).
E James Orr, um dos autores e fundadores de «The Fundamentals» (origem do termo «fundamentalista»!), defendeu uma posição semelhante. Ao mesmo tempo, muitos outros cristãos argumentaram que o darwinismo e a doutrina bíblica da criação eram absolutamente incompatíveis.
O autor destas linhas tem uma posição mais criacionista do que isso! Não partilho a abertura para o darwinismo de Warfield, Orr ou McGrath. Mas não os considero «liberais» por causa disso: considera que o que está em causa aqui são posições diversas que é possível sustentar, sem deixar por isso de ser considerado evangélico.
Mas a razão principal porque menciona neste blog o livro de McGrath não é por causa do debate entre o criacionismo e o evolucionismo. É por causa do debate entre o ateísmo e o teísmo – e nomeadamente o teísmo cristão. «O Deus de Dawkins» para mim é um livro magistral para quem deseje dialogar com os ateístas ou agnósticos do nosso tempo.
Por causa disso estou extremamente feliz por ter mudado de hipermercado nesse dia!

16 agosto 2008

A RESPOSTA DE VINOTH RAMACHANDRA

Com uma rapidez impressionante, veio a resposta de Vinoth, de Sri Lanka, (apesar de ele dizer que estava a preparar para uma viagem a Austrália onde iria dar conferências). Conhecia-nos de nome – e conhece o John e a Laura do GBU. Resumo uma parte da sua resposta e reproduzo os pontos centrais.

Questiona se, como pastor, eu devo aceitar a simplicidade dos crentes e deixá-los no ponto em que se encontram. Jesus não ofereceu apenas um «caminho para o céu na altura da morte» - desafiou os seus ouvintes para uma vida de discipulado em que eram chamados a viver contra os valores e expectativas dos seus contemporâneos.

Ao facto de os Evangelhos e Paulo terem sido lidos sem referência ao contexto hebraico e romano, Vinoth atribui a compreensão docetista e gnóstica da salvação que é típica dos evangélicos actuais. A primeira heresia importante que a igreja primitiva teve que enfrentar, o marcionismo, encontra-se viva e activa no nosso meio. Concordo! Precisamos, diz ele, de redescobrir a criação e o concerto no ensino do V.T. para compreender a proclamação de Jesus do reino de Deus. Em Portugal, Vinoth encontrou uma falta de conhecimento do V.T. nos estudantes, e mesmo nos obreiros, do GBU. Mostra como os reformadores e Agostinho não caíram no individualismo em que nós costumamos cair – mesmo nas leituras (selectivas!) que fazemos dos textos deles.

Nesta parte tenho pouco a dizer contra as respostas de Vinoth: creio apenas que, não me conhecendo, julga que estou mais longe da sua posição do que estou na realidade. Nunca quis, como é evidente, deixar os crentes «simples» no ponto em que se encontram! Levo meses, por exemplo, a expor 1 Samuel, capítulo por capítulo, na igreja que pastoreio. A seguir virá 2 Samuel, se Deus permitir! Já expus uma boa parte dos livros do V.T. da mesma maneira. Quando exponho a Escritura, o V.T. é lido à luz da Bíblia como um todo, e o ensino expositivo do N.T. nunca é feito divorciado do V.T. Reconheço sem hesitação a influência inconsciente de heresias, parecidas com as antigas, na leitura simplista que o evangélico típico muitas vezes faz da Bíblia.

Passo a reproduzir mais exactamente as respostas de Vinoth às minhas duas perguntas. Diz assim:

(1) «Não estou a negar nem a “justificação pela graça mediante a fé” ou a necessidade da fé pessoal em Cristo. Pensava que tinha tornado isto muito claro no artigo. O evangelho tem que ser apropriado de uma forma pessoal e exige uma transformação total das nossas lealdades, ambições, valores, etc.»

(2) «O que estou a negar é que o conteúdo da mensagem do evangelho deve ser identificado com a “justificação” ou com “a maneira de ir para o céu”. Este segundo tipo de vocabulário não existe na pregação de Jesus nem dos apóstolos; e o primeiro termo é mais bem compreendido como uma consequência do evangelho do eu como o seu conteúdo. Expandindo este ponto, é exactamente porque Jesus é Senhor – este judeu crucificado foi ressuscitado por Deus para exercer autoridade sobre toda a história, todas as nações e o cosmos – que a justificação é pela fé e não pela obediência à lei judaica. Esta é a lógica que Paulo trabalha ao longo do Livro de Romanos. O coração do evangelho encontra-se na introdução (1:3, 4) e é desenvolvido ao longo do resto da carta. E a salvação em Romanos (não só em Efésios 1 e Colossenses 1, cf. os seus comentários – isso é, os «meus»!) não é meramente individual mas cósmico (cf. 8:18 e seg., o clímax do seu argumento). Mais uma vez temos sido mal orientados devido às leituras individualistas de Romanos, ao facto de não atendermos ao contexto social e político do livro, e à maneira como Lutero e os seus herdeiros usaram o livro na polémica da Reforma e a seguir.»

(3) «Afirmo que, sempre que o nosso evangelismo pessoal ou a nossa pregação pública estão divorciados da obediência a Jesus (ou, como costuma ser o caso, a nossa obediência é selectiva e reduzida apenas à “evangelização”), não só deixamos de ter credibilidade perante os outros mas a própria natureza do evangelho, e aquilo a que chamamos as pessoas na nossa pregação, muda de uma forma subtil e profunda. Existe tanta «pregação evangélica» hoje que reforça em vez de desafiar os valores dominantes do nosso mundo – isso é a obsessão com o «eu».

Vinoth também diz que admira o meu amigo com mais de 80 anos, cujo exemplo citei, e ele e a sua esposa partilham essa preocupação com membros das suas famílias que não seguem Jesus. Mas diz que temos que deixar a questão do seu destino final nas mãos de um Deus que conhece os corações e que é infinitamente mais justo e misericordioso do que nós podemos ser. Concordo!

Termino com duas observações que espero (algum dia!) poder partilhar com o Vinoth.

(1) Aprendi da resposta que Vinoth me enviou que encara a justificação como uma consequência do Evangelho mais do que do seu conteúdo. Aparentemente, no artigo, Vinoth estava a considerar esta doutrina como uma abordagem acerca do conteúdo da mensagem – e que, como outras também citadas, tende a ter resultados negativos. Isto pareceu-me demasiado drástico (e preocupava-me a doutrina das Escrituras que isto parecia sugerir). Quando se afirma que a justificação é uma consequência e não o conteúdo, o meu problema desaparece. Mas não me parece que ele tenha dito exactamente isto no seu artigo. Gostava de saber se outros leitores fizeram a mesma leitura que eu. Vinoth é claramente uma pessoa com reacções fortes, que são o fruto de outras polémicas. Entre nós as guerras a travar talvez tenham que ser outras um pouco diferentes! Ou a linguagem um pouco mais cuidadosa!


(2) Numa altura Vinoth afirma no seu E-mail que precisamos de todo o Corpo de Cristo para expor os nossos pontos de cegueira. Mas creio que concordará comigo que não precisamos de heresias (como, por exemplo, docetismo, gnosticismo ou marcionismo) para nos ajudarem nessa tarefa! O problema com as heresias é que já se cristalizaram e se colocaram fora do âmbito do corpo de Cristo. Não me parece que o caso seja necessariamente o mesmo com leituras um tanto individualistas que são feitas do Evangelho hoje. Só temos problemas sérios se os crentes que as fazem não estão abertos para serem ensinados (se não são «ensináveis»!). Se eles são, nós também, que temos compreendido outros aspectos, o temos que ser. Também são «corpo de Cristo». Sem eles eu também não sou completo para poder perceber todas as riquezas de Cristo e da Sua palavra (Efésios 3:18).


Apelo a «todos os santos», leitores deste «blog», para darem a vossa opinião, sobre um pequeno debate à distância que para mim foi muito instrutivo!

11 agosto 2008

Um diálogo com Vinoth Ramachandra.

Não tive a oportunidade de conhecer directamente Vinoth Ramachandra quando esteve em Portugal, a convite do GBU, no ano passado. Nascido em Sri Lanka, e agora Secretário de Diálogo e Envolvimento Social na IFES da Ásia, Vinoth é um escritor e apologeta de renome.

Para lerem um artigo significativo do Vinoth, em português, sobre o tema, «O Que é a Missão Integral?», basta irem à página web do GBU.

Como parte da nossa Assembleia Geral do Canto da Rola (Associação Evangélica Cascatas), no 13 de Julho, incluímos uma troca de impressões sobre este artigo. Junto um trecho do artigo que mereceu a nossa atenção nesse dia:


«Repensando no Evangelho

Na minha experiência pastoral, se as pessoas vêm sendo expostas a uma compreensão do Evangelho a qual está estruturada primeiramente em termos individualistas (‘justificação por fé’), ou de ‘salvação’ como uma vida em um outro mundo depois da morte, basicamente (e a ‘fé’ como uma apólice de seguro que nos leva lá), é quase impossível movê-las para uma posição de onde as mesmas vejam como o seu trabalho e o seu envolvimento cultural no mundo presente têm algo a ver com o Evangelho. Na melhor das hipóteses, elas pensarão que é um chamado especial para alguns dotados dentro da igreja (talvez ‘os intelectuais’) para trabalhar em direcção às transformações social e cultural, enquanto que o ‘chamado real’ de todo mundo é o de ‘pregar o evangelho’. Se a acção social faz com que as pessoas se abram para o evangelho, então muito que bem, se não, então ela é dispensável.
Eu proponho que, basicamente, o importante no Evangelho não são as minhas necessidades e como Deus pode satisfazê-las. O importante é o mundo – o que o Deus Trino já fez, está fazendo e fará pelo mundo que criou e ama. O Evangelho anuncia a intenção de Deus e a inauguração desta intenção através da encarnação, morte e ressurreição de Jesus Cristo para renovar, recriar e reconciliar o mundo consigo mesmo.
Textos bem conhecidos, como o de Efésios 1 e o de Colossenses 1, apresentam o escopo da redenção do Evangelho como pessoas, culturas e o cosmo inteiro que abraçam. Além disso, é precisamente o porquê que o importante é o mundo que o evangelho é para o mundo. Ele anuncia o futuro do mundo. Enquanto eu sou chamado a responder pessoalmente a essa mensagem, e então receber os presentes graciosos de justificação e reconciliação de Deus, o conteúdo desta mensagem é bem maior do que a minha resposta.»




Tenho que confessar que na altura reagi fortemente contra algumas das afirmações feitas aqui. Não por não concordar com uma visão abrangente da responsabilidade cristã – fugindo às dicotomias tradicionais que se fazem entre o «social» e o «espiritual». Nesses aspectos considero-me, já há anos (desde «O Sabor do Sal», e antes!), do lado de Vinoth... embora ele argumente de uma forma muito mais aprofundada do que eu.

Reagi porque achei que aqui Vinoth estava a colocar a «justificação pela fé» dentro de uma categoria de doutrinas «individualistas», comparáveis com uma apólice de seguro. Não critica só aquilo que o cristianismo ocidental tem feito da doutrina mas, aparentemente, critica a doutrina em si. Ou sugere que há alguma outra abordagem neo-testamentária mais abrangente que de alguma forma podemos preferir à da «justificação pela fé».

Depois de termos discutido o assunto na reunião, aproveitei uma sugestão do Quim Rogério no sentido de contactar Vinoth directamente. O contacto foi por E-mail e, para a minha surpresa, a reacção foi quase imediata. Junto aqui uma tradução de uma parte da minha mensagem. Dentro de alguns dias – depois de terem podido meditar um pouco sobre o assunto (!) – irei, se Deus permitir, mandar-vos uma tradução da resposta que recebi.


«Saudações e uma apresentação nossa......

Basicamente o que senti foi que a sua reacção contra o «individualismo» o leva às vezes a reagir de uma forma exagerada contra o componente individual do evangelho cristão, para a defesa do qual pessoas como Agostinho, os reformadores, Francis Schaeffer, etc., etc., de boa vontade teriam dado as suas vidas. Concordo consigo que a essência do evangelho não é só satisfazer as nossas necessidades – especialmente aquelas necessidades das quais temos mais consciência. Mas, se falarmos em necessidades como a liberdade da condenação eterna, do poder do pecado nas nossas vidas e dos estratagemas múltiplos de Satanás de nos confundir e manter fora da comunhão com Deus, então é bastante evidente que o evangelho serve para «satisfazer as nossas necessidades» (as mencionadas e muitas mais). Somos libertos, individualmente, através da fé em Jesus e o arrependimento, e assim Deus nos justifica, perdoa, santifica e nos dá o «primeiro pagamento» do Seu Espírito. Assim tornamo-nos parte de um novo povo – uma «nova criação» - mas a porta que o evangelho nos abre só tem acesso individual.

A minha impressão foi que Vinoth é tão entusiasta sobre os conceitos paulinos, expostos em Efésios 1 e Colossenses 1 do novo povo de Deus, que dá muito pouca atenção no seu artigo a outros ensinos igualmente paulinos – como a justificação pela fé – antes considerados centrais. A minha convicção é que devemos tentar ensinar ambos: os reformadores podem ter ido demasiado longe numa sentido: com todo o respeito, temo que Vinoth pode estar a ir demasiado longe no outro. Tenho que confessar que me arrepiei quando li uma referência que parecia ser irónica a «vida em outro mundo depois da morte» e, especialmente, à fé como «uma apólice de seguro que nos leva até lá». Como pastor lido com alguns cristãos que são simples e convictos e cuja ênfase principal na vida é ensinar o evangelho para que as suas famílias e os seus amigos aceitem Cristo e para que lhes seja concedido um lugar no céu. A minha experiência não é igual à do Vinoth. Não me parece que estas pessoas estejam fechadas à vida cristã integral ou ao envolvimento cultural neste mundo: quando ensino estes aspectos respondem positivamente – mesmo que a sua ênfase principal as leve às áreas em que têm dons (como a minha também leva – numa direcção diferente – para o ensino num sentido mais integral). Trabalhamos uns ao lado dos outros num espírito genuíno de respeito e aceitação mútuos. Nunca iria rebaixar o seu trabalho dizendo que estão a vender «apólices de seguros» - ou que de alguma forma estejam fechadas à injunção de Cristo de «ensinar todas as coisas que vos mandei». E admito sem hesitar que fazem um trabalho muito melhor na evangelização pessoal do que eu alguma vez poderia fazer – é uma questão de dons espirituais.

Deixe-me dar-lhe um exemplo. Um membro da nossa igreja, que tem mais de 80 anos, foi operado recentemente, no momento crucial, para retirar a vesícula. O cirurgião disse que, se tivesse esperado mais alguns momentos, provavelmente teria morrido. A sua reacção foi uma de uma gratidão imensa a Deus – especialmente por causa da tarefa que Deus lhe tinha dado de evangelizar a sua família. Evangelizou também médicos, enfermeiras e amigos que o visitaram. A sua ênfase principal era sobre a questão de onde é que iriam passar a eternidade. Nenhum dos seus cinco filhos é crente e ele deseja ardentemente ajudá-los a conhecer Cristo (algumas pessoas dizem que ele exagera – não o acompanho no suficiente para saber se eles têm razão!). Um dia recentemente quando o visitamos estava cheio de gratidão a Deus e, com lágrimas nos olhos, apelou a três dos seus filhos presentes para aceitarem Cristo antes de ser demasiado tarde. Contou-lhes como os seus pais tinham aceite Cristo perto do fim das suas vidas – dando-lhe confiança de que iria estar com eles de novo no céu. Fez este apelo na sua presença porque não suportava a ideia de que eles pudessem ser condenados eternamente.

A nossa abordagem na evangelização é muito mais cautelosa e «diplomática»: mas estamos unidos nas nossas convicções acerca do destino eterno de crentes e de descrentes. Gostava de lhe colocar duas perguntas:

(1) Devemos animar ou desanimar pessoas que têm esta abordagem simples e apaixonada à evangelização pessoal? (Lembre-se que temos responsabilidade pastoral para pessoas com e sem preparação teológica e com níveis culturais e dons espirituais muito variados).

(2) Terei razão em detectar uma certa ironia nas suas referências à «justificação pela fé» e «apólices de seguros» (talvez fruto de controvérsias com outros cristãos com cuja ênfase não está de acordo)? Não haverá maneiras mais positivas de edificar as convicções dos nossos irmãos em Cristo, evitando a inevitável frustração que eles experimentarão se sentirem que na realidade não estamos com eles?


Saudações finais......
Alan Pallister.»

22 julho 2008

Férias na Madeira



Desde a última vez que escrevemos no blog, foi primeiro o período do fim de semestre no Seminário e, depois, um período de férias nossas. Assim está explicado o nosso longo silêncio.
Na Madeira os nossos melhores tempos foram passados só a olhar, e olhar..... Não tínhamos a ideia que a ilha era tão espectacular! Quem já foi perceberá o que estou a dizer... quem não tiver ido, aceite a nossa sugestão para umas próximas férias!
A primeira fotografia é para verem as flores da ilha - a segunda é para verem a vista de Porto Moniz, do lado de cima. Quem chega vê primeiro esta vista da vila, e das piscinas naturais, e depois desce por uma estrada com curvas!

Além deste aspecto, queria comentar algo sobre as igrejas evangélicas existentes na ilha. O nosso contacto foi com a Igreja Baptista, fundada pelo Pt. Edgar Potter e pastoreada pelo mesmo há três décadas. Já é conhecida a história de um médico escocês que, no século XIX, foi usado por Deus para a conversão de um número grande de madeirenses, para depois ser perseguido pelas autoridades e expulso da ilha. Mas, quem tem consciência do testemunho de Ed e Abbie que, nos anos '70 do século passado, começando sem qualquer crente baptista, se esforçaram contra todo o tipo de dificuldade e opressão espiritual, de maneira a terem agora uma igreja viva e entusiasta, com um ambiente tão acolhedor que dá vontade de estar em todos os cultos? Na sua igreja há crentes de língua inglesa, de língua russa (estes também dirigidos pelo Pt. Ed!) e, principalmente, de língua portuguesa. Há uma boa relação fraterna com a Assembleia de Deus, e com o Pt. Dinís Rodrígues (esta igreja tem mais alguns anos ainda do que a Baptista).

Quem tem consciência que, quando a questão do apoio financeiro ao casal Potter estava num ponto crítico - prestes a cessar - o testemunho do Pt. Ed. estava tão bem reconhecido na ilha que recebeu um convite inesperado da Embaixada Americana para ser Cônsul na ilha?

Graças à generosidade destes irmãos, nós - com o Ricardo (alguns dias) e o Andrew - pudemos ter um lugar para viver e transporte para vermos as maravilhas da ilha! Financeiramente, nunca poderíamos ter desfrutado desta oportunidade se não fosse pelo convite dos nossos irmãos.

Neste caso o nosso blog serve principalmente para agradecer a Deus - e a estes irmãos extraordinárias na fé - a oportunidade de conhecer uma ilha extraordinária e uma igreja que se dedica a anunciar, aos habitantes da ilha, quem é o verdadeiro Criador e Senhor de todas as maravilhas que eles têm à vista!

24 maio 2008

Charles Finney: Mordomia. O Poder de um Preconceito - e um Grande Sermão.

De um sermão de Charles Grandison Finney não esperava muito!


Finney, o evangelista americano, além de ser bastante antigo (do século XIX), não era conhecido como sendo extremamente arminano? A «Integrative Theology» de Lewis e Demarest, para mim uma obra de referência incontornável, chega ao ponto de dizer que Finney era quase pelagiano, negando a possibilidade de um homem herdar uma natureza pecaminosa dos seus ancestrais. Todo o que há de «calvinista» em mim reagia, dizendo que uma pessoa assim não me iria ensinar muito!


Então, quando vi que um sermão de Finney sobre a mordomia estava incluído numa colectânea chamada «Grandes Sermões do Mundo» (ed. Clarence E. McCartney, CPAD, 2003), pensei que os editores talvez não tivessem feito uma boa escolha. Pensei que talvez fosse encontrar mais uma exortação aos crentes para darem o dízimo – para subsidiarem as campanhas de evangelização da época, por exemplo. E pouco mais.....


Diz a introdução ao sermão que, numa altura, um pastor que tinha convidado Finney para pregar foi criticado porque tinha introduzido no púlpito «o notório Charles G. Finney, cujas blasfémias chocantes, sentimentos inusitados e repulsivos, e gesticulações teatrais e frenéticas, causavam horror nos que nutriam reverência pela religião ou pela decência». Mesmo na altura, então, havia muita boa gente que considerava Finney bastante fanâtico!


Não foi preciso ler muito para que todos os meus preconceitos caissem de um momento para outro. O sermão nem sequer menciona o dízimo – mas sim trata da mordomia na perspectiva de tudo o que Deus nos confiou:


«Que os homens são mordomos de Deus, é evidente pelo facto de Deus os tratar como tais, despedi-los a seu gosto e dispor as propriedades nas mãos deles, o que Ele não faria se não os considerasse meramente os Seus agentes e não os donos das propriedades».


Convida o ouvinte a pensar como é que encararia um empregado que não gastasse o seu tempo, os seus talentos e a influência que exerce ao seu serviço.


E a propriedade? O empregado, chamado a dar contas, pode dizer: «Eu não adquiri esta propriedade mediante a minha própria indústria?» Mas a resposta é que foi o dono, Deus, que lhe deu os seus talentos, os seus recursos e o seu sustento.


«Se o seu funcionário pega só num pouco do dinheiro que tu tens, o carácter dele acaba e ele é tachado de vilão. Mas os pecadores não pegam somente um dólar ou algo assim, mas tudo o que puderem o usam para si próprios».


O empregado terá que prestar contas da sua alma e da alma dos outros. Terá que prestar contas dos sentimentos que nutre e propaga. Terá que prestar contas das oportunidades que tem de fazer o bem.


«Percebes o erro da máxima de que os homens não podem cuidar ao mesmo tempo de negócios e de religião. Os negócios de um homem devem ser parte da sua religião... Todo aquele que advoga a máxima exposta acima é velhaco por confissão própria, pois ninguém pode acreditar que um empreendimento honesto buscado para a glória de Deus é incompatível com a religião. Em face disso, a objeção presume que tal indivíduo considera a sua actividade ou ilegal em si mesma, ou que ele a atende de maneira desonesta. Se isto é verdade, então ele não pode ser religioso enquanto atende os negócios».


Critica a noção habitual de instituições de caridade:

«Assim, as instituições para a promoção da religião são caridades de Deus, e não dos homens. O capital é de Deus, e é exigência dEle que seja gasto de acordo com as direcções dEle para aliviar a miséria ou promover a felicidade de nossos semelhantes. Deus, então, é o Doador, não os homens, e considerar a caridade como presente dos homens é defender que o capital pertence aos homens e não a Deus. Chamá-las instituições de caridade, no sentido em que são normalmente mencionadas, é dizer que os homens conferem um favor a Deus por eles lhe darem o dinheiro deles e o considerarem como objecto de caridade».


Desmascara a desculpa dos prósperos da sua época de que pretendem acumular para deixarem parte à igreja. («Que testamento! Deixar para Deus a metade da propriedade que é dEle próprio»). Desmascara a desculpa de que pretendem deixar dinheiro para os filhos («Então como é que ousas tomar o dinheiro de Deus e juntar para os teus filhos, enquanto o mundo está afundando para o inferno?»). Devemos tentar dar aos nossos filhos a melhor educação possível e suprir as suas verdadeiras necessidades. Se quisermos que, além disso, vivam no luxo ou no ócio, estamos a arruinar a nossa própria alma e a deles.


Aqui dou só um resumo e algumas citações – de um sermão que, para mim, era dos melhores que conhecia (Calvino também tem alguns muito bons sobre este tema – especialmente os sobre 2 Coríntios!). Tenho a impressão que a mesnagem de Finney deve ter sido difícil de ouvir. Não me admiro se alguns «bons cristãos» da sua época não tenham saído indignados da igreja – ao ouvir palavras proféticas que tinham tanto a ver com o seu dia a dia!


Mas creio que a pregação – se vai ser autêntica e usada por Deus – terá sempre estas características, confortando o coração de alguns e, ao mesmo tempo, suscitando muitos inimigos. Como aconteceu com os profetas e com Jesus!


E fiquei, também, com alguma vergonha de ter permitido que os meus preconceitos me fizessem pensar que, de um pregador como Charles Finney, não teria muito a aprender!

10 maio 2008

Quem é levado - e quem fica atrás?

Pense um momento no conhecido texto de Mateus 24:40-41 que dia que, estando dois no campo, um será levado e o outro deixado. E, estando duas moendo no moinho, será levada uma e deixada outra.


E, agora, responda a uma pergunta simples: o que é levado (v.40) e a que é levada (v.41) são os crentes ou os descrentes? Obviamente, vai dizer, que são os crentes. Se eu sugerir o contrário vai acusar-me de ser liberal, herege ou ainda pior..... Então Deus iria levar descrentes e deixar ficar crentes aqui na terra?!


Agora é altura de ler o texto novamente, no contexto. Com quê é que Jesus está a comparar esta situação de mudança repentina? É com os dias de Noé. E, de facto nesse relato, o mundo descrente que comia, bebia, casava e dava em casamento, foi todo levado pelas águas do dilúvio. Ficaram os crentes – a família de Noé na arca. Foram eles que povoaram a terra depois! Agora pense novamente na sua interpretação das palavras de Jesus!


A verdade é que o ensino de 1 Tessalonicenses 4:13 -18 sobre o arrebatamento dos crentes talvez não tenha muito a ver directamente com o ensino de Mateus 24:40-41. O célebre exegeta e pregador, John MacArthur (conservador e mesmo dispensacionalista!), diz que este texto de Mateus não é de arrebatamento mas sim de julgamento.


Vamos supor que somos dispensacionalistas. Neste caso acreditamos que o Senhor virá nos ares para arrebatar a sua igreja, haverá sete anos de tribulação. Depois Jesus virá com os crentes para instaurar o reino milenar na terra. No fim do milénio haverá o julgamento final. E o estado final seguirá – novos céus e nova terra em que moram a justiça. Assim muito resumidamente! Se somos pre-milenistas mas não dispensacionalistas, acreditamos que o arrabatamento será como se fosse uma breve saída dos súbditos para encontrar o rei e voltar com Ele, para o reino milenar que Ele estabelecerá na terra. Depois no fim haverá o julgamento final e novos céus e nova terra. Se somos amilenistas ou pós-milenistas, achamos que os novos céus e nova terra se seguirão imediatamente ao julgamento final.


Em todos estes casos, o ensino bíblico frisa a importância desta terra nos propósitos finais de Deus! De onde é que vem então a estranha ideia de que o destino final do crente é só o «céu»? A ideia de que o Seu propósito é retirar-nos de um mundo condenado para um tipo de paraíso aéreo que não tem nada a ver com a criação que Ele fez aqui? De onde vem a estranha preponderância, nas expressões de esperança de evangélicos, de referências à imortalidade da alma, com aparente desinteresse na doutrina que é preponderante na Bíblia – a doutrina da ressurreição do corpo?


Não será que a tradição cristã há séculos está presa a um platonismo subjacente de que não se consegue libertar?


Este platonismo pode levar-nos até ao ponto de ler nos textos o contrário daquilo que estão realmente a dizer – como é o caso no texto de Mateus aqui a ser considerado! A exegese aqui não foi «descoberta» por mim mas sim encontrada num livro publicado em 1984 (“The Transforming Image” de Walsh e Middleton, publicado IVP). Outros comentários consultados tendem a confirmar – ou pelo menos a não desmentir - a ideia.


Leia o texto mais uma vez, se precisar. E reflicta na afirmação da Bíblia de que Deus, após o julgamento final, desenvolverá um plano para o futuro, com um universo material purificado e transformado. Com os crentes de todos os tempos para o cuidar e cultivar, sob a Sua orientação! Talvez isto o ajude a tratar a terra e os seus recursos com mais respeito .... mesmo agora.


Digam o que acham...!



05 maio 2008

Material do André Campos, do mini-retiro do dia 19 de Abril

Espiritualidade a baixo preço…


  • Mar 11:15 Chegaram, pois, a Jerusalém. E entrando ele no templo, começou a expulsar os que ali vendiam e compravam; e derribou as mesas dos cambistas, e as cadeiras dos que vendiam pombas;


  • Mar 11:16 e não consentia que ninguém atravessasse o templo levando qualquer utensílio;

  • Mar 11:17 e ensinava, dizendo-lhes: Não está escrito: A minha casa será chamada casa de oração para todas as nações? Vós, porém, a tendes feito covil de salteadores.

  • Mar 11:18 Ora, os principais sacerdotes e os escribas ouviram isto, e procuravam um modo de o matar; pois o temiam, porque toda a multidão se maravilhava da sua doutrina.


  • Espiritualidade

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.


Dimensão da pessoa humana que traduz, segundo diversas religiões e confissões religiosas, o modo de viver característico de um crente que busca alcançar a plenitude da sua relação com o Transcendente. Cada uma das referidas religiões comporta uma dimensão específica a esta descrição geral, mas, em todos os casos, se pode dizer que a "espiritualidade" «traduz uma dimensão do homem, enquanto é visto como ser naturalmente religioso, que constitui, de modo temático ou implícito, a sua mais profunda essência e aspiração» (Ref. George Brown - "Spirituality: history and perspectives").


  • O leitor entende que o seu envolvimento no culto público deve ser cada vez mais facilitado, «rentabilizando» o tempo de maneira a poder cumprir cada vez mais obrigações religiosas em cada vez menos tempo?


  • Aprecia pregadores ou pastores «abertos» que não se queixam perante os seus lapsos e descuidos, a sua falta de pontualidade e a sua falta de reverência nos actos religiosos, tentando ser o mais «facilitadores» possível?


  • Prefere um ambiente religioso que o faça «sentir-se bem», e que atrai muitos visitantes, em comparação com um em que o pregador o «incomoda» com temas como o pecado e o arrependimento – temas estes que podem fazer com que não se sinta tão bem?


  • Acha que uma pessoa que agisse no espírito deste jovem rabí teria alguma razão para denunciar atitudes no movimento evangélico actual que denotam um espírito comercial?

  • Mal 1:1 A palavra do Senhor a Israel, por intermédio de Malaquias.

  • Mal 1:2 Eu vos tenho amado, diz o Senhor. Mas vós dizeis: Em que nos tens amado? Acaso não era Esaú irmão de Jacó? diz o Senhor; todavia amei a Jacó,

  • Mal 1:3 e aborreci a Esaú; e fiz dos seus montes uma desolação, e dei a sua herança aos chacais do deserto.

  • Mal 1:4 Ainda que Edom diga: Arruinados estamos, porém tornaremos e edificaremos as ruínas; assim diz o Senhor dos exércitos: Eles edificarão, eu, porém, demolirei; e lhes chamarão: Termo de impiedade, e povo contra quem o Senhor está irado para sempre.

  • Mal 1:5 E os vossos olhos o verão, e direis: Engrandecido é o Senhor ainda além dos termos de Israel.

  • Mal 1:6 O filho honra o pai, e o servo ao seu amo; se eu, pois, sou pai, onde está a minha honra? e se eu sou amo, onde está o temor de mim? diz o Senhor dos exércitos a vós, ó sacerdotes, que desprezais o meu nome. E vós dizeis: Em que temos nós desprezado o teu nome?

  • Mal 1:7 Ofereceis sobre o meu altar pão profano, e dizeis: Em que te havemos profanado? Nisto que pensais, que a mesa do Senhor é desprezível.

  • Mal 1:8 Pois quando ofereceis em sacrifício um animal cego, isso não é mau? E quando ofereceis o coxo ou o doente, isso não é mau? Ora apresenta-o ao teu governador; terá ele agrado em ti? ou aceitará ele a tua pessoa? diz o Senhor dos exércitos.

  • Mal 1:9 Agora, pois, suplicai o favor de Deus, para que se compadeça de nós. Com tal oferta da vossa mão, aceitará ele a vossa pessoa? diz o Senhor dos exércitos.



  • Em que medida aceita os argumentos usados a favor de certas práticas no meio cristão, que são essencialmente comerciais: «dá resultado ..... as pessoas gostam.... as igrejas que fazem assim têm um grande crescimento numérico»?

  • Mal 1:10 Oxalá que entre vós houvesse até um que fechasse as portas para que não acendesse debalde o fogo do meu altar. Eu não tenho prazer em vós, diz o Senhor dos exércitos, nem aceitarei oferta da vossa mão.

  • Mal 1:11 Mas desde o nascente do sol até o poente é grande entre as nações o meu nome; e em todo lugar se oferece ao meu nome incenso, e uma oblação pura; porque o meu nome é grande entre as nações, diz o Senhor dos exércitos.

  • Mal 1:12 Mas vós o profanais, quando dizeis: A mesa do Senhor é profana, e o seu produto, isto é, a sua comida, é desprezível.

  • Mal 1:13 Dizeis também: Eis aqui, que canseira! e o lançastes ao desprezo, diz o Senhor dos exércitos; e tendes trazido o que foi roubado, e o coxo e o doente; assim trazeis a oferta. Aceitaria eu isso de vossa mão? diz o Senhor.

  • Mal 1:14 Mas seja maldito o enganador que, tendo animal macho no seu rebanho, o vota, e sacrifica ao Senhor o que tem mácula; porque eu sou grande Rei, diz o Senhor dos exércitos, e o meu nome é temível entre as nações.

  • Malaquias é escrito já no pós-exílio (cerca de 100 anos após o retorno dos judeus à Palestina), estiveram cerca de 70 anos debaixo do domínio da Babilónia e após esse período houve uma mudança radical na cultura judaica que até aí eram uma comunidade agro-pastoril, pois froam expostos a uma cultura completamente diferente, aliás era essa mesmo a intenção do império Babilónico.

  • É aí que este livro de Malaquias é escrito e de certa forma isso é o que nos acontece hoje. Estamos expostos a uma cultura globalizada que nos esmaga muitas vezes e nos pressiona de uma maneira tremenda. A informação chega de qualquer lugar do mundo a qualquer lugar do mundo em instantes. Por isso nós estamos expostos a uma cultura global. Hoje temos a Internet, os telefones móveis, falamos para qualquer lugar do mundo a qualquer hora em instantes, enviamos ficheiros, fotografias, “quase” em qualquer lugar do mundo. A chamada experiência televisiva está a mudar o paradigma, dentro de algum tempo (muito pouco aliás) vamos ver televisão onde quisermos, os “nossos” programas, a televisão feita à medida de cada um, e a interactividade já chegou à televisão.

  • A igreja sofre também o impacto da cultura e das pressões e isto reflecte-se na vida espiritual e no comportamento religioso dos nossos dias. A igreja nos nossos dias tornou-se utilitarista, ou seja, funciona quando tem para nós uma utilidade, um fim a atingir.

  • O “Homem” dos nossos dias vive o desencanto, a nível humano, a nível profissional, a nível político, a nível relacional… parece que tudo falhou e aí começamos a viver mais no sentido prático, viver a vida da melhor maneira possível, deixamos de lutar, e vivemos o cristianismo (a vida cristã) da mesma forma. Queremos aquilo que nos dê satisfação imediata e a um custo o mais baixo possível, com menos problemas possível, menos dificuldades. Então tudo o que nos traga o melhor é bem-vindo.

  • Passamos a funcionar numa relação cliente-fornecedor. Deus é o fornecedor e nós os clientes, e hoje em dia vemos cada vez mais o povo de Deus a comportar-se como meros clientes. E qual é a lógica do cliente, o cliente procura o melhor serviço pelo menor preço, com melhor conforto, com melhor acessibilidade.

  • Para quê oferecer o melhor para Deus, se eu posso oferecer qualquer coisa. No V.7-8 do capítulo 1 de Malaquias temos exactamente esta ideia de que Deus como fornecedor dava o que precisavam e aí davam o mínimo para Deus. Perderam o sentido relacional de Deus como Pai, como Senhor.

  • As pessoas de hoje em dia também não conhecem mais o coração de Deus como Pai. Têm uma visão de Deus como utilitário, Ele é uma “força” que nos proporciona aquilo que necessitamos em troca de um culto meramente “religioso”.


07 abril 2008

19 de Abril! «Espiritualidade a Baixo Preço»

Segundo já comunicámos, o dia 19 de Abril, no «Canto da Rola» vai ser dedicado à discussão deste tema. Perturba-nos saber que o «Evangelho» que se comunica às pessoas, e ao que aderem com alguma facilidade, e um que foca as vantagens que o cliente receberá, sobretudo a curto prazo, pouco ou nada sendo dito acerca do pecado, o julgamento, o arrependimento, o senhorio de Jesus Cristo e o uso que Deus faz do sofrimento na vida do cristão. Julgamos que muitos dos nossos leitores partilham a nossa preocupação.

Os animadores do debate serão o nosso amigo André Campos, líder na Igreja Evangélica de Algés, e eu próprio, Alan Pallister, pastor e responsável no Canto da Rola.

Hora de começo: 11 horas no Canto da Rola.

Almoço em conjunto: €5.

O debate da parte da tarde será (se o tempo permitir) nas ruínas de uma capela, num lugar alto em cima da baía de São Martinho de Porto. Esperamos que as vistas magníficas não distraiam os participantes da temática a ser debatida!

Contamos terminar por volta das 18horas.

Esperamos contar consigo!